As Profecias e Revelações
de Santa Brígida da Suécia - Livro 2
A instrução do Filho para a esposa sobre o Demônio: a resposta do Filho
para a esposa sobre porque ele não remove malfeitores antes de cair em
pecado, e sobre como o reino dos céus é dado às pessoas batizadas que
morrem antes de atingir a idade do discernimento.
Livro 2 - Capítulo 1
O Filho falou à esposa, dizendo: "Quando o demônio te tenta,
dize-lhe estas três coisas: "As palavras de Deus não podem ser nada,
mas sim a verdade."Segundo" : Nada é impossível para Deus,
porque Ele pode fazer todas as coisas." Terceiro: "Você,
demônio, não poderia dar-me tão grande fervor de amor como o que Deus me
dá". Novamente o Senhor disse à esposa: Eu olho para as pessoas de
três maneiras: primeiro, o seu corpo exterior e como está por dentro;
segundo, sua consciência interior, para que direção tende e de que
maneira; terceiro, seu coração e aquilo que deseja. Como um pássaro que
vê um peixe no mar e avalia a profundidade da água e também toma nota de
ventos tempestuosos, Eu também conheço e avalio os caminhos de cada
pessoa e tomo nota do que é devido a cada um, pois sou apurado na visão e
posso avaliar a situação humana melhor do que uma pessoa que conhece a si
próprio.
Então, porque eu vejo e sei todas as coisas, tu poderias perguntar-me
porque Eu não tirava os malfeitores antes que eles caíssem nas
profundezas do pecado. Eu mesmo fiz a pergunta e Eu mesmo te responderei:
Eu sou o Criador de todas as coisas, e todas as coisas são conhecidas de
antemão por mim. Eu sei e vejo tudo o que foi, e tudo o que será. Mas,
embora eu saiba e possa fazer todas as coisas, ainda, por razões de
justiça, eu não interfiro na constituição natural do corpo mais do que na
inclinação da alma. Cada ser humano continua a existir, de acordo com a
constituição natural do corpo, como ele é e foi, desde toda a eternidade,
na minha presciência. O fato de uma pessoa ter uma vida mais longa ou
mais curta, tem a ver com a força ou fraqueza natural e está relacionado
com a constituição física da pessoa. Não é devido à minha presciência que
uma pessoa perde a visão ou outra se torna manca ou algo parecido, já que
a minha presciência de todas as coisas é tal que ninguém, para ela, é o
pior, nem é ela prejudicial a ninguém.
Além disso, estas coisas acontecem não por causa do curso e posição dos
elementos celestiais, mas devido a alguns princípios de justiça ocultos
na constituição e conservação da natureza. Por causa do pecado e da
desordem natural, vêm a deformidade do corpo de muitas maneiras. Isto não
acontece porque eu desejo isso diretamente, mas porque eu permito que
aconteça por uma questão de justiça. Mesmo que eu possa fazer todas as
coisas, eu ainda não obstruo a justiça. Assim, a extensão ou a brevidade
da vida da pessoa está relacionada com a força ou fraqueza de sua
constituição física, segundo minha presciência que ninguém pode violar.
Tu podes compreender isto por meio de uma comparação. Imagine que havia
duas estradas com uma estrada que conduz até elas. Havia um grande número
de sepulturas em ambas as estradas e cruzamentos se sobrepondo uma à
outra. O fim de uma das duas estradas caia diretamente para baixo; o fim
da outra tendia para cima. Na encruzilhada estava escrito: "Todo aquele
que percorre esta estrada começa com prazer e deleite, e o termina em
grande miséria e vergonha. Quem toma a outra estrada começa com esforço
moderado e suportável, mas chega ao fim com grande alegria e
consolação". Uma pessoa caminhando na estrada única estava
completamente cega. No entanto, quando ela chegou na encruzilhada, seus
olhos se abriram, e ela viu o que estava escrito sobre como as duas
estradas terminavam.
Enquanto ela estava estudando o aviso e pensando sobre isso, ali
apareceu, de repente, ao lado dela, dois homens aos quais foi confiada a
guarda das duas estradas. Como eles observaram o viajante na
encruzilhada, disseram um ao outro: 'Vamos observar atentamente que
estrada ele escolhe para tomar e, em seguida, ele vai pertencer a um de
nós conforme o caminho que ele escolhe. O viajante, no entanto, estava
considerando consigo mesmo as extremidades e as vantagens de cada
estrada. Ele fez a prudente decisão de selecionar a estrada cujo início
envolvia alguma dor, mas que teria alegria no final, ao invés da estrada
que começava com alegria, mas terminava com dor. Ele decidiu que era mais
razoável e suportável cansar devido um pouco de esforço no início, mas
ter segurança no final.
Tu entendes o que tudo isso significa? Vou te explicar. Essas duas
estradas são o bem e o mal dentro do alcance humano. Isso reside no poder
e livre arbítrio de uma pessoa escolher o que a ele ou ela apetece de
tomar para chegar à idade do discernimento. Uma única estrada leva até as
duas estradas da escolha entre o bem e o mal; em outras palavras, o tempo
da infância leva até a idade do discernimento. O homem andando sobre esta
primeira estrada é como um cego, pois ele é, por assim dizer, cego em sua
infância, até atingir a idade do discernimento, não sabendo distinguir entre
o bem e o mal, entre o pecado e a virtude, entre o que é ordenado, e o
que é proibido.
O homem caminhando nesta primeira estrada, ou seja, na época da infância,
é como um homem cego. No entanto, quando ele atinge a encruzilhada, ou
seja, a idade do discernimento, os olhos de seu entendimento são abertos.
Ele então, sabe como decidir se é melhor experimentar um pouco de dor,
mas alegria eterna, ou um pouco de alegria e dor eterna. Qualquer que
seja o caminho que ele escolha, ele não vai deixar de ter quem
cuidadosamente conte seus passos. Existem muitas sepulturas nessas
estradas, uma após a outra, uma contra a outra, porque, na juventude e na
velhice, uma pessoa pode morrer mais cedo, outra mais tarde; uma na
juventude, outra na terceira idade. O fim desta vida é apropriadamente
simbolizado por sepulturas: ele virá para todos, de uma forma, ou de
outra, de acordo com cada constituição natural e exatamente como Eu tenha
previsto.
Se eu levasse alguém embora, contrariando a constituição natural do organismo,
o demônio teria motivos de acusação contra mim. Consequentemente, a fim
de que o demônio não possa encontrar nada em mim que vá, no mínimo,
contra a justiça e Eu não interfiro na constituição natural do corpo mais
do que na constituição da alma. Mas considere minha bondade e
misericórdia! Assim, como diz o professor, dou virtude àqueles que não
tem nenhuma virtude. Devido ao meu grande amor, eu dou o reino dos céus a
todos os batizados que morrem antes de atingirem a idade do
discernimento. Como está escrito: É do agrado do meu Pai conceder o Reino
dos Céus a tais como estes. Devido ao meu terno amor, Eu mostro
misericórdia até mesmo às crianças dos pagãos.
Se qualquer um deles morre antes de atingir a idade do discernimento,
eles não podem me conhecer face a face, e vão para um lugar que não é
permitido que se saiba, mas onde eles viverão sem sofrimento. Aqueles que
já passaram pela estrada única, atingem aquelas duas estradas, ou seja, a
idade do discernimento entre o bem e o mal. Está então, em seu poder,
escolher o que mais lhes agrada. Sua recompensa seguirá a inclinação de
sua vontade, já que nessa época eles sabem como ler o aviso escrito no
cruzamento dizendo-lhes que é melhor suportar uma pequena dor no início e
alegria esperando por eles no final, do que obter alegria no início e dor
no final.
Algumas vezes, acontece que uma pessoa é levada mais cedo do que
normalmente permitiria sua constituição física natural, por exemplo,
através de um homicídio, embriaguez e coisas desse tipo. Isto é porque a
maldade do demônio é tal que o pecador neste caso receberia uma punição
extremamente duradoura se ele continuasse vivo por um longo período.
Portanto, algumas pessoas são levadas mais cedo do que sua condição
física natural permitiria devido à demanda de justiça e por causa de seus
pecados. Sua retirada do mundo foi prevista por mim desde a toda
eternidade, e é impossível a qualquer um opor-se à minha previsão.
Algumas vezes, boas pessoas também são levadas mais cedo do que sua
condição física natural permitiria. Por causa do grande amor que eu tenho
por elas, e por causa de seu amor ardente e seus esforços em disciplinar
o corpo pelo meu bem, a justiça algumas vezes requer que eles sejam
levados embora, como previsto por mim desde toda a eternidade. Assim, Eu
não interfiro na constituição natural do corpo mais do que na
constituição da alma.
A acusação do Filho a uma certa alma que seria condenada na presença da
esposa, e a resposta de Cristo ao demônio sobre por que permitiu a essa
alma e permite que outros malfeitores toquem e tomem ou recebam seu
próprio verdadeiro corpo.
Livro 2 - Capítulo 2
Deus apareceu irado, e disse: “Esta obra das minhas mãos, a quem destinei
grande glória, me tem em muito desprezo. Esta alma, a quem ofereci todo o
meu amoroso cuidado, me fez três coisas: Desviou seus olhos de mim e os
voltou na direção do inimigo. Ela fixou sua vontade no mundo. Pôs sua
confiança em si mesmo, porque ela era livre para pecar contra mim. Por
esta razão, como não se preocupou em ter nenhuma consideração por mim, Eu
executo minha justiça repentinamente sobre ela. Porque ela fixou sua
vontade contra mim e pôs falsa confiança em si mesmo, Eu afasto dela o
objeto de seu desejo.”
Então, um demônio gritou: “Juiz, esta alma é minha” O Juiz respondeu:
“Que razões você traz contra ela?” Ele respondeu: “Minha acusação é a sua
própria declaração de que ela lhe desprezou, seu Criador, e por isso sua
alma tornou-se minha criada. Além disso, já que ela foi repentinamente
levada, como ela poderia, repentinamente, agradar-lhe? Pois quando seu
corpo era sadio e vivia no mundo, ela não lhe serviu com sincero coração,
já que amava mais fervorosamente as coisas criadas, e nem mesmo suportou
a doença pacientemente ou refletiu sobre as suas obras como deveria. No
final, ele não esteve ardendo no fogo da caridade. Ela é minha, porque
você a levou embora repentinamente.”
O Juiz respondeu: “Um fim repentino não condena uma alma, a menos que
haja inconsistência em suas ações. Pela escolha de uma pessoa ela não é condenada
para sempre sem deliberação cautelosa.” Então a Mãe de Deus veio e disse:
“Meu Filho, se um criado preguiçoso tem um amigo que tem uma boa relação
com seu mestre, seu amigo não deveria defendê-lo? Ele não deveria ser
salvo, se pedisse por isso, pelo bem do outro?” O Juiz respondeu: “Cada
ato de justiça deve ser acompanhado pela misericórdia e sabedoria –
misericórdia para diminuir a severidade, sabedoria para garantir que a
equidade seja mantida. Mas, se a transgressão for de tal tipo que não merece
perdão, a sentença pode, ainda, ser mitigada em consideração da amizade
sem infringir a justiça.” Então a Mãe disse: “Meu abençoado Filho, esta
alma pensava em mim constantemente, e me mostrou reverencia, e varias
vezes celebrava a grande solenidade em minha consideração, mesmo que
fosse fria em relação a ti. Então, tenha piedade dela!”
O Filho respondeu: “Abençoada Mãe, tu conheces e vê todas as coisas em
mim. Mesmo que esta alma a tivesse em sua mente, ela fazia isso mais em
atenção à felicidade temporal do que à espiritual. Não tratou meu
puríssimo corpo como deveria. Sua boca suja a afastou de desfrutar minha
caridade. O amor mundano e a dissolução encobriram o sofrimento que tive
para com ela. Sua morte foi acelerada quando considerou meu perdão como
certo e quando não pensou em seu fim. Embora tenha me recebido
continuamente, isto não a fez melhorar, pois ela não se preparou de forma
adequada. Uma pessoa que deseja receber seu nobre Senhor e hóspede não
deve apenas preparar o quarto, como também os utensílios. Este homem não
fez assim, já que, embora tenha limpado a casa, não a varreu com cuidado
reverente. Ele não espalhou pelo chão as flores de suas virtudes ou
preencheu os utensílios de seus membros com abstinência. Então, tu vês
muito bem que o que precisa ser feito para ele é o que ele merece”.
“Embora Eu possa ser invulnerável e além da compreensão possa estar em
todos os lugares devido a minha divindade, minha alegria está naquele que
é puro, mesmo se Eu, da mesma forma, entrar no bom e no condenado. O bom
recebe meu corpo, que foi crucificado e subiu ao céu, e que foi
prefigurado pelo maná e pela farinha da viúva. O mau também o faz, mas,
enquanto para o bom isso leva a maior força e consolação, para o mau isso
leva a uma condenação ainda mais justa, na medida em que ele, em sua
indignidade, não tem medo de se aproximar de tão digno sacramento”.
O demônio respondeu: “Se ele se aproximou de ti indignamente e sua
sentença foi mais severa por causa disso, por que permitiste que ele se
aproximasse e te tocasse apesar de sua indignidade?” O Juiz respondeu:
“Você não está perguntando isto com amor, já que não o tem, mas o meu
poder o obriga a perguntar por causa de minha esposa que está escutando.
Da mesma forma que, tanto o bom quanto o mau, tocam minha natureza humana
para provar a realidade da mesma, assim, com minha paciente humildade,
também o bom e o mau comem o meu corpo no altar – o bom para sua maior
perfeição, o mau para que não possa acreditar que já esteja condenado e
assim, tendo recebido meu corpo, ele possa ser convertido, desde que
decida corrigir sua intenção. Que maior amor posso mostrar-lhes do que
aquele em que Eu, o mais puro, entro até mesmo nos mais impuros vasos
(posto que, assim como o raio do sol, não posso ser sujo)? Você e seus
companheiros desprezam este amor, pois vocês se endureceram contra o
amor”.
Então, a Mãe falou novamente: “Meu bom Filho, toda vez que ele se
aproximou de ti ele te foi reverente, embora não como deveria ter sido.
Ele também se arrepende de ter-te ofendido, embora não perfeitamente. Meu
Filho, em minha intenção, considere isto em seu favor”. O Filho
respondeu: “Como disse o profeta, Eu sou o verdadeiro sol, embora eu seja
muito melhor que o sol. O raio do sol não penetra montanhas ou mentes,
mas eu posso fazer ambos.
Uma montanha pode ficar no caminho do raio do sol e assim a luz do sol
não alcançar a terra próxima, mas o que pode bloquear meu caminho exceto
o pecado que impede esta alma de ser atingida por meu amor? Mesmo se uma
parte da montanha for removida, a terra próxima ainda não receberia o
calor do sol. E se eu entrasse em parte de uma mente pura, que consolo
seria para mim se Eu pudesse sentir o mau cheiro vindo de outra parte?
Portanto, uma pessoa deve livrar-se de tudo o que é sujo e então desta
limpeza, resultará doce alegria”. Sua Mãe respondeu: “Seja feita sua
vontade, com toda misericórdia!
EXPLICAÇÃO
Este foi um sacerdote que frequentemente recebia avisos relacionados a
seu comportamento incontinente e não quis escutar a razão. Um dia, quando
ele saiu ao campo para cuidar de seu cavalo, veio um trovão e um raio que
o atingiu o matou. Seu corpo ficou ileso exceto por suas partes íntimas,
que puderam ser vistas completamente queimadas. Então o Espírito de Deus
disse: “Filha, aqueles que se envolvem em tais desprezíveis prazeres
merecem sofrer em suas almas o que este homem sofreu em seu corpo”.
Palavras de espanto da Mãe de Deus à esposa, e sobre cinco casas no mundo
cujos habitantes representam cinco estados de pessoas, chamados cristãos
infiéis, judeus obstinados, pagãos em separado, judeus e pagãos juntos, e
os amigos de Deus. Este capítulo contém muitas observações úteis.
Livro 2 - Capítulo 3
Maria disse: “É um terrível fato que o Senhor de todas as coisas e o Rei
da glória, seja desprezado". Ele foi como um peregrino na terra,
vagando de um lugar para outro, batendo em muitas portas, como um
viajante buscando boas-vindas. O mundo era como uma propriedade com cinco
casas. Quando meu Filho apareceu vestido como um peregrino na primeira
casa, ele bateu na porta e disse: ‘Amigo, abra a porta e deixe-me entrar
para descansar e ficar contigo, para que os animais selvagens não me
façam mal, para que as tempestades e chuvas não caiam sobre mim! Dê-me
algumas de tuas roupas para aquecer-me do frio, para cobrir-me de minha
nudez! Dê-me um pouco de tua comida para aliviar-me em minha fome e algo
para beber e reavivar-me. Receberás uma recompensa de teu Deus!’
A pessoa do lado de dentro respondeu: ‘Estás muito impaciente, por isso
não podes viver conosco em paz. És muito alto. Por este motivo não
podemos vestir-te. És insaciável e guloso, e assim não podemos
satisfazer-te pois não há fim para o teu insaciável apetite’. Cristo
peregrino respondeu do lado de fora: ‘Amigo, deixe-me entrar alegre e
voluntariamente. Não preciso de muito espaço. Dê-me algumas de tuas
roupas, já que em tua casa não há roupas tão pequenas que não possam
oferecer-me no mínimo algum aquecimento! Dê-me um pouco de tua comida, já
que mesmo um pequeno bocado pode me satisfazer e uma mera gota de água me
refrescará e fortalecerá’. A pessoa do lado de dentro respondeu: ‘Nós te
conhecemos muito bem. És humilde em teu discurso, mas inoportuno em teus
pedidos. Pareces facilmente satisfeito mas de fato és insaciável quando
vens como já estando satisfeito. Estás com muito frio e é difícil
vestir-te. Vá embora, não te receberei!’
Então, ele se dirigiu à segunda casa e disse: ‘Amigo, abra a porta e olhe
para mim! Eu te darei o que precisas. Eu te defenderei de teus inimigos.’
A pessoa do lado de dentro respondeu: ‘Meus olhos são frágeis. Ficariam
machucados se olhasse para ti. Estou satisfeito de todas as coisas e não
necessito nada de ti. Sou forte e poderoso. Quem pode me prejudicar?’
Chegando, então, na terceira casa, ele disse: ‘Amigo, preste atenção e me
escute! Estenda tuas mãos e me tome! Abra tua boca e me prove!’
O morador da casa respondeu: ‘Grite mais alto para que possa escutar-te
melhor! Se fores bondoso, eu aproximar-te-ei de mim. Se fores agradável,
deixarei que entres.’ Então, ele dirigiu-se à quarta casa cuja porta
estava entreaberta. Ele disse: ‘Amigo, se considerasses que teu tempo foi
gasto desnecessariamente, me deixarias entrar. Se entendesses e
escutasses o que eu fiz por ti, terias compaixão de mim. Se percebesses o
quanto tens me ofendido, irias suspirar e implorar por perdão.’ O homem
respondeu: ‘Estamos quase morrendo de tanto esperar e ansiar por tua
presença. Tenha compaixão de nossa desgraça e estaremos mais prontos para
nos entregarmos a ti. Veja a nossa miséria e observe a angústia de nossos
corpos, e estaremos prontos para cada um de teus desejos’. Então, ele foi
até à quinta casa, que estava completamente aberta. Ele disse: ‘Amigo, eu
entraria aqui com prazer, mas procuro um lugar para descansar mais macio
do que o de um edredom, um calor maior do que o dado pela lã, uma comida
mais fresca do que a que a carne animal pode oferecer.
Os que estavam do lado de dentro responderam: 'Temos martelos junto a
nossos pés. Podemos usá-los com prazer para golpear nossos pés e pernas,
e oferecer-te a essência que escorra deles para ser teu local de
descanso. Podemos abrir nosso interior e nossas entranhas para ti. Entre
imediatamente! Não há nada mais macio que nossa essência para descansares
e nada melhor que nossas entranhas para aquecer-te. Nosso coração é mais
fresco do que a carne de animais. Ficaríamos felizes em cortar nossa
carne para tua comida. Apenas entre! Pois és doce para provar e
maravilhoso para alegrar!’ Os moradores dessas cinco casas representam
cinco diferentes tipos de pessoas no mundo. Os primeiros são cristãos
infiéis que chamam de injustas as sentenças de meu Filho, de falsas as
suas promessas e de intoleráveis as suas ordens.
Essas são aquelas que, em seus pensamentos, em suas mentes e suas
blasfêmias dizem aos pregadores do meu Filho: ‘Ele pode ser
todo-poderoso, mas está longe e não pode ser alcançado. Ele é alto e
largo e não pode ser vestido. É insaciável e não pode ser alimentado. É
muito impaciente e não há como lidar com ele’. Eles dizem que ele está
longe porque são fracos em boas ações e caridade e não tentam se elevar à
sua bondade. Dizem que ele é largo, pois sua própria avareza não conhece
limite: estão sempre fingindo não ter ou necessitar de algo e sempre
imaginando problemas antes de aparecerem. Eles também o chamam de
insaciável, porque o céu e a terra não são suficientes para ele, mas ele
exige ainda maiores dádivas da humanidade.
Eles pensam que é uma tolice desistir de tudo pela salvação da alma
conforme os preceitos, e prejudicial dar menos ao corpo. Dizem que ele é
impaciente, pois odeia vícios e lhes envia coisas contra sua vontade.
Acham que nada é bom e útil, exceto o que o prazer do corpo lhes sugere.
È claro que Meu Filho é de fato todo-poderoso no Céu e na Terra, o
Criador de todas as coisas e não criado por ninguém, que existia antes de
todas as coisas, depois do qual ninguém mais virá. Ele é, de fato, o mais
distante, o maior e mais alto, está dentro, fora e acima de todas as
coisas.
Embora Ele seja tão poderoso, ainda em seu amor Ele quer ser vestido com
a ajuda humana – ele que não necessita de roupas, que veste todas as
coisas e está vestido eterna e invariavelmente em honra e glória
perpétuas. Ele, que é o pão dos anjos e dos homens, que alimenta a todas
as coisas e ele mesmo não necessita nada, quer ser alimentado com amor
humano. Ele que é o restaurador e autor da paz, pede paz aos homens.
Assim, quem quiser recebê-lo com boa vontade, pode saciá-lo até com um
pedaço de pão, desde que a intenção seja boa. Ele pode vesti-lo com
apenas um fiapo, desde que seu amor esteja inflamado. Uma única gota pode
aliviar sua sede, desde que a pessoa tenha reta disposição.
Desde que a devoção de uma pessoa seja fervente e leal, ele é capaz de
receber meu Filho em seu coração e falar com Ele. Deus é espírito e, por
isso, ele quis transformar criaturas de carne em seres espirituais; seres
efêmeros em eternos. Ele pensa que tudo o que acontece com os membros do
seu corpo também acontece com ele mesmo. Ele leva em conta não somente o
trabalho ou habilidades de uma pessoa, mas também o fervor de sua vontade
e a intenção com a qual o trabalho foi feito. Na verdade, quanto mais meu
Filho clama a essas pessoas por revelações ocultas, e quanto mais ele os
adverte através de seus pregadores, mais elas endurecem sua vontade
contra Ele.
Elas não o escutam nem lhe abrem a porta da sua vontade ou o recebem com
atos de caridade. Assim, quando sua hora chegar, a falsidade em que
confiam será aniquilada, a verdade será exaltada e a glória de Deus será
manifesta. Os segundos são judeus obstinados. Essas pessoas veem a si
mesmas como sendo razoáveis e consideram a justiça legal como sabedoria.
Defendem suas próprias ações e as consideram como mais honrosas do que as
dos outros. Se ouvem falar das coisas que meu Filho fez, eles as
desprezam. Se ouvem as suas palavras e mandamentos, eles reagem com
desdém.
Pior ainda, eles se considerariam pecadores e sujos se ouvissem ou
refletissem sobre qualquer coisa que têm que fazer com meu Filho e ainda
mais desprezíveis e miseráveis se imitassem suas ações. Mas, enquanto os
ventos da fortuna mundana ainda sopram sobre eles, acreditam que são os
mais cheios de sorte. Enquanto suas forças físicas estão saudáveis,
acreditam que são os mais fortes. Por esse motivo, suas esperanças
terminarão em nada e suas honras se tornarão vergonha.
Os terceiros são os pagãos. Alguns deles exclamam em zombaria todos os
dias: ‘Quem é este Cristo? Se ele é benevolente em dar bons presentes,
devemos recebê-lo com alegria. Se é gentil em perdoar os pecados, devemos
honrá-lo com mais alegria ainda’. Mas essas pessoas fecharam os olhos de
suas mentes a ponto de não perceberem a justiça e misericórdia de Deus.
Eles tapam seus ouvidos e não escutam o que meu Filho fez por eles e por
todos. Fecham suas bocas e não questionam sobre como será seu futuro e o
que estará a seu favor. Cruzam seus braços e recusam fazer um esforço em
procurar um caminho pelo qual possam escapar das mentiras e encontrar a
verdade. Portanto, já que não querem entender ou tomar precauções, embora
possam e tenham tempo para isso, eles e suas casas cairão e serão
envolvidos pela tempestade.
Os quartos são os judeus e pagãos que gostariam de ser cristãos, se
soubessem como e em que caminho contentar meu Filho e se recebessem
ajuda. Eles escutam das pessoas de regiões vizinhas todos os dias, e
conhecem os apelos por amor vindos de si mesmos, assim como outros sinais
como quanto meu Filho fez e sofreu por cada um. É por isso que clamam a
ele em suas consciências e dizem:
‘Ó Senhor, ouvimos dizer que tu prometeste te entregar a nós. Assim,
estamos esperando por ti. Venha e cumpra tua promessa! Nós vemos e
entendemos que não há poder divino naqueles que são idolatrados como
deuses, não há amor pelas almas, não há valorização da castidade. Vemos
neles apenas motivos carnais, um amor pelas honras do mundo presente.
Sabemos pela Lei e ouvimos falar sobre as grandes obras que tu realizaste
em misericórdia e justiça. Ouvimos pelas declarações de teus profetas, que
estavam esperando por ti, a quem eles haviam previsto. Então vem, bondoso
Senhor! Queremos nos entregar a ti, pois entendemos que em ti existe amor
pelas almas, o uso correto de todas as coisas, pureza perfeita e vida
eterna. Vem sem demora e nos ilumine, pois estamos quase morrendo de
tanto esperar!’ É assim que eles clamam a meu Filho. Isto explica porque
suas portas estão entreabertas, porque sua intenção é completa com
respeito ao bem, mas ainda não atenderam ao cumprimento. Essas são
pessoas que merecem ter a graça e consolo de meu Filho.
Na quinta casa estão os amigos meus e de meu Filho. A porta de suas
mentes está completamente aberta para meu Filho. Eles estão contentes ao
ouvi-lo chamar. Eles não apenas abrem a porta quando Ele bate, mas correm
alegremente para recebê-lo quando ele entra. Com os martelos dos
preceitos divinos, eles destroem tudo o que há de distorcido neles
mesmos. Preparam um local de descanso para meu Filho, não entre plumas de
aves, mas entre a harmonia das virtudes e da contenção da afeição ao mal,
a maior essência de todas as virtudes. Oferecem ao meu Filho um tipo de
calor que não vem da lã, mas de um amor tão ardente, tanto que eles não
somente lhe dão seus pertences, mas também a si mesmos. Eles também lhe
preparam comida mais fresca do que qualquer carne: são seus corações
perfeitos que não desejam ou amam nada a não ser seu Deus.
O Senhor dos Céus habita em seus corações, e Deus que nutre todas as
coisas é docemente nutrido por sua caridade. Eles mantêm seus olhos continuamente
na porta, para evitar que o inimigo entre, mantêm seus ouvidos voltados
em direção ao Senhor, e suas mãos prontas para lutar contra o inimigo.
Imite-os minha filha, o quanto puder, pois suas fundações são construídas
em pedra sólida. As outras casas têm suas fundações na lama, e é por isso
que se abalarão quando o vento vier”.
As palavras da Mãe de Deus a seu Filho em defesa de sua esposa; sobre
como Cristo é comparado a Salomão, e sobre a sentença severa contra
falsos Cristãos.
Livro 2 - Capítulo 4
A Mãe de Deus falou a seu Filho, dizendo: “Meu Filho, veja como sua
esposa está chorando, porque tu tens poucos amigos e muitos inimigos”. O
Filho respondeu: “Está escrito que os filhos do reino serão expulsos e
não herdarão o reino. Também está escrito que uma rainha veio de longe
para ver as riquezas de Salomão e ouvir sua sabedoria. Quando ela viu
tudo, ficou sem fôlego de puro espanto. As pessoas de seu reino,
entretanto, não prestaram atenção à sua sabedoria nem admiraram suas
riquezas. Eu sou prefigurado por Salomão, embora eu seja muito mais rico
e sábio do que Salomão foi, visto que toda a sabedoria vem de mim e
qualquer um que é sábio obtém sua sabedoria de mim. Minhas riquezas são
vida eterna e glória indescritível. Prometi e ofereci estes bens aos
cristãos como a meus próprios filhos, para que eles as possuíssem para
sempre, se eles me imitassem e acreditassem nas minhas palavras. Mas eles
não prestaram atenção na minha sabedoria.
Eles consideram meus feitos e promessas com desprezo e minhas riquezas
como sem valor. O que devo fazer com eles, então? Certamente, se os
filhos não querem suas heranças, então estranhos, isto é, pagãos, a
receberão. Como aquela rainha estrangeira, a quem tomei para representar
as almas fiéis, eles virão e admirarão a riqueza de minha glória e
caridade, tanto que eles deixarão seu espírito de infidelidade e se
preencherão com meu Espírito. O que, então, devo fazer com os filhos do
reino? Eu lidarei com eles da maneira que um habilidoso oleiro, quando
observa que o primeiro objeto que ele fez do barro não é nem bonito nem
útil, joga-o no chão e o esmaga. Eu lidarei com os cristãos da mesma
forma. Embora devam pertencer-me, já que os formei à minha imagem e os
redimi com meu sangue, eles se tornaram lamentavelmente deformados. Dessa
maneira, serão pisoteados como terra e jogados no inferno”.
As palavras do Senhor na presença da esposa a respeito de sua própria
majestade e uma maravilhosa parábola comparando Cristo a Davi, enquanto
judeus, maus cristãos e pagãos são comparados aos três filhos de Davi, e
sobre como a Igreja subsiste nos sete sacramentos.
Livro 2 - Capítulo 5
Eu sou Deus, não sou feito de pedra ou madeira, nem criado por outro que
não seja o Criador do universo, permanecendo sem começo ou fim. Sou
aquele que entrou na Virgem e esteve com a Virgem sem perder minha
divindade. Através de minha natureza humana estive na Virgem ainda
retendo minha divina natureza, e Eu sou a mesma pessoa que, através de
minha natureza divina, continuou a reinar sobre o Céu e a Terra junto com
Pai e o Espírito Santo. Através de meu Espírito, Eu incendiei a Virgem,
não no sentido de que o Espírito que a incendiou tivesse sido algo
separado de mim, mas o Espírito que a incendiou foi o mesmo que estava no
Pai e em mim, o Filho, assim como o Pai e o Filho estavam nele, os três
sendo um só Deus, não três Deuses.
Eu sou como o Rei Davi que teve três filhos. Um deles se chamava Absalão,
que queria a vida de seu pai. O segundo, Adonias, buscou o reino de seu
pai. O terceiro filho, Salomão, obteve seu reino. O primeiro filho
designa os judeus. São as pessoas que buscaram minha vida e morte e
desprezaram meu conselho. Consequentemente, agora que seu castigo é
conhecido, posso dizer o mesmo que Davi disse quando da morte de seu filho:
“Meu filho, Absalão!” ou seja, Ó meus filhos judeus, onde está sua ânsia
e expectativa agora? Ó meus filhos, qual será seu fim agora? Senti
compaixão por vocês, pois ansiaram por minha chegada – por mim, aquele
que vocês souberam por muitos sinais que chegaria – e porque vocês
ansiaram pela glória que se esvai rapidamente, a qual já se esvaiu toda.
Mas agora eu sinto uma compaixão maior por vocês, como Davi repetindo
essas primeiras palavras várias vezes, porque eu vejo que terminarão em
uma morte desprezível.
Assim, novamente como Davi, digo com todo o meu amor: “Meu filho, quem me
deixará morrer em seu lugar?” Davi bem sabia que não podia trazer de
volta seu filho morto através de sua própria morte, mas, a fim de
demonstrar seu profundo afeto paterno e a saudade ansiosa de sua vontade,
mesmo sabendo que era impossível, estava preparado para morrer no lugar
de seu filho. Da mesma maneira, eu agora digo: Ó meus filhos judeus,
embora tenham má-vontade comigo e tenham feito o que puderam contra mim, se
isso fosse possível e se meu Pai permitisse, eu de boa vontade morreria
mais uma vez por vocês, pois tenho pena da miséria que causaram a si
mesmos como exigido pela justiça. Eu lhes disse o que tinha de ser feito
por minhas palavras e lhes mostrei por meu exemplo. Coloquei-me a frente
de vocês como uma galinha lhes protegendo com asas de amor, mas vocês
rejeitaram isso tudo. Portanto, todas as coisas que vocês esperavam lhes
escaparam. Seu fim é a miséria e todo o seu trabalho foi desperdiçado.
Maus cristãos são denotados pelo segundo filho de Davi que pecou contra
seu pai em sua velhice. Ele raciocinou da seguinte forma: “Meu pai é um
velho e com força enfraquecida. Se digo algo errado a ele, ele não
responde. Se faço contra ele qualquer coisa, ele não se vinga. Se o
ataco, ele suporta pacientemente. Portanto, farei o que eu quiser”. Com
alguns criados de seu pai Davi, seguiu até um bosque com poucas árvores
para brincar de ser rei. Porém, quando o conhecimento e intenção de seu
pai ficaram evidentes, ele mudou seu plano e aqueles que estavam com ele
caíram em descrédito.
Isto é o que os cristãos estão fazendo para mim agora. Eles pensam
consigo mesmos: “Os sinais e decisões de Deus não são mais manifestos
agora como foram antes. Podemos dizer o que desejamos, já que ele é
misericordioso e não presta atenção. Deixe-nos fazer o que nos agrada, já
que ele permite facilmente”. Eles não têm fé no meu poder, como se Eu
fosse mais fraco agora em realizar minha vontade do que antes.
Eles imaginam que meu amor é menor, como se não estivesse mais desejando
que haja misericórdia deles como foi com seus pais. Também pensam que meu
julgamento é algo de que se possa rir e minha justiça sem sentido. Assim,
eles também vão até um bosque com criados de Davi para brincar de ser
reis com presunção. O que esse bosque com poucas árvores simboliza, se
não a Santa Igreja que sobrevive através dos sete sacramentos como se
fosse através de poucas árvores? Eles entram na Igreja com alguns dos
criados de Davi, ou seja, com algumas boas obras, para ganhar o Reino de
Deus com presunção.
Realizam um número modesto de boas obras, confiantes de que por meio
delas, não importa em que estado de pecados estão ou que pecados tenham
cometido, ainda podem ganhar o reino dos céus como pelo direito
hereditário. O filho de Davi quis obter o reino contra a vontade de seu
pai, mas foi banido em desgraça, na medida em que ambos, ele e sua
ambição, eram injustos, e o reino foi dado a um homem melhor e mais
sábio. Da mesma forma, essas pessoas também serão banidas de meu reino.
Ele será oferecido àqueles que fazem a vontade de Davi, já que apenas uma
pessoa que tem caridade pode obter meu Reino. Somente uma pessoa que é
pura e conduzida pelo meu coração pode aproximar-se de mim, que sou o
mais puro de todos.
Salomão foi o terceiro filho de Davi. Ele representa os pagãos. Quando
Batseba ouviu que alguém que não era Salomão - a quem Davi havia
prometido ser rei depois dele - havia sido eleito por certas pessoas, ela
dirigiu-se a Davi e disse: “Meu senhor, você jurou para mim que Salomão
seria rei depois de ti. Agora, entretanto, outra pessoa foi eleita.
Se este é o caso e vai nessa direção, eu terminarei sentenciada ao fogo
como uma adúltera e meu filho será considerado ilegítimo”. Quando Davi
ouviu isso, levantou-se e disse: “Eu juro por Deus que Salomão sentará em
meu trono e me sucederá como rei”. Ele então ordenou que seus criados
pusessem Salomão no trono e que proclamassem rei o homem escolhido por
Davi. Eles executaram as ordens de seu senhor e elevaram Salomão ao poder
máximo, e todos aqueles que haviam dado voto a seu irmão foram dispersos
e reduzidos à servidão. Batseba, que teria sido considerada uma adúltera
se outro rei fosse eleito, representa nada mais que a fé dos pagãos.
Nenhum tipo de adultério é pior do que se vender à prostituição longe de
Deus e da verdadeira fé, acreditando em um deus diferente do Criador do
universo. Assim como Batseba fez , alguns pagãos vêm a mim com corações
humildes e arrependidos, dizendo: “Senhor, tu prometeste que no futuro
seríamos cristãos. Cumpra tua promessa! Se outro rei, se outra fé
diferente da tua predominar sobre nós, se te afastares de nós,
queimaremos em dor e morreremos como adúlteras que tomaram um adultero no
lugar de um marido legal. Além disso, embora vivas para sempre, no
entanto, morrerás para nós e nós para ti no sentido de que tu removerás
tua graça de nossos corações e nós nos poremos contra ti devido à nossa
falta de fé. Assim, cumpra tua promessa, fortaleça nossa fraqueza e ilumine
nossa escuridão! Se tu demorares, se te afastares de nós, pereceremos”.
Depois de ouvir isso, eu me levantarei como Davi através de minha graça e
misericórdia.
Eu juro por minha natureza divina, que está junto à minha humanidade, e
por minha natureza humana, que está no meu Espírito, e por meu Espírito,
que está em minha natureza divina e humana, esses três sendo não três
deuses mas um só Deus, que cumprirei minha promessa. Enviarei meus amigos
para trazer meu filho Salomão, isto é, os pagãos, para dentro do bosque,
isto é, para a Igreja, que subsiste através dos sete sacramentos, como
através de sete árvores (nomeadas batismo, penitência, confirmação,
sacramento do altar, do sacerdócio, matrimônio e extrema-unção). Eles
terão seu repouso sobre meu trono, isto é, na verdadeira fé da Santa
Igreja.
Além disso, os maus cristãos se tornarão seus criados. Os primeiros
encontrarão sua alegria em uma herança eterna e no doce alimento que lhes
prepararei. Os últimos, entretanto, gemerão na miséria que começará para
eles no presente e durará para sempre. E assim, já que ainda é tempo de
vigilância, que meus aliados não durmam, que não se cansem, pois uma
recompensa gloriosa os espera por seus trabalhos!”
As palavras do Senhor na presença da esposa em relação a um rei que se
encontra em um campo de batalha com amigos à sua direita e inimigos à sua
esquerda; sobre como o rei representa Cristo, com os cristãos à direita e
pagãos à esquerda, e sobre como os cristãos são rejeitados e ele envia
seus pregadores aos pagãos.
Livro 2 - Capítulo 6
O Filho disse: “Sou como um rei que se encontra em um campo de batalha
com amigos à direita e inimigos à esquerda. A voz de alguém gritando veio
àqueles se encontravam à direita onde todos estavam bem armados. Seus
capacetes estavam presos e seus rostos virados para o seu senhor. A voz
gritou para eles: ‘Voltem-se para mim e confiem em mim! Eu tenho ouro
para dar-lhes.’ Quando eles ouviram isso, voltaram-se em direção a ele. A
voz falou uma segunda vez àqueles que se viraram: ‘Se quiserem ver o
ouro, desprendam seus capacetes, e se quiserem pegá-los, eu os prenderei
novamente como eu quero’. Quando eles consentiram, ele prendeu os
capacetes de trás para frente. O resultado foi que a parte frontal dos
capacetes com as aberturas para enxergar estavam na parte de trás de suas
cabeças, enquanto a parte de trás cobriu seus olhos de forma que não
podiam ver. Gritando, ele os conduziu como a homens cegos.
Quando isto aconteceu, alguns dos amigos do rei relataram a seu senhor
que seus inimigos haviam enganado seus homens. Ele disse aos aliados: ‘Vá
junto deles e grite: Desprendam seus capacetes e vejam como foram
enganados! Voltem-se para mim e os receberei em paz!’ Eles não quiseram
ouvir, e consideraram isto com zombaria. Os criados ouviram isso e
relataram a seu senhor. Ele disse: ‘Bem, então, já que eles me
desprezaram, aproximem-se rapidamente na direção dos que estão à esquerda
e digam a eles essas três coisas: O caminho que lhes conduz à vida foi
preparado para vocês. O portão está aberto. E o senhor mesmo quer vir
encontrá-los. Acreditem, entretanto, firmemente que o caminho foi
preparado! Tenham uma esperança decidida de que o portão está aberto e de
que suas palavras são verdadeiras!’ Ide encontrar o senhor com amor, e
ele lhes acolherá com amor e paz; e os conduzirá à paz duradoura. Quando
eles ouviram as palavras do mensageiro, acreditaram nelas e foram
recebidos em paz.
Eu sou este rei. Eu tive cristãos à minha direita, já que preparei uma
recompensa eterna para eles. Seus capacetes estiveram presos e suas faces
voltadas para mim enquanto eles todos tiveram a intenção de fazer a minha
vontade, obedecer meus mandamentos e enquanto seus desejos miraram os
céus. Aos poucos, a voz do demônio, isto é, o orgulho, soou no mundo e lhes
mostrou as riquezas mundanas e o prazer carnal. Voltaram-se para isso,
entregaram seus consentimentos e desejos ao orgulho. Por causa do
orgulho, eles tiraram seus capacetes ao por em ação seus desejos e
preferiram bens temporais aos espirituais. Agora que eles deixaram de
lado os capacetes da vontade de Deus e as armas da virtude, o orgulho
tomou posse deles e os amarrou de tal forma que eles só conseguem ser
felizes quando pecam até o fim e ficariam contentes em viver para sempre,
contanto que pudessem pecar para sempre.
O orgulho os cegou de tal forma que as aberturas dos capacetes através
das quais pudessem enxergar estão na parte de trás da cabeça e na frente
delas tem escuridão. O que essas aberturas nos capacetes representam se
não a consideração do futuro e a circunspeção da realidade do presente?
Através da primeira abertura, eles poderiam enxergar o deleite das
recompensas futuras e os horrores das punições, assim como a terrível
sentença de Deus. Através da segunda abertura, eles poderiam enxergar os
mandamentos e proibições de Deus, e também o quanto transgrediram esses
preceitos e como poderiam melhorar. Mas essas aberturas estão atrás da
cabeça onde nada pode ser visto, o que significa que não foi feita a
consideração das realidades celestes.
O amor deles por Deus tornou-se frio, enquanto o amor pelo mundo é
considerado com deleite e abraçado de tal forma que os conduz para
qualquer lugar que desejem, como uma roda bem lubrificada. Entretanto, ao
me verem desonrado, almas caindo e o demônio assumindo o controle, meus
amigos clamam diariamente por mim em suas orações por eles. Suas orações
alcançaram o Céu e chegaram até meus ouvidos. Movido por suas orações,
tenho enviado diariamente meus pregadores a essas pessoas, lhes mostrado
sinais e aumentado minhas graças a eles. Porém, em seu desprezo a tudo
isso, eles acumulam pecado sobre pecado.
Dessa forma, devo dizer agora a meus criados e devo colocar minhas
palavras enfaticamente: “Meus criados, dirijam-se ao lado esquerdo, isto
é, aos pagãos, e digam: ‘O Senhor dos Céus e Criador do universo tem o
seguinte para vos dizer: O caminho dos Céus está aberto a vós. Tenham
vontade de entrar nele com uma fé firme! O portão dos Céus está aberto a
vós. Tenham firme esperança e entrarão nele! O Rei dos Céus e Senhor dos
Anjos sairá pessoalmente para encontrar-vos e vos dar paz e bênção
eternas. Saiam para encontrá-lo e recebam-no com a fé que ele revelou a
vós e que preparou o caminho do Céu! Recebam-no com a esperança que
tendes, pois ele mesmo tem a intenção de dar-vos o reino.
Amem-no com todo o vosso coração e ponham seu amor em pratica e entrareis
pelos portões de Deus dos quais aqueles Cristãos foram afastados, pois
não quiseram entrar, o que os fez não merecedores pelos seus próprios
atos’. Pela minha verdade, declaro que colocarei minhas palavras em
prática e não as esquecerei. Eu vos receberei como meus filhos e serei
vosso Pai, Eu, a quem os cristãos desprezaram.
Vós então, meus amigos, que estais no mundo, saiam sem medo e gritem em
voz alta, anunciem minha vontade a eles e ajudem-nos a realizá-la.
Estarei em vossos corações e em vossas palavras. Serei vosso guia em vida
e vosso salvador na morte. Não vos abandonarei. Saiam corajosamente –
quanto maior o trabalho, maior será a glória!
Posso fazer todas as coisas em um único instante e com uma única palavra,
mas quero que vossa recompensa venha de vosso próprio esforço e que minha
glória venha de vossa coragem. Não vos surpreendais com o que digo. Se o
homem mais sábio do mundo pudesse contar quantas almas vão para o inferno
todos os dias, ele poderia numerar os grãos de areia no mar ou os seixos
na praia. Esta é uma questão de justiça, porque essas almas se separaram
de seu Senhor e Deus. Estou dizendo isto para que os números do demônio possam
diminuir, o perigo se torne conhecido, e meu exército se complete. Se
eles pudessem escutar e perceber!”
Jesus Cristo fala à esposa e compara sua natureza divina a uma coroa
usando Pedro e Paulo para simbolizar o estado clerical e leigo, sobre as
maneiras de lidar com os inimigos, e sobre as qualidades que os
cavaleiros do mundo devem ter.
Livro 2 - Capítulo 7
O Filho falou à esposa, dizendo: “Eu sou o Rei da coroa. Tu sabes por que
eu disse ‘Rei da coroa’? Pois minha natureza divina foi, será, e é sem
começo ou fim. Minha natureza divina, é perfeitamente assemelhada a uma
coroa, pois a coroa não possui ponto de inicio ou fim. Assim como uma
coroa é destinada ao futuro rei, minha natureza divina também foi
destinada a ser a coroa de minha natureza humana.
Tive dois servos. Um foi sacerdote, o outro leigo. O primeiro era Pedro,
que possuía uma função sacerdotal, enquanto Paulo foi, por assim dizer,
um leigo. Pedro era casado, mas quando percebeu que seu casamento não era
consistente com sua função sacerdotal, e considerando que sua intenção
poderia ser posta em perigo pela falta de continência, ele se afastou do,
acima de tudo, licito casamento, no qual ele se separou da cama de sua
mulher, e se devotou a mim de todo seu coração.
Paulo, por outro lado, observou o celibato e mantinha-se puro. Veja que
grande amor Eu tinha por esses dois! Eu dei as chaves do Céu a Pedro para
que tudo o que atasse e desatasse na Terra, fosse atado e desatado no
Céu. Eu permiti que Paulo se tornasse como Pedro em glória e honra. Como,
juntos, eles foram iguais na terra, assim, agora, eles estão unidos em
glória eterna no Céu e juntos glorificados. Entretanto, embora Eu tenha
mencionado esses dois individualmente pelos nomes, por e através deles
quero denotar também outros amigos. De modo semelhante, sob a antiga
Aliança, Eu costumava falar a Israel como se estivesse me dirigindo a uma
só pessoa, embora tivesse a intenção de designar todo o povo de Israel
por esse único nome. Da mesma forma, agora, usando esses dois homens,
tenho a intenção de denotar a multidão dos que eu enchi com meu amor e
glória.
Com o passar do tempo, o mal começou a multiplicar-se e a carne começou a
se enfraquecer e a se tornar mais e mais inclinada ao mal. Assim,
estabeleci normas para cada um dos dois, ou seja, para o clero e o
laicato, representados aqui por Pedro e Paulo. Em minha misericórdia,
decidi permitir que o clero possuísse uma quantia moderada de
propriedades de igreja para suas necessidades corporais para que eles
pudessem crescer mais ardorosos e constantes em servir-me. Eu também
permiti ao laicato que se unissem em matrimonio de acordo com os
preceitos da Igreja. Entre os sacerdotes, havia um bom homem que pensou
consigo: ‘A carne me arrasta a baixos prazeres, o mundo me arrasta à
olhares prejudiciais, enquanto o demônio arma varias armadilhas para
pegar-me pelo pecado. Então, para não ser apanhado pelo prazer carnal, eu
observarei moderação em todas as minhas ações. Serei moderado em meu
repouso e divertimento. Dedicarei o tempo apropriado ao trabalho e
orações e reprimirei meu apetite carnal através do jejum. Segundo, para
que o mundo não me afaste do amor de Deus, abrirei mão de todas as coisas
mundanas, pois são perecíveis. É mais seguro seguir Cristo na pobreza.
Terceiro, para não ser enganado pelo demônio que sempre nos mostra
falsidade em vez da verdade, eu me submeterei à regra e obediência de um
outro; e eu rejeitarei todo o egoísmo e mostrarei que estou pronto para
dedicar-me a tudo o que seja ordenado pela outra pessoa’. Este homem foi
o primeiro a estabelecer uma regra monástica. Ele perseverou nisso de
maneira louvável e deixou sua vida como um exemplo a ser imitado por
outros.
Durante um tempo, a classe do laicato foi bem organizada. Alguns homens
cultivavam o solo e bravamente perseveravam trabalhando a terra. Outros
navegavam e transportavam mercadorias a outras regiões de forma que os
recursos de uma região supriram as necessidades de outra. Outros eram
especialistas e artesãos. Entre esses estavam os defensores de minha
Igreja que hoje são chamados de cavaleiros.
Eles pegaram em armas como vingadores da Santa Igreja para lutar contra
seus inimigos. Entre eles, surgiu um bom homem e meu amigo que pensou
consigo: ‘Não cultivo o solo como um fazendeiro. Não trabalho nos mares
como um comerciante. Não trabalho com minhas mãos como um habilidoso
artesão.
O que, então, posso fazer ou através de qual trabalho posso agradar meu
Deus? Não sou bastante disposto no serviço da Igreja. Meu corpo é muito
mole e fraco para suportar danos físicos, minhas mãos não têm força para
derrotar os inimigos e minha mente não se adapta a refletir sobre o Céu.
O que posso fazer então?
Sei o que posso fazer. Eu me comprometerei a um príncipe secular através
de um juramento, prometendo defender a fé da Santa Igreja com minha força
e meu sangue’. Este meu amigo dirigiu-se ao príncipe e disse: ‘Meu
senhor, sou um dos defensores da Igreja. Meu corpo é fraco demais para
suportar danos físicos, minhas mãos não têm força para derrubar outros;
minha mente é instável quando levada a pensar e realizar o que é bom;
minha teimosia é o que me agrada; e minha necessidade de repouso não me
permite tomar uma postura forte pela casa de Deus. Assim, comprometo-me
com um juramento público de obediência à Santa Igreja e ao senhor, o
Príncipe, jurando defendê-la todos os dias de minha vida para que, embora
minha mente e vontade possam ser mornas com respeito à luta, eu possa ser
compelido a trabalhar por causa de meu juramento’. O príncipe
respondeu-lhe: ‘Irei com você até a casa do Senhor e serei testemunha de
seu juramento e promessa’. Os dois vieram até meu altar, e meu amigo
ajoelhou-se e disse: ‘Sou de corpo muito fraco para suportar danos
físicos, minha teimosia muito me agrada, minhas mãos são muito indecisas
quando é preciso desferir golpes.
Então, prometo obediência a Deus e a ti, meu chefe, comprometendo-me
através de um juramento para defender a Santa Igreja contra seus
inimigos, para confortar os amigos de Deus, fazer bem às viúvas, órfãos e
fiéis a Deus, e nunca fazer nada contrario à Igreja ou à fé. Além disso,
me submeterei à sua correção se eu errar, para que, comprometido por
obediência, eu deva temer o pecado e o egoísmo ainda mais e me dedicar
mais ardorosa e prontamente em realizar a vontade de Deus e sua própria
vontade, sabendo eu mesmo, ser somente o mais digno de condenação e
desprezo se eu me atrever a violar a obediência e transgredir seus
mandamentos. Depois dessa promessa ter sido feita em meu altar, o
príncipe decidiu sabiamente que o homem deveria se vestir de forma
diferente dos outros leigos como um sinal de auto-renuncia e como uma
lembrança de que tinha um superior ao qual devia se submeter.
O príncipe também colocou uma espada em suas mãos, dizendo: ‘Esta espada
deve ser usada para ameaçar e matar os inimigos de Deus’. Ele colocou um
escudo em seu braço, dizendo: ‘Defende-te com este escudo contra os
projéteis do inimigo e suporte pacientemente o que é lançado contra ele.
Que possas antes, vê-lo despedaçado do que fugir da batalha!’ Na presença
de meu sacerdote que está escutando, meu amigo fez-me o firme propósito
de observar tudo isso. Quando fez a promessa, o sacerdote lhe ofereceu
meu corpo para dar-lhe força e coragem para que, uma vez unido a mim
através de meu corpo, meu amigo nunca se separe de mim. Assim foi meu
amigo George, como também muitos outros. Assim também, deve ser com os
cavaleiros. Devem obter seu título como resultado do mérito e usar seu
traje de cavaleiro como resultado de suas ações em defesa da Sagrada Fé.
Ouçam como meus inimigos estão agora, indo contra as primeiras façanhas
de meus amigos. Meus amigos costumavam entrar no mosteiro através de suas
sábias reverências e amor por Deus. Mas aqueles que estão hoje em dia nos
mosteiros, saem para o mundo por orgulho e ambição, seguindo sua
obstinação, satisfazendo o prazer de seus corpos. A justiça exige que as
pessoas que morrem em tais disposições não devam experimentar a alegria
do céu mas, pelo contrario, receber a punição interminável do inferno.
Saibam, também, que os monges enclausurados que são forçados contra sua
vontade a tornarem-se prelados pelo amor a Deus não devem ser contados
nesse numero. Os cavaleiros que costumavam empunhar minhas armas estavam
prontos para entregar suas vidas pela justiça e derramar seu sangue pelo
bem da sagrada fé, trazendo justiça aos necessitados, derrubando e
humilhando os agentes do mal.
Mas ouçam como eles foram corrompidos! Agora, eles preferem morrer em
batalha pela glória, ambição e inveja induzidos pelo demônio em vez de
viver de acordo com meus mandamentos e obter gozo eterno. Justas
recompensas serão distribuídas durante o julgamento, para todas as
pessoas que morrem em tal disposição, e suas almas serão ligadas ao
demônio para sempre. Porém, os cavaleiros que me servem receberão sua
retribuição nos Céus para sempre. Eu, Jesus Cristo, verdadeiro Deus e
Homem, um com o Pai e o Espírito Santo, um só Deus para todo o sempre,
disse isto.”
Palavras de Cristo à esposa sobre a deserção de um cavaleiro do
verdadeiro exército, isto é, da humildade, obediência, paciência, fé,
etc., para o falso exército, isto é, dos vícios opostos, orgulhos, etc.,
e a descrição de sua condenação e sobre como uma pessoa pode encontrar
condenação por causa de uma vontade má e também devido a ações más.
Livro 2 - Capítulo 8
Eu sou o verdadeiro Senhor. Não há outro Senhor maior que eu. Não houve
outro antes de mim e também não haverá depois. Todo senhorio vem de mim e
através de mim. É por isso que Eu sou o verdadeiro Senhor e nenhum outro
a não ser Eu, pode verdadeiramente ser chamado Senhor, pois todo o poder
vem de mim.
Eu te disse anteriormente que tive dois servos, um deles corajosamente,
assumiu um estilo de vida louvável e perseverou até o fim. Inúmeros
outros o seguiram no mesmo caminho do ofício de cavaleiro. Eu te direi
agora sobre o primeiro homem a desertar da profissão de cavaleiro que foi
instituída por meu amigo. Não te direi seu nome, pois não o conheces por
nome, mas revelarei seu propósito e vontade.
Um homem que queria tornar-se cavaleiro veio ao meu santuário. Quando
entrou, escutou uma voz: “Três coisas são necessárias se quiseres
tornar-te cavaleiro: Primeiro, precisas acreditar que o pão que vês no
altar é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, o Criador do Céu e da Terra.
Segundo, uma vez que assumiste os serviços de cavaleiro, deves
exercitar-te mais no autodomínio do que estás acostumado. Terceiro, não
deves preocupar-te com honras mundanas. Certamente te darei alegrias e
honras eternas.
Ao ouvir, ponderando consigo mesmo estas três condições, ele ouviu também
uma voz maligna em sua mente fazendo três propostas contrárias às
anteriores. Ela dizia: “Se me servires, far-te-ei três outras propostas.
Eu te deixarei ter o que vês, ouvir o que quiseres e obter o que desejas”.
Quando ele ouviu isso, pensou consigo: “O primeiro senhor me disse para
ter fé em algo que não vejo e me prometeu coisas desconhecidas para mim.
Ele me disse para abster-me dos prazeres que posso ver e que desejo, e
esperar por algo que para mim é duvidoso. O outro senhor me prometeu a
honra mundana que posso ver e o prazer que desejo sem proibir-me de ver
ou ouvir tudo aquilo que gosto.
Com certeza, para mim é melhor segui-lo, ter o que posso ver e desfrutar
das coisas que são certas em vez de esperar por coisas que para mim são
incertas”. Com tais pensamentos, este homem foi o primeiro começar a
deserção do serviço de um verdadeiro cavaleiro. Ele rejeitou a verdadeira
profissão e quebrou sua promessa. Jogou o escudo da paciência aos meus
pés, deixou a espada para a defesa da fé cair de suas mãos e deixou o
santuário. A voz maligna lhe disse: “Se, como eu disse, fores meu, então
poderás andar orgulhosamente pelos campos e ruas. Aquele outro senhor
manda seus homens serem constantemente humildes. Assim, certifica-te de
não evitar o orgulho e a ostentação! Enquanto aquele outro senhor fez sua
entrada pela obediência e se sujeitou à obediência em toda jornada, tu
não deves deixar ninguém ser teu superior. Não dobres teu pescoço
humildemente a outras pessoas.
Toma tua espada para derramar o sangue de teu vizinho e irmão, para tomar
posse de sua propriedade!
Empunhe o escudo em teu braço e arrisque tua vida para ganhar renome! Em
vez da fé que ele defende, ame o templo de teu próprio corpo sem te
absteres de nenhum prazer que o deleite”.
Enquanto o homem estava ajustando sua mente e fortalecendo sua decisão
com esses pensamentos, seu príncipe colocou sua mão no pescoço do homem
no ponto indicado. Nenhuma parte do corpo, qualquer que seja, pode
danificar alguem que tenha boa vontade ou ajudar alguem cuja intenção é
má. Após a confirmação de sua condição de cavaleiro, o coitado traiu o
serviço de cavaleiro ao exercê-la tendo em vista o orgulho mundano, não
levando a sério o fato de que estava agora, mais do que antes, sob a
maior obrigação de viver uma vida austera. Inúmeros exércitos de
cavaleiros imitaram e ainda imitam esse cavaleiro em seu orgulho, que
afundou a todos no mais fundo abismo devido aos seus juramentos de
cavaleiros.
Porém, já que há muitas pessoas que desejam crescer no mundo e conquistar
renome, mas não o conseguem, podes perguntar: Essas pessoas têm que ser
punidas pela maldade de suas intenções da mesma forma que aquelas que
alcançam seu desejado sucesso? A isso eu te respondo: Asseguro-te que
qualquer um que ardentemente pretenda crescer no mundo e faça tudo o que
puder para isso com a intenção de um vazio título de honra mundana,
embora sua intenção nunca alcance seu efeito devido a uma secreta decisão
minha, tal homem será punido pela maldade de sua intenção da mesma forma
que aquele que consiga alcançar isso, isto é, a menos que retifique sua
intenção através da penitência.
Veja, dar-lhe-ei o exemplo de dois indivíduos muito bem conhecidos por
muitas pessoas. Um deles prosperou de acordo com seus desejos e obteve
quase tudo que desejou. O outro teve a mesma intenção, porém não as
mesmas possibilidades. O primeiro obteve renome mundial; ele amou o
templo do seu corpo em toda luxúria; teve o poder que ele quis; tudo em
que tocou prosperou. O outro era idêntico a ele em intenção, porém
recebeu menos renome. Ele teria com vontade, derramado cem vezes o sangue
do próximo para realizar seus planos de ambição.
Ele fez o que pôde e realizou sua vontade de acordo com seu desejo. Estes
dois homens foram semelhantes em sua horrível punição. Embora não morram
ao mesmo tempo, eu ainda posso falar de uma alma a invés de duas, já que
sua condenação foi uma e a mesma. Ambos tiveram a mesma coisa a dizer
quando o corpo e a alma foram separados e a alma partiu. Uma vez tendo
deixado o corpo, a alma disse a ele: “Diga-me, onde estão agora as visões
para deleitar meus olhos que me prometeste e onde está o prazer que me
mostraste, onde estão as palavras agradáveis que me mandaste usar?” O
demônio estava lá e respondeu:
“As visões prometidas nada mais são do que pó, as palavras nada são além
de ar, o prazer nada mais é do que lama e podridão. Estas coisas não têm
valor para ti agora”. A alma então gritou: “Ai de mim, ai de mim, fui
miseravelmente enganada! Eu vejo três coisas.
Eu vejo aquele que me foi prometido na aparência de pão. Ele é o
verdadeiro Rei dos reis e Senhor dos senhores. Vejo o que ele prometeu, e
é indescritível e inconcebível. Eu vejo agora, que a abstinência que ele
recomendou, era realmente mais proveitosa”. Então, com uma voz ainda mais
alta, a alma gritou três vezes: “Ai de mim, que nasci! Ai de mim, cuja
vida na Terra foi tão longa! Ai de mim, que devo existir em uma morte
perpétua e interminável!”
Veja a desgraça que as pessoas ruins terão em retorno pelo desprezo a
Deus e pela alegria passageira! Então, você deve me agradecer, minha
esposa, por ter-te afastado de tal desgraça! Seja obediente ao meu
Espírito e aos meus escolhidos!
Palavras de Cristo à esposa dando uma explicação do capítulo anterior,e
sobre o ataque do demônio ao cavaleiro previamente mencionado e sobre sua
terrível e justa condenação.
Livro 2 - Capítulo 9
Toda a extensão dessa vida é somente uma hora para mim. Assim, o que
estou te dizendo agora sempre esteve em minha presciência. Falei-te
anteriormente sobre um homem que iniciou na cavalaria, e sobre outro que
desertou dela como um infame. O homem que desertou das fileiras da
verdadeira cavalaria jogou seu escudo sobre meus pés e sua espada a meu
lado, quebrando suas promessas e votos sagrados. O escudo que ele jogou
simboliza nada mais do que a verdadeira fé pela qual ele se defenderia
dos inimigos de sua alma e da fé.
Os pés, com os quais caminho em direção à humanidade, simbolizam nada
mais do que o deleite divino pelo qual atraio uma pessoa a mim e a
paciência com a qual constantemente o sustento. Ele jogou este escudo ao
chão quando entrou em meu santuário, pensando consigo mesmo: quero
obedecer ao senhor que me aconselhou a não praticar abstinência, aquele
que me deixa ouvir coisas agradáveis aos meus ouvidos. Foi dessa maneira
que ele jogou ao chão o escudo da minha fé por querer seguir seu desejo
egoísta ao invés de mim, por amar a criatura mais do que o Criador.
Se ele tivesse tido uma fé correta, se tivesse acreditado que Eu sou
todo-poderoso, um correto juiz e doador de glória eterna, ele não teria
desejado nada além de mim, não teria temido nada além de mim. Porém, ele
jogou sua fé aos meus pés, desprezando-a e contando-a como nada, porque ele
não procurou me agradar e não teve consideração à minha paciência. Então
ele jogou sua espada ao meu lado. A espada simboliza nada mais que o
temor a Deus, que o verdadeiro cavaleiro de Deus deve continuamente ter
em suas mãos, ou seja, em seus atos. Meu lado simboliza nada mais que o
cuidado e proteção com os quais Eu protejo e defendo meus filhos, como
uma galinha protegendo seus pintinhos, para que o demônio não lhes faça
mal e que nenhuma tentação insuportável venha sobre eles.
Mas aquele homem jogou fora a espada do meu temor sem se incomodar em
pensar em meu poder e sem ter nenhuma consideração por meu amor e
paciência.
Ele a jogou no chão ao meu lado, como se dissesse: “Eu não temo e nem
ligo para a sua defesa. Eu consegui o que tenho através de meus próprios
atos e minha nobre descendência”. Ele quebrou a promessa que fez a mim.
Qual é a verdadeira promessa pela qual um homem está ligado por votos a
Deus? Com certeza, são as ações de amor; qualquer coisa que uma pessoa
faz, deve fazer por amor a Deus. Mas, isso ele pôs de lado, ao trocar seu
amor a Deus pelo amor-próprio; preferiu seu egoísmo ao deleite futuro e
eterno.
Dessa forma, ele se separou de mim e deixou o santuário da minha
humildade. O corpo de qualquer cristão guiado pela humildade é meu
santuário. Aqueles guiados pelo orgulho não são meu santuário, são o
santuário do demônio que os conduz na direção do desejo mundano com seus
próprios propósitos. Tendo saído do templo da minha humildade, e tendo
rejeitado o escudo da santa fé e a espada do temor, ele caminhou
orgulhosamente para os campos, cultivando toda cobiça e desejo egoísta,
desprezando o temor a mim e crescendo em pecado e luxúria.
Quando chegou ao final de sua vida e sua alma deixou o corpo, os demônios
saíram para encontrá-lo. Três vozes do inferno puderam ser ouvidas
falando contra ele. A primeira disse: “Não é este o homem que desertou da
humildade e nos seguiu no orgulho? Se seus pés puderam levá-lo ainda mais
alto em orgulho a ponto de nos ultrapassar e ter a primazia em orgulho,
ele foi rápido em fazer isso”. A alma respondeu: “Eu sou este homem”. A
Justiça respondeu: “Esta é a recompensa pelo seu orgulho: você descerá de
mãos dadas com um demônio até alcançar a parte mais baixa do inferno. E
dado que não há demônio que não saiba seu castigo particular e o tormento
a ser infligido por cada pensamento e ato desnecessário, nem tu escaparás
do castigo nas mãos de cada um deles, mas partilharás da malicia e
maldade de todos eles”. A segunda voz gritou, dizendo: “Não é este o homem
que se afastou de seu serviço professo a Deus e uniu-se às nossas
fileiras?”
A alma respondeu: “Eu sou este homem”. A Justiça disse: “Esta é tua
agregada recompensa: que cada um que imitar tua conduta como cavaleiro se
unirá à tua punição e sofrimento pela tua própria corrupção e dor, e irá
lhe golpear na sua vinda com uma ferida mortal. Tu serás como um homem
atormentado por uma severa ferida, realmente serás como um atormentado
com ferida após ferida, até que teu corpo esteja repleto de feridas, que
causam sofrimento intolerável e lamentarás constantemente tua sorte.
Mesmo assim, experimentarás miséria após miséria. No auge de tua dor, ela
será renovada, e tua punição nunca acabará e tua angústia nunca
diminuirá”. A terceira voz gritou: “Não é este o homem que trocou seu
Criador pelas criaturas, o amor de seu Criador por seu próprio egoísmo?”
A Justiça respondeu: “Certamente é ele”.
Assim, dois buracos serão abertos nele. Através do primeiro entrará cada
punição merecida desde seu menor pecado até o maior deles, na medida em
que trocou seu Criador por sua própria luxúria. Através do segundo,
entrará cada tipo de dor e vergonha, e nenhuma consolação divina ou
caridade entrará nele, na medida em que amou a si mesmo em lugar de seu
Criador. Viverá eternamente e sua punição durará para sempre, pois todos
os santos se afastaram dele”. Minha esposa, veja quão miseráveis serão
essas pessoas que me desprezam, e quão grande será a dor que eles
compraram ao preço de tão pequeno prazer!”
Como da sarça ardente Deus falou a Moisés, Cristo fala à esposa sobre
como o demônio é simbolizado pelo faraó, cavaleiros dos dias presentes
simbolizados pelo povo de Israel e o corpo da Virgem pela sarça, e sobre
como os atuais cavaleiros e bispos estão, no presente, preparando uma
moradia para o demônio.
Livro 2 - Capítulo 10
Está escrito na Lei de Moisés que Moisés estava cuidando de seu rebanho
no deserto quando viu uma sarça que estava em chamas, sem ficar queimada;
ele ficou com medo e cobriu sua face. Uma voz falou com ele vindo da
sarça: “Eu ouvi o lamento do meu povo e fiquei com pena dele, pois são
oprimidos por uma escravidão severa”. Eu, que estou agora falando com
você, sou a voz ouvida da sarça. Ouvi a miséria de meu povo. Quem é meu
povo senão o povo de Israel? Usando este mesmo nome eu agora designo os
cavaleiros em todo o mundo que fizeram votos da minha cavalaria e que
devem ser meus, mas estão sendo atacados pelo demônio.
O que o faraó fez para o meu povo Israel, no Egito? Três coisas.
Primeiro, quando estavam construindo seus muros, não receberam ajuda dos
apanhadores de palha que anteriormente os ajudaram a fazer tijolos. Em
vez disso, eles mesmos tiveram de apanhar a palha onde puderam em todo o
país. Segundo, os construtores não receberam nenhum agradecimento por seu
trabalho, apesar de produzirem a meta estabelecida de tijolos a serem
feitos. Terceiro, os capatazes batiam neles duramente sempre que sua
produção ficava menor do que a normal. Em meio se sua grande aflição,
esse meu povo construiu duas cidades para o faraó.
Este faraó é ninguém a não ser o demônio que ataca meu povo, isto é, os
cavaleiros, que devem ser meu povo. Em verdade te digo que, se os
cavaleiros tivessem mantido o acordo e regras estabelecidas pelo meu
primeiro amigo, eles estariam entre os meus mais queridos amigos. Assim
como Abraão foi o primeiro que recebeu o mandamento da circuncisão, foi
obediente a mim e tornou-se meu mais querido amigo, qualquer um que imite
a fé e os feitos de Abraão compartilharão seu amor e glória; assim também
os cavaleiros foram especialmente aprazíveis para mim dentre todas as
ordens, já que me prometeram derramar por mim o que eles consideram mais
estimado, seu próprio sangue. Por esse voto eles se fizeram os mais
aprazíveis a mim, assim como Abrão fez em relação à circuncisão, e eles
se purificaram diariamente por viverem para sua profissão e por
praticarem santa caridade.
Estes cavaleiros são agora tão oprimidos por sua miserável escravidão sob
o demônio, que o ele os está ferindo com um golpe letal e os atirando à
dor e sofrimento. Os bispos da Igreja estão construindo duas cidades para
ele assim como os filhos de Israel. A primeira cidade se sustenta pelo
trabalho físico e ansiedade sem sentido na aquisição de bens mundanos. A
segunda cidade se sustenta pela intranquilidade e aflição espiritual,
visto que não podem descansar do desejo mundano. Há trabalho por fora, e
inquietação e ansiedade por dentro, tornando as coisas espirituais num
fardo.
Assim como o faraó não supriu meu povo com coisas necessárias para
fazerem tijolos nem lhes deu campos repletos de cereais, ou vinho e
outras coisas úteis, mas o povo teve de ir e consegui-las eles mesmos em
sofrimento e tribulação do coração, da mesma forma o demônio lida com
eles agora. Embora eles trabalhem para o mundo e o cobicem em seus
corações, ainda não conseguem realizar seus desejos e saciar a sede de
suas ganâncias. Eles são consumidos por dentro pelo pesar e por fora pelo
trabalho. Por essa razão, sinto pena de seu sofrimento, pois meus cavaleiros,
meu povo, estão construindo moradias para o demônio e trabalhando
incessantemente, porque eles não conseguem obter o que desejam e porque
se preocupam com bens sem sentido, embora o fruto de sua ansiedade não
seja uma benção mas ao contrario, a recompensa da vergonha.
Quando Moisés foi enviado ao povo, Deus deu a ele um sinal milagroso por
três motivos. Primeiro, porque cada pessoa no Egito adorava seu próprio
deus em particular, e porque existiam inúmeros seres que eram
considerados deuses. Assim, era apropriado que houvesse um sinal
milagroso para que, através dele e pelo poder de Deus, o povo pudesse
acreditar que há um só Deus e um só Criador de todas as coisas por causa
dos sinais, e para que todos os outros ídolos fossem mostrados sem valor.
Segundo, um sinal foi também dado a Moisés como um símbolo, prefigurando
meu futuro corpo. O que a sarça ardente que não era consumida
simbolizava, senão a Virgem, que concebeu pelo Espírito Santo e deu à luz
sem perder a virgindade? Eu vim desta sarça, assumindo a natureza humana
do corpo virginal de Maria. Semelhantemente, a serpente dada como sinal a
Moisés simbolizou meu corpo. Em terceiro lugar, um sinal foi dado a
Moisés para confirmar a verdade dos eventos futuros e prefigurar os
sinais milagrosos a serem dados no futuro, provando ser a verdade de Deus
tanto mais verdadeira e certa, quanto mais claramente aquelas coisas
representadas pelos sinais eram cumpridas com o tempo.
Estou agora enviando minhas palavras aos filhos de Israel, ou seja, aos
cavaleiros. Eles não precisam de sinais milagrosos por três motivos. Em
primeiro lugar, porque Deus e Criador de todas as coisas já é adorado e
conhecido através da Santa Escritura, assim como através de muitos
sinais. Segundo, eles não estão agora esperando pelo meu nascimento,
porque eles sabem que eu realmente nasci e me tornei carne sem corrupção,
já que a escritura foi completamente cumprida. E não há melhor ou mais
verdadeira fé a ser guardada ou acreditada do que aquela que já foi
anunciada por mim e meus santos pregadores. No entanto, eu dei três
coisas através de ti pelas quais pudessem acreditar. Primeiro, estas são
minhas verdadeiras palavras e não diferem da verdadeira fé.
Segundo, um demônio saiu de um corpo possuído, pela ação de minhas
palavras. Terceiro, eu dei a um certo homem o poder de unir corações sem
confiança, em mutua caridade. Assim, não tenha nenhuma duvida sobre
aqueles que acreditarão em mim. Aqueles que acreditam em mim creem também
em minhas palavras. Aqueles que me apreciam, também apreciam minhas
palavras. Está escrito que Moisés cobriu sua face depois de falar com
Deus.
Tu, entretanto, não precisas cobrir tua face. Eu abri teus olhos
espirituais para que possas ver coisas espirituais. Abri teus ouvidos
para que possas ouvir as coisas que são do Espírito. Eu te mostrarei um
similar de meu corpo como foi durante e antes da minha paixão, e bem como
depois da ressurreição, como Madalena, Pedro e outros o viram. Tu também
ouvirás minha voz assim como ela falou a Moisés de dentro da sarça. Esta
mesma voz está agora falando dentro de tua alma.”
Palavras deleitosas de Cristo à esposa sobre a glória e honra do bom e
verdadeiro cavaleiro, sobre como os anjos vieram para encontrá-lo, e
sobre como a Gloriosa Trindade o recebe afetuosamente e o conduz a um
local de descanso indescritível como recompensa por uma pequena luta.
Livro 2 - Capítulo 11
Eu falei-te anteriormente sobre o fim e a punição daquele cavaleiro que
foi o primeiro a desertar do serviço de cavalaria que tinha me prometido.
Eu irei agora descrever por meio de metáforas (caso contrário não serás
capaz de entender as questões espirituais) a glória e honra daquele que
virilmente assumiu o verdadeiro serviço da cavalaria e o sustentou até o
fim. Quando este meu amigo chegou ao fim de sua vida e sua alma deixou
seu corpo, cinco legiões de anjos foram enviadas para saudá-lo. Com eles
também veio uma multidão de demônios para descobrirem se podiam colocar
alguma reclamação contra ele, pois são repletos de maldade e nunca se cansam
dela.
Uma voz muito clara foi então ouvida no Céu, dizendo: “Meu Senhor e Pai,
este não é o homem que se dobrou à tua vontade e assim o fez com
perfeição?” O homem então respondeu em sua própria consciência: “De fato,
sou eu”. Três vozes foram ouvidas. A primeira era de natureza divina e
disse: “Não te criei e dei um corpo e alma? Tu és meu filho e fizeste a
vontade de teu Pai. Venha a mim, teu querido Pai e Criador todo-poderoso!
Uma herança eterna, é dada a ti, porque és um filho. A herança de teu Pai
é dada a ti, porque foste obediente a Ele.
Então, querido filho, vinde a mim! Eu te receberei com honra e alegria”!
A segunda voz era de natureza humana que disse: “Irmão, vinde a teu
irmão! Eu me ofereci a ti em batalha e derramei meu sangue por ti. Tu,
que obedeceste minha vontade, vinde a mim! Tu, que pagaste sangue com
sangue e estiveste preparado para oferecer morte por morte e vida por
vida, vinde a mim! Tu, que me imitaste em tua vida, entre agora em minha
vida e em minha alegria sem fim! Eu te reconheço como meu verdadeiro
irmão”. A terceira voz era do Espírito (mas os três são um Deus, não três
deuses), que disse: “Vinde meu cavaleiro, tu, cuja vida interior era tão
atraente que eu desejei viver contigo!
Em tua conduta exterior foste tão viril que mereceste minha proteção.
Entre, então, em repouso, em retribuição de todo o teu sofrimento físico!
Em retribuição ao teu sofrimento mental, entre em uma indescritível
consolação! Em retribuição de tua caridade e teu viril esforço, vinde a
mim e viverei em ti e tu em mim! Vinde a mim, então, meu excelente
cavaleiro, que nunca desejaste nada além de mim! Vinde e te encherás de
santo prazer!” Depois disso, cinco vozes foram ouvidas de cada uma das
legiões de anjos.
A primeira voz falou: “Deixa-nos marchar à frente deste excelente
cavaleiro e carregar suas armas, isto é, deixa-nos apresentar ao nosso
Deus a fé que ele preservou inabalável e defendeu dos inimigos da
justiça”. A segunda voz disse: “Permita-nos carregar seu escudo à frente
dele, isto é, deixe-nos mostrar ao nosso Deus sua paciência que, embora
ela seja conhecida por Deus, será ainda mais gloriosa por causa de nosso
testemunho. Por sua paciência, ele não somente suportou adversidades
pacientemente como também agradeceu a Deus por essas mesmas adversidades”.
A terceira voz disse: “Vamos marchar à frente dele e apresentar sua
espada a Deus, isto é, vamos mostrar-lhe obediência pela qual ele
permaneceu obediente em ambos os tempos, difíceis e fáceis, conforme sua
promessa”. A quarta voz disse: “Vinde e vamos mostrar a Deus seu cavalo,
isto é, vamos oferecer o testemunho de sua humildade. Como um cavalo
carrega o corpo de um homem, assim sua humildade o precedeu e o seguiu,
levando-o à frente até a realização de seu trabalho. O orgulho não encontrou
lugar nele, por isso é que cavalgou em segurança”. A quinta voz disse:
“Vinde e vamos apresentar seu capacete a nosso Deus, isto é, deixe-nos
testemunhar a vontade divina que sentiu por Deus!”
Ele meditou Nele em seu coração durante todo o tempo. Carregou-o em seus
lábios, em seus feitos, e acima de tudo, O desejou. Por amor e veneração,
ele se prontificou a morrer para o mundo. Assim, deixe-nos apresentar
estas coisas a nosso Deus, pois, como retribuição por seu pequeno
esforço, esse homem mereceu eterno repouso e alegria com seu Deus, a quem
ele desejou tanto e tantas vezes!” Acompanhado pelos sons dessas vozes e
um maravilhoso coro de anjos, meu amigo foi conduzido ao descanso eterno.
Sua alma viu isso tudo e disse a si mesma em exultação: “Sou feliz por
ter sido criada! Sou feliz por ter servido meu Deus que agora contemplo!
Sou feliz, porque tenho alegria e glória que nunca terminará!” Assim meu
amigo veio a mim e recebeu tal recompensa. Embora nem todos derramem seu
sangue em meu nome, no entanto, todos receberão a mesma recompensa, desde
que tenham a intenção de dar suas vidas por mim se a ocasião se
apresentar e as necessidades da fé o demandar. Veja como é importante uma
boa intenção!”
Palavras de Cristo à esposa sobre a natureza imutável e eterna duração da
sua justiça; sobre como, após assumir uma natureza humana, ele revelou
sua justiça através de seu amor em uma nova luz; e sobre como ternamente
exerce misericórdia pelos condenados e gentilmente ensina seus
cavaleiros.
Livro 2 - Capítulo 12
Sou o verdadeiro Rei. Ninguém merece ser chamado rei exceto eu, porque
toda a honra e poder vem de mim. Sou aquele que fez o julgamento do
primeiro anjo que caiu pelo orgulho, ambição e inveja. Sou aquele que fez
o julgamento de Adão e Caim, assim como de todo o mundo ao enviar o
dilúvio, devido aos pecados da raça humana. Sou o mesmo que permitiu que
o povo de Israel ficasse em cativeiro e miraculosamente o conduziu com
sinais milagrosos. Toda justiça pode se encontrar em mim. A justiça
sempre esteve e está em mim sem começo nem fim. Em nenhum momento ela
diminui, mas permanece verdadeira e imutável. Embora no presente momento
minha justiça pareça ser mais branda e Deus agora pareça ser um juiz mais
paciente, isto não representa uma mudança em minha justiça, que nunca
muda, mas apenas mostra ainda mais o meu amor. Eu agora julgo o mundo
através da mesma justiça e do mesmo verdadeiro julgamento de quando
permiti que meu povo se tornasse escravo no Egito e o fiz sofrer no
deserto.
Meu amor foi oculto antes de minha encarnação. Eu o mantive oculto em
minha justiça como luz obscurecida por uma nuvem. Quando eu tomei a
natureza humana, embora a lei que tinha sido dada tenha mudado, a justiça
não mudou, tornou-se mais visivelmente clara e foi mostrada com uma luz
mais abundante de amor através do Filho de Deus. Isto aconteceu de três
formas. Primeiro, a lei foi mitigada, já que tinha sido muito severa por
causa de pecadores desobedientes e endurecidos e era difícil subjugar o
orgulho. Segundo, o Filho de Deus sofreu e morreu. Terceiro, meu
julgamento agora parece estar mais afastado, e parecer ter sido
postergado por misericórdia e ser mais brando com os pecadores do que
antes. De fato, os atos de justiça concernentes aos primeiros pais ou ao
dilúvio ou àqueles que morreram no deserto, parecem rígidos e severos.
Entretanto, misericórdia e amor são agora mais aparentes. Antes, por
razões de sabedoria, o amor foi oculto em justiça e mostrado com
misericórdia, apesar de uma maneira mais oculta, porque Eu nunca fiz e
nunca farei justiça sem misericórdia ou bondade sem justiça. Agora,
entretanto, tu podes perguntar: se eu demonstrar misericórdia em toda
minha justiça, de que maneira sou misericordioso com relação aos
condenados? Responderei por meio de uma parábola.
É como se um juiz estivesse sentado para um julgamento e seu irmão
aparecesse para ser sentenciado. O juiz diz a ele: “Tu és meu irmão e eu
sou teu juiz e, embora eu te ame sinceramente, não posso e nem é certo
para mim contrariar a justiça. Em tua consciência verás o que é justo com
respeito ao que mereces. É necessário sentenciar-te adequadamente. Se
fosse possível ir contra a justiça, eu poderia de bom grado tomar tua
sentença para mim”. Sou como este juiz. Essa pessoa é meu irmão devido à
minha natureza humana. Quando ele vem para ser julgado, sua consciência
lhe informa sobre sua culpa e ele compreende qual deve ser sua sentença.
Já que sou justo, eu respondo à alma - falando figurativamente, e digo:
“Tu enxergas tudo o que é justo para ti em tua consciência. Diga-me o que
mereces”. A alma me responde então: “Minha consciência me informa sobre
minha sentença. É a punição que me é devida, pois não te obedeci”. Eu
respondo: “Eu, teu juiz, assumi toda a tua punição e te fiz conhecido o
perigo que corrias, assim como a maneira de escapares da punição. Foi por
simples justiça que não pudeste entrar nos céus antes de reparar tua
culpa. Eu assumi tua reparação, porque foste incapaz de suportar isso
sozinho.
Através dos profetas mostrei-te o que aconteceria comigo e não omiti um
único detalhe do que esses profetas revelaram. Mostrei-te todo o amor que
pude para que voltasses a mim. Entretanto, já que te afastaste de mim,
mereces ser sentenciado, porque desprezaste a misericórdia. Entretanto,
EU sou ainda tão misericordioso que, se fosse possível a mim, morrer
novamente, por tua causa, suportaria o mesmo tormento que uma vez
suportei na cruz ao invés de vê-lo sentenciado a tal sentença. A justiça,
porém, diz que para mim é impossível morrer novamente, mesmo que a
misericórdia diga que quero morrer por ti, se isso fosse possível. É
assim que sou misericordioso e amoroso mesmo pelos condenados. Eu amei a
humanidade desde o começo, mesmo quando pareci irado, mas ninguém se
preocupou ou prestou qualquer atenção ao meu amor.
Por ser justo e misericordioso, advirto os chamados cavaleiros de que
eles devem procurar minha misericórdia, para que minha justiça não os
encontre. Minha justiça é tão imóvel quanto uma montanha, queima como
fogo, é tão assustadora quanto um trovão e tão repentina quanto um arco
ajustado com uma flecha. Minha advertência é tripla. Primeiro, advirto-os
como um pai faz com seus filhos, para que eles se voltem para mim, porque
sou seu Pai e Criador. Que eles retornem, e eu lhes darei o patrimônio
devido a eles por direito. Que retornem, porque, embora eu tenha sido
desprezado, ainda os receberei com alegria e irei ao seu encontro com
amor. Segundo, peço a eles como um irmão, que recordem minhas feridas e
minhas ações. Que eles retornem, e os receberei como um irmão. Terceiro,
como seu Senhor, eu peço-lhes que retornem ao Senhor a quem prometeram
sua fé, a quem devem sua lealdade e a quem se comprometeram por
juramento.
Por quê, ó cavaleiros, vos afastastes de mim, vosso pai, que vos criou
com amor? Pensai em mim, vosso irmão, que se tornou um de vós pelo vosso
bem. Voltai-vos novamente para mim, o vosso bom Senhor. É altamente
desonesto jurar vossa fé e vossa lealdade a outro senhor. Vós jurastes
que defenderíeis minha Igreja e ajudaríeis os necessitados. Vede agora
como jurastes lealdade a meu inimigo, jogastes fora meu estandarte e
levantastes o do inimigo!
Por que, ó cavaleiros, não retornais a mim com verdadeira humildade, já
que desertastes de mim por causa do orgulho? Se qualquer coisa parece
difícil de suportar por mim, considerai o que fiz por vós! Por vós fui à
cruz com meus pés sangrando; minhas mãos e pés foram pregados por vós;
não poupei nenhum um só membro por vós. E ainda ignorais tudo isto,
afastando-vos de mim. Voltai e vos darei três formas de ajuda. Primeiro,
fortaleza, para que sejais capazes de resistir a vossos inimigos físicos
e espirituais. Segundo, uma brava generosidade, tal que não possais temer
nada a não ser Eu e possais considerar uma alegria o vosso empenho por
mim. Terceiro, Eu vos darei sabedoria para fazer-vos entender a
verdadeira fé e a vontade de Deus. Assim, voltai e assumi vossas posições
como homens! Pois eu, que estou vos dando esse aviso, sou o mesmo a quem
servem os anjos, aquele que libertou vossos antepassados que foram
obedientes, mas condenou os desobedientes e humilhou os orgulhosos. Fui o
primeiro na guerra, o primeiro a sofrer. Segui-me, então, para que não
derretais como a cera no fogo. Por que estais quebrando vossa promessa?
Por que desprezais vosso juramento? Tenho menor valor ou sou menos
merecedor do que algum amigo vosso mundano, a quem, quando fazeis
juramento, o mantendes? Entretanto, a mim, o doador da vida e da honra, o
preservador da saúde, vós não cumpris o que prometestes.
Por esta razão, bons cavaleiros, cumpri vossa promessa e, se fordes muito
fracos para colocar isso em ação, pelo menos tenhais a vontade de
fazê-lo! Sinto pena da escravidão que o demônio vos impôs e assim,
aceitarei vossa intenção como uma ação. Se voltardes para mim com amor,
então colocai em execução a fé da minha Igreja, e eu sairei para
encontra-vos como um bom pai junto com todo o meu exército. Eu vos darei
cinco coisas boas como recompensa. Primeiro, o louvor eterno sempre soará
em vossos ouvidos. Segundo, a face e a glória de Deus sempre estarão
diante de vossos olhos. Terceiro, o louvor de Deus nunca deixará vossos
lábios. Quarto, vós tereis tudo o que vossas almas desejarem, e não
desejareis nada além do que já tendes. Quinto, nunca vos separareis de
vosso Deus, vossa alegria será infinita e vivereis vossas vidas com
alegria sem fim.
Esta será vossa recompensa, meus cavaleiros, se vós defenderdes minha fé
e vos esforçardes mais pela minha honra do que pela vossa. Se tiverdes
algum senso, lembrai-vos que tenho sido paciente convosco e que me tendes
insultado de tal forma que vós sozinhos, nunca toleraríeis. Entretanto,
embora eu possa fazer tudo devido à minha onipotência, e embora minha
justiça clame para que me vingue de vós, ainda minha misericórdia, que está
em minha sabedoria e bondade,vos poupa. Dessa forma, peçai por
misericórdia! Em meu amor, eu concedo o que uma pessoa me pede com
humildade”.
Palavras poderosas de Cristo à esposa sobre os cavaleiros da atualidade;
sobre a maneira correta de formar cavaleiros e sobre como Deus concede
força e ajuda a eles em suas ações.
Livro 2 - Capítulo 13
Eu sou um único Deus com o Pai e o Espírito Santo em uma trindade de
pessoas. Nenhum dos três pode ser separado ou dividido dos outros, mas o
Pai está em ambos, no Filho e no Espírito, o Filho está em ambos, no Pai
e no Espírito e o Espírito está em ambos. A Divindade enviou sua Palavra
à Virgem Maria através do anjo Gabriel. Também o mesmo Deus, enviando e
sendo enviado por si mesmo, estava com o anjo, estava em Gabriel, e
estava com a Virgem antes de Gabriel. Depois que o Arcanjo entregou sua
mensagem, a palavra se tornou carne dentro da Virgem. Eu, que falo
contigo, sou essa Palavra.
O Pai me enviou através dele mesmo juntamente com o Espírito Santo para o
útero da Virgem, embora não de forma que os anjos ficassem sem a visão e
a presença de Deus. Eu, o Filho, que estava com o Pai e o Espírito Santo
no ventre da Virgem, permaneci o mesmo Deus na visão dos anjos no Céu
juntamente com o Pai e o Espírito Santo, governando e sustentando todas
as coisas. Entretanto, a natureza humana assumida pelo único Filho ficou
no útero de Maria. Eu, que sou um só Deus em minha natureza divina e
humana, não desdenho de falar contigo e assim manifesto meu amor e
fortaleço tua santa fé.
Embora minha forma humana pareça estar aqui em tua frente e estar falando
contigo, entretanto, é mais verdadeiro dizer que tua alma e tua
consciência estão comigo e em mim. Nada nos Céus ou na Terra é impossível
ou difícil para mim. Sou como um poderoso rei que chega a uma cidade com
suas tropas e toma posse do lugar, ocupando-o completamente. Da mesma
forma, teus membros se encherão com minha graça e serão fortalecidos. Eu
estou dentro e fora de ti. Embora eu possa estar falando contigo, permaneço
o mesmo em minha glória. O que poderia ser difícil para mim, que sustento
todas as coisas com meu poder e organizo tudo com minha sabedoria,
superando a tudo com excelência? Eu, que sou um único Deus junto com o
Pai e o Espírito Santo, sem começo ou fim, que assumi a natureza humana
pela salvação da humanidade, com minha natureza divina permanecendo
intacta, que sofri, ressuscitei e ascendi ao Céu, estou agora
verdadeiramente falando contigo.
Eu falei-te anteriormente sobre os cavaleiros que foram antes mais
agradáveis a mim, porque foram unidos a mim através do laço da caridade.
Eles se comprometeram através de seus juramentos a oferecerem seu corpo
pelo meu corpo, seu sangue pelo meu sangue. É por isso que lhes dei meu
consentimento, onde me uni a eles em um único laço e uma única companhia.
Agora, entretanto, minha queixa é a de que estes cavaleiros, que deveriam
pertencer a mim, voltaram-se contra mim. Eu sou seu Criador e Redentor,
assim como seu ajudante. Criei um corpo com todos os membros para eles.
Criei tudo no mundo para seu uso. Redimi-os com meu sangue. Adquiri uma
herança eterna para eles através da minha paixão. Eu os protejo em todo
perigo.
Agora, entretanto, eles se afastaram de mim. Eles tem minha paixão por
nada, negligenciam minhas palavras que deveriam alegrar e nutrir suas
almas. Desprezam-me, preferindo, com todo o coração e a alma, oferecer
seus corpos e deixar que sejam feridos em troca de prazer humano,
derramar seu sangue para satisfazer sua ambição, felizes em morrer em
nome de um discurso mundano, diabólico e vazio. Mas ainda, embora tenham
se afastado, minha misericórdia e justiça estão sobre eles. Eu
misericordiosamente zelo por eles para que não sejam entregues ao
demônio. Em justiça, sou paciente com eles e, se novamente se voltassem
para mim, os receberia e alegremente correria para encontrá-los.
Diga àquele homem que quer pôr seus serviços de cavalaria a meu dispor
que ele me agradará novamente através da seguinte cerimônia. Qualquer um
que quiser ser cavaleiro deve seguir com seu cavalo e armadura até o
pátio da Igreja e deixar seu cavalo lá, já que este não foi feito para o
orgulho humano mas para ser útil na vida e na defesa, e na luta contra os
inimigos de Deus. Então deixa que ele vista seu manto, colocando o fecho em
sua testa, da maneira semelhante ao que um diácono faz quando veste sua
estola como um sinal de obediência e santa paciência. Da mesma forma, ele
pode vestir seu manto e colocar o fecho em sua testa como sinal de seus
votos militares e de obediência tomada para a defesa da cruz de Cristo.
Um estandarte de governo secular deve ser carregado à sua frente,
lembrando-o que deve obedecer a seu governo na terra em tudo aquilo que
não é contra Deus. Uma vez que tenha entrado no pátio da Igreja, os
sacerdotes devem sair para encontrá-lo com o estandarte da igreja. Neste,
a Paixão e as feridas de Cristo devem estar pintadas como símbolo de que
ele é obrigado a defender a Igreja de Deus e concordar com seus prelados.
Quando ele entrar na Igreja, o estandarte do governo temporal deve
permanecer fora da igreja enquanto o estandarte de Deus deve ir à sua
frente para dentro da Igreja, como um sinal de que a autoridade divina
precede a autoridade temporal e que uma pessoa deve cuidar mais das
questões espirituais e do que das temporais.
Quando a Missa for rezada até o Agnus Dei, a autoridade presidente, isto
é, o rei ou outra pessoa, deve dirigir-se ao cavaleiro no altar e dizer:
“Queres tornar-te cavaleiro?” Quando o candidato responder “sim”, o outro
deve acrescentar as palavras: “Promete a Deus e a mim que defenderás a fé
da Santa Igreja e obedecerás a seus líderes nas coisas que pertencem a
Deus!”
Quando o candidato responder “sim”, o outro deve colocar uma espada em
suas mãos, dizendo: “Veja, deposito uma espada em tuas mãos para que não
poupes mesmo a tua vida pela Igreja de Deus, para que possas subjugar os
inimigos de Deus e proteger os amigos de Deus”. Então deve entregar a ele
o escudo e dizer: “Veja, dou-te um escudo para que possas defender-te dos
inimigos de Deus, para que possas oferecer assistência às viúvas e
órfãos, de forma que possas aumentar a glória de Deus em todos os
sentidos”. Então ele deve colocar sua mão sobre o pescoço do outro,
dizendo: “Veja, agora estás sujeito à obediência e à autoridade. Saibas,
então, que deves por em pratica aquilo que prometeste através de tua
promessa!” Depois disso, o manto e seu fecho, deve ser ajustado nele para
lembrá-lo diariamente de seus votos a Deus e que, por sua profissão
perante a Igreja, ele comprometeu-se a fazer mais que outros para
defender a igreja de Deus.
Uma vez feito tudo isto e o Agnus Dei rezado, o sacerdote que celebra a
Missa deve dar-lhe meu corpo para que possa defender a fé da Santa
Igreja. Estarei nele e ele em mim. Dar-lhe-ei ajuda e força, e o farei
queimar com o fogo do meu amor de forma que não desejará nada a não ser
Eu e não temerá nada a não ser a mim, seu Deus. Se acontecer dele estar
em campanha quando prestar seus serviços por minha glória e defesa da
minha fé, isto ainda o beneficiará, considerando que sua intenção é
justa.
Estou em todos os lugares em virtude do meu poder, e todas as pessoas
podem agradar-me por uma intenção justa e boa vontade. Eu sou amor, e
ninguém pode vir a mim a não ser uma pessoa que tem amor. Então, não
ordeno a ninguém que faça isso, pois nesse caso estariam me servindo por
medo. Mas aqueles que querem tomar essa forma de serviço de cavalaria
podem estar me agradando. Seria adequado para eles, mostrar através da
humildade, que eles querem voltar ao verdadeiro exercício da cavalaria,
já que através do orgulho, ocorre a deserção da profissão da verdadeira
cavalaria.”
EXPLICAÇÃO
Acredita-se que este cavaleiro tenha sido Sir Karl, o filho de Santa
Brígida.
Sobre Cristo simbolizado por um ourives e as palavras de Deus pelo ouro;
sobre como estas palavras devem ser transmitidas às pessoas com o amor de
Deus, uma reta consciência; seus cinco sentidos sob controle; e sobre
como os pregadores de Deus devem ser diligentes e não preguiçosos ao
vender o ouro, isto é, ao transmitir a palavra de Deus.
Livro 2 - Capítulo 14
Sou como um habilidoso ourives que envia seu servo para vender seu ouro
por toda a região, dizendo-lhe: “Tu deves fazer três coisas. Primeiro,
não deves confiar meu ouro a ninguém exceto àqueles que têm visão calma e
clara. Segundo, não o confies a pessoas que não têm consciência.
Terceiro, coloque meu ouro à venda por dez talentos pesados duas vezes!
Uma pessoa que se recusa a pesar meu ouro duas vezes não o receberá.
Deves tomar cuidado com três armas que meu inimigo utiliza contra ti.
Primeiro, ele quer fazer-te demorar a expor meu ouro. Segundo, ele deseja
misturar metal inferior ao meu ouro para que os que o veem e o testem
pensem que meu ouro não passa de barro podre.
Terceiro, ele instrui seus amigos para que te contradigam e clamem
constantemente que meu ouro não é bom”. Eu sou como este ourives. Forjei
tudo no Céu e na Terra, não com martelos e ferramentas, mas com meu poder
e força. Tudo o que existe, existiu e existirá é previsto por mim. Nem
mesmo um pequeno verme ou o menor dos grãos pode existir ou continuar a
existência sem mim. Nem a menor coisa escapa da minha presciência, por
que tudo vem de mim e é previsto por mim. Entre todas as coisas que
criei, entretanto, as palavras que saíram de meus lábios são de grande
valor, assim como o ouro é mais valioso do que outros metais.
É por isso que meus servos, através dos quais envio meu ouro por todo o
mundo, devem fazer três coisas. Primeiro, eles não devem confiar meu ouro
a pessoas que não tenham visão calma e clara. Você pode perguntar: “O que
significa ter uma visão clara?” Bem, uma pessoa com visão clara é a que
possui sabedoria divina junto com divina caridade. Mas como você pode
saber isto? É óbvio. A pessoa que possui visão clara e que pode receber
meu ouro é a que vive de acordo com a razão, que se afasta da vaidade e
curiosidade humanas, que não busca nada tanto como Deus. Mas esta pessoa
é cega se possui conhecimento, mas não põe em pratica a caridade divina
que conhece. Ela parece ter seus olhos em Deus, mas não os tem, porque
seus olhos estão no mundo e voltou suas costas para Deus.
Segundo, meu ouro não deve ser confiado a alguém que não tenha
consciência. Quem possui consciência senão a pessoa que controla seus
bens temporais e perecíveis com vistas à eternidade, que tem sua alma no
Céu e seu corpo na Terra, que reflete diariamente sobre como irá deixar a
Terra e responder a Deus sobre suas ações? Meu ouro deve ser confiado a
tal pessoa. Terceiro, ele deve colocar meu ouro à venda por dez talentos
pesados duas vezes. O que essa balança usada para pesar o ouro simboliza
senão a consciência? O que as mãos que pesam o ouro simbolizam senão uma
boa vontade e desejo? Quais são os contrapesos a serem usados senão o
trabalho espiritual e o corporal?
Uma pessoa que quer comprar e guardar meu ouro, isto é, minhas palavras,
deve examinar a si mesma corretamente na balança de sua consciência e
considerar como irá pagar por eles com dez talentos cuidadosamente
pesados de acordo com minha vontade. O primeiro talento é a visão
disciplinada da pessoa. Isto a faz considerar a diferença entre a visão
corporal e a espiritual, qual utilidade há na beleza e aparência físicas,
quanta excelência há na beleza e glória dos anjos e dos poderes celestes
que ultrapassam todas as estrelas do céu em esplendor, e que deleite uma
alma possui nos mandamentos de Deus e em sua glória.
Este talento, quero dizer, a visão física e espiritual, que é encontrada
nos mandamentos de Deus e na castidade, não são medidas na mesma balança.
A visão espiritual conta mais que a corporal e pesa mais, visto que os
olhos de uma pessoa devem ser abertos ao que é benéfico para a alma e
necessário para o corpo, mas fechados para a tolice e a indecência.
O segundo talento é a boa audição. Uma pessoa deve considerar o preço da
linguagem indecente, tola e zombeteira. Certamente, não vale mais do que
um sopro de ar. É por isso que uma pessoa deve ouvir louvores e hinos de
Deus. Deve ouvir os feitos e dizeres dos meus santos. Deve ouvir o que
ele necessita para estimular na virtude sua alma e seu corpo. Este tipo
de audição pesa mais na balança do que ouvir indecências. Este bom tipo
de audição, quando é pesado na balança e comparado ao outro tipo, irá
deslocar a balança muito para baixo, enquanto a outra, a audição vazia,
se deslocará para cima, pois não pesará nada.
O terceiro talento é o da língua. Uma pessoa deve pesar a excelência e
utilidade de um discurso edificante e bem cuidado, na balança de sua
consciência. Deve considerar a nocividade e inutilidade de um discurso
vão e negligente. Deve descartar o discurso vão e amar o bom.
O quarto talento é o paladar. Qual o paladar do mundo senão sofrimento?
Trabalho duro no começo de uma empreitada, aflição à medida que continua
e amargura no fim.
Portanto, uma pessoa deve pesar cuidadosamente o paladar espiritual e o
mundano, mas o paladar espiritual pesará mais que o mundano. O paladar
espiritual nunca é perdido, nunca se torna monótono, nunca diminui. Este
tipo de paladar começa no presente através da contenção da luxúria e
através de uma vida de moderação, e dura para sempre no Céu através do
gozo de doces delicias de Deus.
O quinto talento é o sentido do tato. Uma pessoa deve pesar quanta
preocupação e miséria ele sente por causa do corpo, quantas preocupações
do mundo, todos os muitos problemas com seu vizinho. Então ele
experimentará miséria em todos os lugares. Faça-o pesar também o quanto é
grande a paz de espírito e a mente disciplinada; quanto bem há em não se preocupar
com vãs e supérfluas posses. Então ele irá experimentará consolação em
todos os lugares. Qualquer um que queira medir bem isso, deve colocar os
sentidos espirituais e físicos na balança, e o resultado será que o
espiritual supera o corporal. Esse tato espiritual inicia e se desenvolve
através da tolerância paciente das contrariedades e através da
perseverança nos mandamentos de Deus, e dura para sempre na alegria e no
tranquilo repouso. Uma pessoa que atribui mais peso ao descanso físico e
aos sentimentos e alegrias mundanos, do que aos da eternidade, não merece
tocar meu ouro ou desfrutar minha felicidade.
O sexto talento é o trabalho humano. Uma pessoa deve pesar cuidadosamente
em sua consciência, o trabalho espiritual e o material. O primeiro leva
ao Céu, o segundo ao mundo; o primeiro a uma vida eterna sem sofrimento,
o segundo a uma tremenda dor e sofrimento. Qualquer um que deseja meu
ouro deve atribuir mais peso ao trabalho espiritual, que é feito por meu
amor e pela minha glória, do que ao trabalho material, já que as coisas
espirituais duram, enquanto as coisas materiais passam.
O sétimo talento é o uso ordenado do tempo. Uma pessoa recebe um certo
tempo para devotar às questões espirituais sozinho, outro período para as
funções corporais, sem as quais a vida é impossível (se são usadas de
maneira sensata, são consideradas como uso espiritual do tempo), e outros
períodos para atividades fisicamente uteis. Se uma pessoa deve prestar
conta de seu tempo e também de suas ações, ela deve, então, dar
prioridade ao uso espiritual do tempo antes de voltar-se ao trabalho
material, e controlar seu tempo de forma que às coisas espirituais seja
dada maior prioridade do que às coisas temporais, de forma que não seja
permitido que o tempo passe sem analise e correto equilíbrio requerido
pela justiça.
O oitavo talento é a justa administração dos bens temporais dados a uma
pessoa, significando que uma pessoa rica, no que permite seus recursos,
deve doar aos pobres com caridade divina. Mas você pode perguntar: “O que
deve dar uma pessoa pobre se nada possui?” Ele deve ter a reta intenção e
pensar o seguinte: “Se tivesse algo, eu alegremente o daria com
generosidade”. Tal intenção é contada para ele como uma ação. Se a
intenção do homem pobre é tal que ele gostaria de ter posses temporais
como os outros, mas pretenderia doar uma pequena quantia e meras
ninharias aos pobres, esta intenção é considerada como uma pequena ação.
Então, uma pessoa rica com muitas posses deve praticar a caridade. Uma
pessoa necessitada deve ter a intenção de dar e isso lhe renderá mérito.
Aquele que dá mais peso ao temporal do que ao espiritual, que dá a mim um
xelim, ao mundo cem e a si mesmo mil não usa um padrão de pesagem justo.
Uma pessoa que usa um padrão como este não merece ter meu ouro. Eu, o
doador de todas as coisas, e que também posso tirá-las, mereço a parte
mais valiosa.
Os bens temporais foram criados para o uso e necessidade humana, não para
o supérfluo. O nono talento é o exame cuidadoso dos tempos idos e
passados. Uma pessoa deve examinar suas ações, que tipo de ações foram, o
numero delas, como ele as corrigiu e com que mérito. Ele deve também
ponderar se suas boas ações foram em menor número do que as más. Se ele
achar que suas más ações são mais numerosas do que as boas, então ele
deve ter um perfeito proposito de correção e estar verdadeiramente
arrependido de seus maus atos. Esta intenção, se for verdadeira e firme,
pesará mais na visão de Deus, do que todos os seus pecados.
O décimo talento é a consideração e o planejamento do tempo futuro. Se
uma pessoa tem a intenção de não querer amar nada além das coisas de
Deus, de não desejar nada além do que ele sabe que agrada a Deus, de com
boa vontade e pacientemente aceitar as dificuldades, mesmo as penas do
inferno, para dar a Deus alguma consolação e fazer a Sua vontade, então
este talento sobrepuja todo o resto. Através deste talento todos os
perigos são facilmente evitados. Aquele que pagar estes dez talentos terá
meu ouro.
Entretanto, como eu disse, o inimigo quer impedir que as pessoas
entreguem meu ouro de três formas. Primeiro, ele quer fazê-los lentos e
preguiçosos. Existem ambos, a preguiça física e a espiritual. A de tipo
físico é quando o corpo se cansa de trabalhar, de levantar-se e assim por
diante. A preguiça espiritual é quando uma pessoa de mente
espiritualizada, conhecendo do doce deleite e graça do meu Espírito,
prefere descansar neste gozo em vez de sair e ajudar outros a
compartilhar isso com ele. Pedro e Paulo não experimentaram o
transbordante gozo do meu Espírito? Se fosse minha vontade, eles teriam
repousado escondidos no fundo da terra com o gozo interior que possuíam,
em vez de saírem para o mundo.
Entretanto, para que outros pudessem ser participantes do seu gozo e para
instruir outras pessoas junto a eles, preferiram sair para o crescimento
de outras pessoas e também para a maior glória delas, do que reterem
sozinhos sem fortalecer outros com a graça que lhes foi concedida. De
maneira semelhante, meus amigos, embora gostem de estar sozinhos e
desfrutar o gozo que já têm, devem agora seguir em frente para que outros
também possam ser participantes de sua alegria. Assim como alguém que tem
muitas posses não as usufrui sozinho, mas as transmite a outros, assim
também minhas palavras e minha graça não devem ficar escondidas e devem
ser difundidas a outros, para que eles, também, possam ser edificados.
Meus amigos podem ajudar três tipos de pessoas. Primeiro, os condenados;
segundo, os pecadores, isto é, àqueles que caem em pecados e se levantam
novamente; terceiro, os bons que permanecem firmes. Mas você pode
perguntar: “Como pode uma pessoa auxiliar os condenados, vendo que eles
não são merecedores da graça e que é impossível para eles retornarem à
graça?” Deixe-me responder através de uma comparação. É como se houvesse
inúmeros buracos no fundo de um precipício e qualquer um que caísse neles
necessariamente afundaria até o fim. Entretanto, se alguém tampasse um
desses buracos, aquele que caísse poderia não mergulhar tão fundo como se
nenhum buraco tivesse sido tampado. É isto o que acontece com os
condenados. Embora, devido à minha justiça e sua própria e endurecida
maldade, eles teriam que ser condenados em um certo e previsto momento,
ainda a punição deles será mais leve se, através de outros, fossem
bloqueados de fazer certas maldades e incentivados a fazer alguma coisa
boa. É dessa forma que sou misericordioso mesmo para com os condenados.
Embora a misericórdia clame por indulgência, a justiça e a sua própria
maldade se contrapõem a isso.
Em segundo lugar, eles podem ajudar aqueles que caem, mas depois se
levantam novamente, ensinando-os como se levantar, fazendo-os tomar
cuidado para não cair, e instruindo-os a melhorar e a resistir às suas
paixões.
Em terceiro, eles podem ser benéficos para os justos e perfeitos. Estes
também não caem? É claro que sim, mas é para sua maior glória e
humilhação do demônio. Assim como um soldado levemente ferido em batalha
fica mais incitado devido à sua ferida e torna-se ainda mais afiado para
a batalha, assim também a tentação demoníaca da adversidade incita os
meus escolhidos ainda mais a continuarem a batalha espiritual e à
humildade, e eles fazem ainda mais fervente progresso para conquistar a
coroa da glória. Assim, minhas palavras não devem ficar escondidas de
meus amigos, pois, tendo ouvido sobre a minha graça, eles ficarão ainda
mais incitados à minha devoção.
O segundo método do meu inimigo é usar a fraude para fazer meu ouro
parecer barro. Por isso, quando qualquer uma de minhas palavras for transcrita,
o escritor deve trazer duas testemunhas confiáveis ou um homem de
consciência provada, para certificar que ele examinou o documento.
Somente depois disso pode ser transmitida a quem ele quiser para que não
chegue sem ser certificada às mãos de inimigos que podem adicionar alguma
coisa falsa e que possa levar as palavras da verdade a serem denegridas
entre pessoas simples.
O terceiro método do meu inimigo é fazer seus próprios amigos pregarem
resistência ao meu ouro. Meus amigos devem então dizer aos que os
contradizem: “O ouro dessas palavras contém apenas três ensinamentos.
Eles lhes ensinam a temer corretamente, a amar piamente, a desejar o Céu
inteligentemente. Testem as palavras e vejam por si mesmos, e, se
encontrarem qualquer outra coisa, contestem-na!”
Palavras de Cristo à esposa sobre como o caminho ao paraíso foi aberto
pela sua vinda; sobre o amor ardente que ele nos mostrou suportando
tantos sofrimentos por nós desde seu nascimento até sua morte, e sobre
como o caminho para o inferno foi feito largo e o caminho para o paraíso
estreito.
Livro 2 - Capítulo 15
Estás imaginando por que estou te dizendo tais coisas e por que estou te
revelando tais maravilhas. É só por tua causa? Claro que não, é para a
edificação e salvação dos outros. Tu sabes, o mundo era como um tipo de
selva, na qual havia uma estrada que conduzia para baixo, ao grande
abismo. No abismo havia duas câmaras. Uma era tão profunda que não tinha
fundo e as pessoas que desciam para ela, nunca mais voltavam. A segunda
não era tão profunda e assustadora como a primeira. Aqueles que desciam
para ela tinham alguma esperança de ajuda; eles experimentavam saudade e
demora, mas não miséria; escuridão, mas não tormento. As pessoas que
moravam nessa segunda câmara, diariamente, ficavam enviando seus clamores
a uma magnifica cidade vizinha, que era cheia de todas as coisas boas e
todos os deleites.
Eles choravam fortemente, para que soubessem o caminho para a cidade.
Entretanto, a floresta selvagem era tão grande e densa que eles não
podiam atravessá-la ou conseguir qualquer avanço, por causa da sua
densidade, e eles não tinham força para fazer um caminho nela. O que era
o pranto deles? O pranto era: ‘Ó, Deus, vinde e ajudai-nos, mostrai-nos o
caminho e iluminai-nos, estamos esperando por ti! Não podemos ser salvos
por ninguém, a não ser por ti’. Estes prantos vieram aos meus ouvidos no
paraíso e me levaram à misericórdia. Apaziguado por seus prantos, vim à
selva como um peregrino.
Mas, antes de começar a trabalhar e fazer o meu caminho, uma voz falou à
minha frente, dizendo: ‘O machado está posto na árvore’. Esta voz não era
outra a não ser a de João Batista. Ele foi enviado antes de mim e clamava
no deserto: ‘O machado está posto na árvore’, o que quer dizer: ‘Que a
raça humana esteja pronta, pois o machado agora está pronto, e ele veio
para preparar o caminho para a cidade; e está arrancando cada obstáculo’.
Quando eu vim, trabalhei do nascer ao pôr-do-sol, ou seja, me dediquei à
salvação da humanidade desde o momento da minha encarnação até minha
morte na cruz. No começo da minha tarefa, fugi de meus inimigos dentro da
selva, mais precisamente, de Herodes, que estava me perseguindo; fui
testado pelo demônio e sofri a perseguição dos homens. Posteriormente,
enquanto suportava bastante trabalho, comi e bebi e assumi, sem pecado,
outras necessidades naturais a fim de construir a fé e mostrar que Eu
realmente tinha assumido a natureza humana.
Enquanto eu preparava o caminho para a cidade eterna, ou seja, para o
paraíso, e derrubava todos os obstáculos que apareciam, arbustos e
espinhos arranhavam meu lado e unhas duras machucavam meus pés e mãos.
Meus dentes e meu rosto foram severamente maltratados. Aguentei isso com
paciência e não dei as costas, mas fui adiante ainda mais zelosamente,
como um animal levado pela fome, que quando vê um homem segurando uma
lança contra ele, avança contra a lança em seu desejo de pegar aquele
homem. E quanto mais o homem enfia a lança nas entranhas do animal, mais
o animal se arremete contra a lança em seu desejo de pegar o homem, até
que finalmente suas entranhas e todo seu corpo são perfurados aqui e ali.
Da mesma maneira, me inflamei com tanto amor pelas almas, que, quando
experimentei todos esses severos tormentos, quanto mais ávidos os homens
ficavam para me matar, mais ardente eu ficava em sofrer pela salvação das
almas.
Assim, Eu fiz o meu caminho na selva desse mundo e preparei uma estrada
através do meu sangue e suor. O mundo pode muito bem ser chamado uma
selva, já que era vazio de todas as virtudes e continuou uma selva de
vicio. Só havia uma estrada pela qual todos eram levados para o inferno,
os condenados à maldição, os bons à escuridão. Eu ouvi
misericordiosamente durante muito tempo, seus desejos de futura salvação
e vim, como um peregrino, para trabalhar. Desconhecido por eles, em minha
divindade e poder, preparei o caminho que leva ao Céu. Meus amigos viram
este caminho e observaram as dificuldades do meu trabalho e minha ânsia
de coração, e muitos deles me seguiram com alegria durante muito tempo.
Mas agora houve uma mudança na voz que costumava gritar: ‘Estejas
pronto!’ Meu caminho mudou, arbustos e espinhos cresceram, e aqueles que
estavam avançando nele, pararam. O caminho para o inferno se abriu. Ele é
largo, e muitas pessoas andam por ele. Entretanto, para não deixar meu
caminho completamente esquecido e negligenciado, meus poucos amigos ainda
andam nele em seu anseio na busca de seus lares celestes, como os
pássaros indo de arbusto em arbusto, escondidos, como era, e servindo-me
com medo, já que nos dias de hoje, todos pensam que andar pelo caminho do
mundo leva à felicidade e alegria.
Por essa razão, como minhas estradas se tornaram estreitas, enquanto a
estrada do mundo se alargou, Eu estou agora gritando aos meus amigos na
selva, ou seja, no mundo, que eles devem retirar os arbustos e espinhos
da estrada que leva ao Céu e recomendar o meu caminho àqueles que estão
fazendo seu caminho.
Como está escrito: ‘Bem-aventurados os que não me viram, e creram.’ Do
mesmo modo, felizes são aqueles que agora acreditam nas minhas palavras e
as põem em prática. Como vês, sou como uma mãe que corre para encontrar
seu filho perdido. Ela segura uma lâmpada para que ele, no caminho, possa
ver a estrada. Em seu amor ela vai encontrá-lo no caminho e encurtar sua
jornada. Ela vai até ele e o abraça e acolhe. Com um amor como este eu
correrei para encontrar meus amigos e todas as pessoas que regressam a
mim, e darei a luz da divina sabedoria aos seus corações e almas. Eu os
abraçarei com glória e os envolverei com a Corte Celeste onde não há nem
céu acima nem terra abaixo, mas somente a visão de Deus; onde não há nem
comida nem bebida, mas somente o prazer de Deus.
A estrada do inferno está aberta para o maus. Uma vez que eles entram
nela, nunca mais sairão. Eles ficarão sem glória ou felicidade e estarão
cheios de miséria e censura perpétuas. É, por isso, que falo estas
palavras e revelo este meu amor, para que aqueles que tenham se afastado,
possam voltar para mim e me reconhecer, seu Criador, a quem esqueceram.”
Palavras de Cristo à esposa sobre o porquê Ele falar com ela e não com
outros melhores que ela; sobre três coisas ordenadas, três proibições,
três proibidas e três permitidas, e três recomendadas à esposa;por
Cristo, a lição mais excelente.
Livro 2 - Capítulo 16
Muitas pessoas pensam, por que falo contigo e não com outros que vivem
uma vida melhor e tem me servido há mais tempo. Eu lhes respondo na forma
de uma parábola: Um certo senhor possui muitos vinhedos em várias regiões
diferentes. O vinho de cada vinhedo tem o sabor particular da região de
onde vem. Uma vez que o vinho foi comprimido, o dono dos vinhedos, às
vezes, bebe o vinho medíocre e mais fraco e não o melhor tipo. Se algum
dos presentes o vê e perguntar ao senhor deles por que ele faz isso, ele
responderá que esse vinho, em particular, tem um sabor bom e doce para
ele naquele momento. Isto não quer dizer que o senhor se desfez dos
melhores vinhos ou os desdenhou, mas que ele os reserva para seu uso e
privilégio em uma ocasião apropriada, cada um deles para a ocasião que
for apropriada. Esta é a forma que lido contigo.
Tenho muitos amigos, cujas vidas são mais doces do que o mel, mais
deliciosas que qualquer vinho, mais brilhantes à minha vista do que o
sol. Entretanto, me agrada escolher-te em meu Espírito, não por que és
melhor que eles, ou igual a eles, ou mais qualificada, mas por que Eu
quis – Eu, posso fazer sábios com os tolos e santos com os pecadores. Eu
não te concedo tão grande graça, porque ponho os outros em desdém. Ao
contrario, estou reservando-os para outro uso e privilégio como requer a
justiça. Então, humilha-te a ti mesmo, de todas as formas, e não deixes
nada perturbar-te a não ser teus pecados. Ame a todos, mesmo aqueles que
parecem te odiar e difamar, pois eles estão apenas te proporcionando uma
melhor oportunidade para ganhares tua coroa! Três coisas Eu ordeno-te que
faças. Três coisas Eu mando que não faças. Três coisas Eu permito que
faças. Três coisas Eu recomendo-te fazer.
Eu te mando fazer três coisas: Primeira, nada desejar, exceto teu Deus;
segunda, rejeitar todo orgulho e arrogância; terceira, sempre odiar a
luxúria da carne. Três coisas Eu ordeno que não faças. Primeira, não amar
em vão, nem discursos indecentes; segunda, não comer excessivamente nem
usar o supérfluo em outras coisas; terceira, fugir das alegrias mundanas
e frivolidades. Eu permito que você faça três coisas: Primeira, dormir
moderadamente para ter boa saúde; segunda, fazer vigílias moderadas para
treinar o corpo; terceira, comer moderadamente para o fortalecimento e
sustento do seu corpo.
Eu recomendo três coisas para você: Primeira, esforçar-te para jejuar e
realizar bons trabalhos que obtenham a promessa do Reino do Céu; segundo,
dispor tuas posses pela glória de Deus; terceira, Eu aconselho-te a
pensar continuamente em duas coisas em teu coração. Primeiro, penses em
tudo o que fiz, sofrendo e morrendo por ti; tal pensamento aumenta o amor
a Deus. Segundo, consideres minha justiça e o julgamento final. Isto
tranquiliza o temor em tua mente. Finalmente, há uma quarta coisa que eu
tanto peço como ordeno, como recomendo e permito. Isto é, obedecer como é
devido. Eu peço isso, já que sou teu Deus. Eu mando-te que não ajas de
outra forma, já que sou teu Senhor. Eu te permito isso, já que sou teu
Esposo. Eu também te recomendo isso, visto que sou teu Amigo”.
Palavras de Cristo à esposa sobre como a divindade de Deus pode ser
verdadeiramente chamada de virtude; sobre as várias quedas da humanidade
provocadas pelo demônio e sobre os vários remédios dados e providenciados
através de Cristo para ajudar a humanidade.
Livro 2 - Capítulo 17
O Filho de Deus falou à esposa dizendo: “Acreditas firmemente que aquilo
que o sacerdote segura em suas mãos é o corpo de Deus?” Ela respondeu: “Eu
firmemente acredito nisso, assim como o Verbo enviado à Maria se tornou
carne e sangue em seu ventre, como também o que agora vejo nas mãos do
sacerdote acredito ser verdadeiro Deus e homem”. O Senhor respondeu a
ela: “Eu sou o mesmo que está falando contigo permanecendo eternamente na
natureza divina, tendo me tornado humano no ventre da Virgem, mas sem
perder minha divindade. Minha divindade, certamente, pode ser chamada de
virtude, já que há duas coisas nela: o poder mais poderoso, a fonte de
todo poder, a sabedoria mais sabia a fonte e assento de toda sabedoria.
Nessa natureza divina todas as coisas que existem são ordenadas
sabiamente e racionalmente.
Não há um pequeno ponto no céu que não esteja nela e que não tenha sido
estabelecido ou previsto por ela. Nenhum único átomo na Terra ou faísca
no inferno está fora da sua regra e pode se esconder da sua presciência.
Você sabe por que Eu disse ‘nenhum pequeno ponto no céu’? Bem, um ponto
seria o traço final em uma palavra. De fato, a palavra de Deus é o traço
final em todas as coisas e foi determinado para a glorificação de todas
as coisas. Porque eu disse ‘nenhum único átomo na Terra,’ senão porque
todas as coisas terrestres são transitórias? Nem mesmo átomos, por
pequenos que sejam, estão fora do plano e da providência de Deus. Porque
eu disse ‘nenhuma faísca no inferno’, senão porque não há nada no inferno
exceto a inveja? Assim como a faísca vem do fogo, todos os tipos de
maldade e inveja vêm dos espíritos impuros, com o resultado que eles e
seus seguidores sempre tem inveja, mas nunca o amor de qualquer tipo
Portanto, o perfeito conhecimento e poder estão em Deus, e é por isso que
cada coisa é assim disposta, que nada é maior do que o poder de Deus, nem
nada pode ser feito contrário a razão, pois todas as coisas foram feitas
racionalmente, adequadas à natureza de cada coisa. Então, a natureza
divina, que pode corretamente ser chamada de virtude, mostrou sua maior
virtude na criação dos anjos. Ela os criou para sua própria glória e para
deleite deles, de forma que para isso eles devem ter caridade e
obediência; caridade, pela qual amem somente a Deus; obediência, pela
qual obedeçam a Deus em todas as coisas. Alguns dos anjos foram, por
maldade, desviados e, por maldade, colocaram sua vontade contra essas
duas coisas. Eles voltaram suas vontades diretamente contra Deus, ao
ponto de que a virtude se tornou odiosa para eles e, portanto, aquilo que
era oposto a Deus se tornou adorável a eles. Por causa dessa direção
desordenada da suas vontades, eles mereceram cair. Não foi Deus que
causou a queda deles, mas eles mesmos a causaram através do abuso de seus
próprios conhecimentos.
Quando Deus viu a redução no número da população da morada celestial que
tinha sido causada pelos seus pecados, Ele, novamente, mostrou o poder de
sua divindade. Em troca, ele criou os seres humanos em corpo e alma. Ele
lhes deu dois bens, ou seja, a liberdade para fazer o bem e a liberdade
para evitar o mal, porque, já que, mais nenhum anjo seria criado, foi
conveniente que os seres humanos deveriam ter a liberdade para subir, ao
patamar angelical, se desejassem. Deus também deu à alma humana dois
bens, isto é, uma mente racional, com a finalidade para distinguir uma
coisa da outra e o melhor do excelente; e a fortaleza para perseverar no
bem. Quando o demônio viu este amor de Deus pela humanidade, ele o
considerou, então, em sua inveja: ‘Deus criou algo novo que pode subir ao
nosso lugar e, pelo seu próprio esforço, ganhar aquilo que perdemos por
negligência!
Se nós conseguirmos enganá-lo e causar sua queda, ele vai parar seus
esforços e, então, ele não vai subir a tal nível’. Então, tendo feito um
plano de embuste, eles enganaram o primeiro homem e prevaleceram sobre
ele com minha justa permissão. Mas, como e quando o homem foi derrotado?
Na verdade, quando ele deixou de lado a virtude e fez o que era proibido,
quando a promessa da serpente o agradou mais do que a obediência a mim.
Devido a esta desobediência, ele não poderia viver no paraíso, já que ele
tinha desprezado a Deus, e nem no inferno, já que sua alma, usando a
razão, examinou cuidadosamente o que tinha feito e teve arrependimento de
seu crime.
Por esse motivo, o Deus de virtude, considerando a desgraça humana,
arranjou um tipo de aprisionamento ou lugar de cativeiro, onde as pessoas
pudessem reconhecer suas fraquezas e se reparar quanto a sua
desobediência, até que merecessem alcançar o nível que eles perderam. O
demônio, enquanto isso, levando isso em consideração, quis matar a alma
humana por meio da ingratidão. Injetando sua imundície dentro da alma,
ele tanto escureceu seu intelecto que ela não tinha nem amor nem temor de
Deus. A justiça de Deus foi esquecida e seu julgamento desprezado. Por
essa razão, a bondade e os dons de Deus não eram mais apreciados, e caíram
no esquecimento.
Assim, Deus não foi amado, e a consciência humana estava tão escurecida
que a humanidade ficou em um estado desprezível e caiu ainda em maior
desgraça. Embora a humanidade estivesse em tal estado, ainda a virtude de
Deus não faltava; em vez disso, Ele revelou sua misericórdia e justiça.
Ele mostrou sua misericórdia quando revelou a Adão e outras boas pessoas
que eles poderiam obter ajuda em um tempo pré-determinado. Isto incitou o
fervor e o amor deles a Deus. Ele também revelou sua justiça através do
dilúvio no dia de Noé, que encheu os corações humanos com o temor de
Deus. Mesmo depois daquilo, o demônio ainda não deixou de molestar, mais
tarde, a humanidade, e a atacou por meio de outras duas maldades.
Primeira, ele inspirou a incredulidade nas pessoas; segunda, a
desesperança. Ele inspirou a incredulidade para que as pessoas não
pudessem acreditar na palavra de Deus, mas pudessem atribuir seus
milagres à sorte. Ele inspirou a desesperança para que não esperassem
serem salvos e obtivessem a glória que haviam perdido.
O Deus da Virtude forneceu dois remédios para combater essas duas
maldades. Contra a desesperança, ofereceu a esperança, dando a Abraão um
novo nome e prometendo-lhe que do seu sêmen nasceria aquele que lhe
conduziria e aos seguidores de sua fé, de volta à herança perdida. Ele
também apontou profetas aos quais ele revelou a forma de redenção, e os
tempos e locais de seu sofrimento. A respeito da segunda maldade, da
incredulidade, Deus falou a Moisés e lhe revelou sua vontade e sua Lei,
apoiando suas palavras com presságios e ações. Embora, tudo isso tenha
sido feito, ainda o demônio não desistiu de sua maldade. Constantemente
instiga a humanidade a piores pecados, inspira outras duas atitudes no
coração humano: primeira, considerar a lei como insuportável e que faz
perder a paz do coração o tentar cumpri-la; segunda, inspira a ideia de
que a decisão de Deus de morrer e sofrer por caridade é incrível e muito
difícil de acreditar.
Novamente, Deus proporcionou dois remédios para essas duas maldades.
Primeiro, ele enviou seu próprio Filho ao ventre da Virgem a fim de que
ninguém perdesse a paz da mente sobre quão difícil de ser cumprida era a
prática da Lei, já que tendo assumido a natureza humana, seu Filho
cumpriu as exigências da Lei e então a tornou menos rigorosa. A respeito
da segunda maldade, Deus demonstrou a perfeição da virtude. O Criador
morreu pela criação, o justo pelos pecadores. Inocente, Ele sofreu até a
última gota, como tinha sido dito pelos profetas. Mesmo assim, a
perversidade do demônio não cessou, e novamente ele se levantou contra a
humanidade, inspirando mais duas maldades. Primeiro, inspirou o coração
humano a desprezar minhas palavras, segundo, a levar meus feitos a caírem
no esquecimento.
A virtude de Deus começou, novamente, a indicar dois novos remédios
contra esses dois males. O primeiro é honrar minhas palavras e se
responsabilizar por imitar minhas ações. É, por isso, que Deus os guia
por seu Espírito. Ele também revelou sua vontade na Terra para seus
amigos através de ti por duas razões em particular. A primeira é para
revelar a misericórdia de Deus, de forma que as pessoas possam aprender a
se lembrar do amor e sofrimento de Deus. A segunda, é para lembrá-los da
justiça de Deus e para fazê-los temer a severidade do meu julgamento.
Portanto, diga a este homem que, em vista de que minha misericórdia já
veio, ele deve trazê-la à luz para que as pessoas possam aprender a
buscar a misericórdia e ficarem atentas aos próprios julgamentos. Além
disso, diga a ele que, embora minhas palavras tenham sido escritas, elas
ainda devem primeiro ser pregadas e colocadas em prática. Podes entender
isso por meio de uma metáfora. Quando Moisés estava para receber a Lei,
um cajado foi feito e duas tabuas de pedras foram cortadas. Entretanto,
ele não fez milagres com o cajado até que houvesse uma necessidade e a
ocasião demandasse isso. Quando a hora certa chegou, houve uma
demonstração de milagres e minhas palavras foram provadas pelos feitos.
Do mesmo modo, quando a Nova Lei chegou, primeiro meu corpo cresceu e se
desenvolveu até o momento adequado, e a partir daí minhas palavras foram
ouvidas. Entretanto, embora minhas palavras tenham sido ouvidas, elas
ainda não tiveram força e resistência em si até serem acompanhadas pelos
meus feitos. E elas não foram cumpridas até que cumpri todas as coisas
que foram profetizadas sobre mim através da minha paixão. Agora é a mesma
coisa. Embora minhas palavras de amor tenham sido escritas e devessem ser
transmitidas ao mundo, elas ainda não podem ter nenhuma força até que
sejam completamente trazidas à luz.”
Sobre três coisas maravilhosas que Cristo fez à esposa; sobre como a
visão dos anjos é muito bela e a dos demônios muito feia, tão feia para a
natureza humana suportar; e sobre por que Cristo condescendeu a vir como
um hóspede a uma viúva como ela.
Livro 2 - Capítulo 18
Eu fiz três coisas maravilhosas para ti. Tu vês com os olhos espirituais.
Ouves com ouvidos espirituais. Com o toque físico da tua mão sentes meu
Espírito no teu peito. Tu não vês como é de fato, a visão que enxergas.
Porque se visses a beleza espiritual dos anjos e das almas santas, teu
corpo não poderia suportar vê-las e quebraria como um vaso, quebrado e
decaído, devido a alegria da alma nessa visão. Se visses os demônios como
eles são, ou continuarias vivendo com grande tristeza ou morrerias
subitamente frente à terrível visão deles. É por isso, que os seres
espirituais aparecem para ti como se tivessem corpo.
Os anjos e as almas aparecem para ti na semelhança de seres humanos que
têm alma e vida, porque os anjos vivem pelo seus espíritos. Os demônios
aparecem para ti em uma forma que é mortal, e pertencem à mortalidade,
tais como animais ou outras criaturas. Tais criaturas possuem um espírito
mortal, pois quando seus corpos morrem seus espíritos também morrem.
Entretanto, os demônios não morrem em espírito, mas estão para sempre
morrendo e vivem para sempre. As palavras espirituais te são ditas por
meio de analogias, já que não podes compreendê-las de outra forma. A
coisa mais maravilhosa de tudo é que tu sentes a moção de meu Espírito em
teu coração.”
Então ela replicou: “Ó, meu Senhor, Filho da Virgem, por quê
condescendestes a vir como um hóspede a uma viúva tão comum, que é pobre
em todo o trabalho bom e tão fraca na compreensão e no discernimento e
cheia de pecado por tanto tempo?” Ele respondeu: “Eu posso fazer três
coisas. Primeira, Eu posso fazer, capaz e inteligente, uma pobre pessoa
rica, e uma pessoa tola, de pouca inteligência. Eu também sou capaz de
dar juventude à uma pessoa velha. É como a fênix que reagrupa galhos
secos. Entre eles há galhos de árvores que são secos por natureza, do
lado de fora, mas úmidos por dentro. O calor dos raios solares vem nele
primeiro e o acende e, depois todos os galhos pegam fogo a partir dele.
Da mesma maneira tu deves juntar as virtudes pelas quais podes ser
reparada a partir de teus pecados.
Entre eles, podes ter um pedaço de madeira que seja úmido por dentro e
seco por fora; Eu quero dizer, teu coração, que pode estar seco e puro de
toda sensualidade mundana, por fora, e tão cheio de amor por dentro, que
não precisas de nada e nem anseias por nada, que não seja Eu. Então, o
fogo do meu amor virá primeiro em teu coração, e desse modo serás
incendiada com todas as virtudes. Completamente queimada por elas e
purificada dos pecados, surgirás como o pássaro rejuvenescido, tendo
tirado todos os pecados de sensualidade”.
Palavras de Cristo à esposa sobre como Deus fala a seus amigos através de
seus pregadores e por meio dos sofrimentos; como Cristo é simbolizado por
um apicultor, a Igreja uma colmeia, e os Cristãos abelhas; e sobre como
os maus Cristãos são permitidos viver entre os bons.
Livro 2 - Capítulo 19
Eu sou teu Deus. Meu Espírito te levou a ouvir, a ver e a sentir: a ouvir
minhas palavras, a ter visões e a sentir Meu Espírito com o gozo e a
devoção da tua alma. Toda misericórdia se encontra em Mim junto com a
justiça, e há misericórdia em minha justiça. Eu sou como um homem que vê
seus amigos se afastarem dele, para baixo, por um caminho onde há um
terrível abismo do qual é impossível subir. Eu falo a esses amigos
através das pessoas que tem entendimento da Escritura. Eu falo com um
alerta; Eu os aviso do perigo. Mas, eles somente agem de forma contrária.
Eles se encaminham para o impasse e não se importam com o que eu digo.
Tenho apenas uma coisa a dizer: ‘Pecador, voltai para mim! Seguistes para
o perigo; há armadilhas, ao longo do caminho, do tipo que ficam ocultas
para ti devido à escuridão do teu coração’. Eles desprezam o que eu falo.
Ignoram minha misericórdia. Entretanto, embora minha misericórdia seja
tal que Eu previno os pecadores, minha justiça é tal que, mesmo que todos
os anjos fossem puxá-los de volta, eles não poderiam se converter
enquanto eles mesmos não dirigissem sua vontade para o bem. Se eles
voltassem sua vontade para mim e me dessem o consentimento de seus
corações, nem todos os demônios juntos poderiam impedi-los.
Existe um inseto conhecido como abelha que é mantida por seu senhor e
mestre. As abelhas mostram respeito de três formas a sua regente, a
abelha rainha, e recebem seus benefícios dela, de três formas. Primeiro,
as abelhas carregam todo o néctar que encontram para sua rainha. Segundo,
elas ficam ou se apresentam à sua disposição, e para onde quer que voem
ou onde quer que apareçam, seu amor e caridade são sempre para a rainha.
Terceiro, elas seguem e servem a ela, se colocando sempre a seu lado. Em
recompensa por essas três coisas, as abelhas recebem um benefício triplo
de sua rainha.
Primeiro, por sinal dá a elas um tempo estabelecido para saírem e
trabalharem. Segundo, ela lhes dá diretivas e amor mútuo. Por causa de
sua presença e regras e por causa do amor que a rainha tem por elas, e
elas para com a rainha, todas as abelhas são unidas entre si com amor e
cada uma se regozija com as outras no seu progresso. Terceiro, elas são
produtivas por meio do amor mútuo e da alegria de sua líder. Assim como
os peixes descarregam seus ovos enquanto brincam juntos no mar, e seus
ovos caem no mar e são fertilizados, assim também as abelhas são feitas
produtivas, através de seu amor mútuo e do afeto e alegria de sua rainha.
Através do meu impressionante poder, uma semente, aparentemente sem vida,
emerge do amor delas e vem a receber vida através da minha bondade.
O mestre, ou seja, o apicultor, fala com seus servos mostrando interesse
pelas abelhas: ‘meu servo, ’ ele diz, ‘parece que minhas abelhas estão
doentes e não voam mais.’ O servo responde: ‘Eu não entendo esta doença,
mas se ela é assim, eu te pergunto como posso aprender sobre ela?’ O
mestre responde: ‘Tu podes deduzir sobre a doença ou o problema delas,
através de três sinais. O primeiro sinal é que elas estão fracas e lentas
no voo, o que significa que elas perderam a rainha da qual recebam força
e consolação. O segundo sinal é que elas saem por horas, aleatoriamente e
sem planejamento, o que significa que não estão recebendo o sinal do
chamado de sua líder.
O terceiro sinal é que elas não demonstram nenhum amor pela colmeia, e,
assim, voltam para casa, sem carregar nada, satisfazendo-se, mas não
trazendo néctar para sobreviverem no futuro. Abelhas saudáveis são
estáveis e fortes no voo. Elas têm horas marcadas para saírem e
retornarem, trazendo cera para construir suas moradas e mel para sua
nutrição.’ O servo responde ao mestre: ‘Se elas estão inúteis e doentes,
por quê permites que continuem saindo ao invés de acabar com elas?’ O
apicultor respondeu: ‘Eu permito que elas vivam por três razões, já que
elas proveem três benefícios, embora não pelo próprio poder.
Primeiro, por que elas ocupam as colmeias preparadas para elas, as moscas
não vêm e ocupam as colmeias vazias perturbando as abelhas boas que
permanecem. Segundo, outras abelhas se tornam mais produtivas e aplicadas
no trabalho devido à ruindade das abelhas más. As abelhas produtivas veem
as abelhas más e improdutivas trabalhando somente para satisfazer seus
próprios desejos, e elas se tornam mais diligentes em seu trabalho de
coletar para a rainha à medida que as abelhas ruins são vistas coletando
para seus próprios desejos. Em terceiro lugar, as abelhas más são úteis
para as abelhas boas quando vêm para sua mútua defesa. Para isso, há um
inseto voador acostumado a comer abelhas. Quando as abelhas percebem esse
inseto se aproximando todas elas o repudiam em comum.
Embora as más abelhas lutem e o odeiem, por inveja e autodefesa, enquanto
as boas o fazem por amor e justiça, ambas, abelhas boas e más, trabalham
juntas, para atacarem esses insetos. Se todas as abelhas más fossem
banidas e só restassem as boas, estes insetos iriam facilmente prevalecer
sobre elas, já que então seriam poucas. É por isso, disse o mestre, ‘que
eu suporto as abelhas más. Entretanto, quando o outono chega, Eu cuidarei
das abelhas boas, e as separarei das abelhas más, pois se elas fossem
deixadas fora da colmeia, morreriam de frio.
Mas, se elas continuam dentro e não coletam, elas vão correr o risco de
inanição, já que se omitiram de coletar alimento quando podiam.’
Eu sou Deus, o Criador de todas as coisas; Sou o Dono e Senhor das
abelhas. Pelo meu amor ardente e pelo meu sangue eu fundei minha colmeia,
ou seja, a Santa Igreja, na qual os Cristãos devem trabalhar e habitar em
unidade de fé e de amor mútuo. Sua morada são seus corações e o mel de
bons pensamentos e afeições devem residir neles. Este mel deve ser
trazido para lá, através da consideração do meu amor pela criação, de meu
trabalho na Redenção, da minha paciente tolerância e da misericórdia em
chamar de volta e recuperar.
Nesta colmeia, ou seja, na Santa Igreja, há dois tipos de pessoas, assim
como há dois tipos de abelhas. Os primeiros são aqueles cristãos maus que
não coletam néctar para mim, mas para eles mesmos. Eles retornam sem nada
e não reconhecem seu líder. Eles possuem um ferrão em vez de mel e
luxúria em vez de amor. As boas abelhas representam os bons Cristãos.
Eles me demonstram respeito de três maneiras. Primeiro, eles me têm como
seu líder e Senhor, oferecendo-me mel doce, ou seja, trabalhos de
caridade, que são agradáveis a mim e úteis para eles. Segundo, eles
aguardam minha vontade. A vontade deles concorda com a minha, todos os
seus pensamentos estão em minha Paixão, todas as suas ações são para a
minha glória. Terceiro, eles me seguem, ou seja, eles me obedecem em
tudo.
Onde quer que estejam, fora ou dentro, tristes ou alegres, seus corações
estão sempre ligados ao meu. É por isso que eles obtêm benefícios meus de
três formas. Primeiro, pelo chamado da virtude e minha inspiração, eles
possuem tempo fixo e certo, escuridão durante a noite e luz durante o
dia. De fato, eles mudam a noite pelo dia, ou seja, a felicidade mundana
pela felicidade eterna e a felicidade perecível pela estabilidade sem
fim. Eles são sensíveis em todos os aspectos, já que fazem uso de seus
bens presentes para suas necessidades; eles são leais na adversidade,
cautelosos no sucesso, moderados nos cuidados ao corpo, e cuidadosos e
circunspectos em suas ações. Segundo, como as abelhas boas, eles têm amor
mútuo, de forma que são todos um só coração para comigo, amando seu
próximo como a si mesmos e a mim acima de tudo, mesmo acima deles.
Terceiro, eles se tornam produtivos através de mim. O que é ser produtivo
senão ter meu Espírito Santo e ser cheio dele? Qualquer um que não O
possua e não tenha seu mel é improdutivo e inútil; ele cai e perece.
Entretanto, o Espírito Santo coloca a pessoa no qual habita, abrasada por
seu amor divino; ele abre os sentidos da sua mente; ele arranca o orgulho
e a incontinência; ele estimula a alma para a glória de Deus e ao
desprezo do mundo.
As abelhas improdutivas não conhecem este Espírito e, portanto, desdenham
a disciplina, fugindo da unidade e do companheirismo do amor. Elas são
vazias de boas ações; trocam a luz do dia pela escuridão, a consolação pela
lamentação, a felicidade pela tristeza. Apesar disso, Eu os deixo viver
por três motivos. Primeiro, para que as moscas, isto é, os pagãos, não
entrem nas moradas que foram preparadas. Se os maus fossem removidos
todos de uma vez, seriam deixados muito poucos bons Cristãos, e por causa
desse baixo número, os pagãos estariam em maioria, viriam e viveriam lado
a lado com eles, causando-lhes muita perturbação. Segundo, eles são
tolerados para testar os bons Cristãos, pois, como sabes, a perseverança
das pessoas boas é colocada em teste pela maldade dos maus.
A adversidade revela quão paciente uma pessoa é, enquanto a prosperidade
torna claro quão perseverante e controlada ela é. Já que os vícios os
incitam a boas características de tempo em tempo, e as virtudes podem
muitas vezes fazer as pessoas orgulhosas, aos maus, é permitido viver ao
lado dos bons, para que os bons não se enfraqueçam por causa de tanta
alegria ou adormeçam na indolência e, também, para que eles possam
frequentemente fixar sua atenção em Deus. Onde há pouco esforço também há
pouca recompensa. Em terceiro lugar, eles são tolerados em benefício
deles, para que nem os gentios nem outros hostis infiéis possam ferir
aqueles que parecem ser bons Cristãos, mas para que possam temê-los,
porque há mais deles. Os bons oferecem resistência aos maus por Justiça e
amor de Deus, enquanto os maus fazem isso somente por defesa própria e
para evitar a fúria de Deus. Assim, os bons e os maus se ajudam uns aos
outros, resultando na tolerância dos maus por causa dos bons e os bons
recebem uma coroa maior por conta da maldade dos maus.
Os apicultores são os prelados da Igreja e os príncipes da Terra, bons ou
maus. Eu falo aos cultivadores bons e Eu, seu Deus e Cultivador,
advirto-os para manterem minhas abelhas seguras. Que ele considerem as
idas e vindas das abelhas! Que tomem nota se estão saudáveis ou doentes!
Se acontecer deles não saberem como discernir isto, aqui estão três
sinais que lhes dou para eles reconhecerem. As abelhas são inúteis se
estão indolentes no voo, irregulares em suas horas e não contribuem em
nada para trazer o mel. As indolentes no voo são aquelas que mostram
maior interesse para os bens temporários do que para os eternos, que
temem a morte do corpo mais do que a morte da alma, que dizem para si
próprias: ‘Por quê eu deveria estar cheia de inquietações, quando eu
posso estar quieta e em paz? Por quê eu devo morrer para mim se eu posso
viver?’
Estas infelizes não refletem sobre como Eu, o poderoso Rei da Glória,
escolhi ser fraco. Eu conheço a maior quietude e paz, e de fato, Eu sou a
paz, e apesar disso, por elas, escolhi abrir mão da paz e da quietude,
através da minha própria morte. Elas são irregulares em suas horas onde
suas afeições tendem para o mundano, suas conversas tendem para a
indecência, seu trabalho para o egoísmo, e organizam seu tempo de acordo
com a vontade de seus corpos. Aquelas que não possuem nenhum amor pela
colmeia e não coletam néctar, são as que fazem algumas boas ações por
minha causa, mas apenas por medo de punição. Mesmo que elas façam alguns
trabalhos de piedade, ainda não desistem do seu egoísmo e pecado. Querem
ter Deus, mas sem desistir do mundo ou aguentar qualquer desejo ou
dificuldade.
Estas abelhas são do tipo que correm para casa com as patas vazias, e sua
corrida é insensata, pois que elas não voam com a especie de amor
correta. Consequentemente, quando chega o outono, isto é, quando vem o
tempo da separação, as abelhas inúteis serão separadas das boas e elas
sofrerão fome eterna em troca do seu amor e desejos egoístas. Em troca,
por desdenhar Deus e pela aversão delas à virtude, serão destruídas por
frio excessivo, mas sem serem consumidas.
De qualquer forma, meus amigos devem estar alertas contra três maldades
das abelhas más. Primeiro, para não permitir que a podridão delas entre
nos ouvidos dos meus amigos, pois as abelhas más são venenosas. Quando o
mel delas se vai, nada doce fica nelas; ao invés, elas ficam repletas de
amargura envenenada. Segundo, eles devem proteger as pupilas de seus olhos
contra as asas das abelhas más, que são tão cortantes quanto as lâminas.
Terceiro, eles devem tomar cuidado para não expor seus corpos às caudas
das abelhas, pois elas possuem ferrões que picam agudamente. Os
instruídos que estudam seus hábitos e temperamento podem explicar o
significado destas coisas. Aqueles que são incapazes de compreender
deveriam estar precavidos dos riscos e evitar sua companhia e exemplo.
Senão, eles aprenderão, por experiência, o que não souberam aprender
escutando.”
Então sua Mãe disse: “Abençoado és tu, meu Filho, tu que és, foste, e
sempre serás! Tua misericórdia é doce e tua justiça grande. Tu me fazes
lembrar, meu Filho – falando figurativamente – de uma nuvem subindo ao
céu por uma brisa leve. Um ponto escuro apareceu na nuvem e uma pessoa
que estava ao ar livre, sentindo a leve brisa, levantou seus olhos, viu a
nuvem escura e pensou consigo: ‘Esta nuvem escura me parece indicar
chuva.’ E, prudentemente, ela correu para dentro de um abrigo e se
escondeu da chuva.
Outros, entretanto, que eram cegos ou que talvez não tomaram cuidado,
fizeram pouco da brisa leve e não ficaram com medo da nuvem escura,
embora tenham aprendido pela experiência o que a nuvem significava. A
nuvem, tomando conta de todo o céu, veio com violenta comoção, tão
furiosa e poderosa como fogo, que as coisas vivas expiraram sob essa
comoção. O fogo tanto consumiu todas as partes internas e externas do
homem, que nada sobrou.
Meu Filho, esta nuvem são tuas palavras, as quais parecem escuras e
inacreditáveis para muitas pessoas, já que elas não as escutaram muito e
já que elas foram dadas às pessoas ignorantes e não tenham sido
confirmadas por sinais. Estas palavras foram precedidas por minha prece e
pela misericórdia que tens por cada um e, como uma mãe, atrai todos a Ti.
A misericórdia é tão leve quanto uma brisa suave por causa da tua
paciência e permissão. Ela é aquecida com o amor com o qual tu ensinas
misericórdia àqueles que te provocam ira e ofereces bondade àqueles que
te desprezam. Portanto, possam todos aqueles que ouvem estas palavras
levantar seus olhos, ver e reconhecer a sua fonte. Eles devem considerar
se estas palavras significam compaixão e humildade. Eles devem refletir
se as palavras significam coisas presentes ou futuras, verdade ou falsidade.
Se eles acharem que as palavras são verdadeiras, deixe-os correrem para
um abrigo, isto é, à verdadeira humildade e amor de Deus. Porque, quando
a justiça vier, a alma estará, então, separada do corpo, engolfada pelo
fogo e queimada externa e internamente. Para ser mais exata, irá queimar,
mas não será consumida. Por esta razão, Eu, a Rainha da misericórdia,
clamo aos habitantes do mundo: que levantem seus olhares e enxerguem a
misericórdia! Eu admoesto e suplico como uma mãe; eu aconselho como uma
senhora soberana.
Quando a justiça vier, será impossível resistir a ela. Portanto, tenha
confiança e seja considerada, teste a verdade em tua consciência, mude
tua vontade, então Aquele que te mostrou palavras de amor também mostrará
os feitos e provas de amor!” Então o Filho falou para mim, dizendo:
“Acima, considerando as abelhas, Eu te mostrei que elas recebem três
benefícios de sua rainha. Agora te digo que aqueles cruzados que eu tenho
colocado nas fronteiras das terras cristãs deveriam ser abelhas como
aquelas. Mas, agora eles estão lutando contra mim, porque eles não se
preocupam com as almas e não possuem nenhuma compaixão dos corpos
daqueles que se converteram do erro para a fé Católica e para mim.
Eles os oprimem com dificuldades e os privam de suas liberdades. Eles não
os instruem na fé, mas os privam dos sacramentos e os mandam para o
inferno com uma punição maior do que se eles tivessem permanecido em seu
paganismo tradicional.
Alem disso, eles lutam somente para elevar seu próprio orgulho e aumentar
sua ambição. Portanto, o tempo está chegando para eles quando os seus
dentes rangerão, sua mão direita será mutilada, seu pé direito decepado,
para que eles possam viver e conhecer a si mesmos.”
O desgosto de Deus com respeito a três homens que vão agora pelo do
mundo; sobre como, desde o principio Deus estabeleceu três estados
nomeados, o do clero, o dos defensores e dos trabalhadores; sobre a
punição preparada para os ingratos, e sobre a glória dada aos gratos.
Livro 2 - Capítulo 20
O grande anfitrião do Céu foi visto, e Deus falou a ele, dizendo: “Embora
tu conheças e vejas todas as coisas em mim, entretanto, por que este é
meu desejo, Eu vou declarar minha queixa diante de ti, referente a três
coisas. A primeira é que aquelas formosas colmeias, que foram construídas
no Céu desde toda eternidade e das quais aquelas abelhas inúteis foram
expulsas, estão vazias. A segunda é que a cova sem fundo, contra a qual
nem pedras nem árvores são de nenhuma ajuda, continua sempre aberta. As
almas descem para dentro dela como neve caindo do céu para a terra. Assim
como o sol dissolve a neve em água assim também, as almas são dissolvidas
de todo bem por aquela terrível tormenta e são renovadas para cada
punição. Minha terceira queixa é que poucas pessoas percebem a queda das
almas ou as moradas vazias das quais os anjos maus se desviaram.
Portanto, Eu estou correto em me queixar.
Desde o princípio escolhi três homens. Desta forma estou falando
figurativamente de três estados no mundo. Primeiro, Eu escolhi o clérigo
para proclamar minha vontade em suas palavras e demonstrá-las em suas
ações. Segundo, Eu escolhi um defensor para defender meus amigos com sua
própria vida e estarem prontos para qualquer tarefa por mim. Terceiro,
escolhi um trabalhador para trabalhar com suas mãos a fim de prover
alimento para o corpo através de seu trabalho.
O primeiro homem, isto é, o clero, agora está leproso e mudo. Qualquer um
que olhe para ver um caráter bom e virtuoso nele, se contrai ante a visão
e treme para se aproximar dele devido à lepra de seu orgulho e ambição.
Quando ele quer ouvi-lo, o sacerdote está mudo para me glorificar, mas
tagarela para glorificar a si mesmo.
Então, como é o caminho a ser aberto que leva a grande alegria, se aquele
que deve estar liderando é tão fraco? E se aquele que deve estar
proclamando o caminho é mudo, como será ouvido sobre essa grande alegria?
O segundo homem, o defensor, treme em seu coração e suas mãos estão
desocupadas? Ele treme causando escândalo no mundo e perde sua reputação.
Suas mãos estão desocupadas pois ele não realiza nenhum trabalho santo.
Ao invés disso, tudo o que ele faz é para o mundo. Então, quem irá
defender meu povo se aquele que deveria ser seu líder está com medo?
O terceiro homem é como um asno que abaixa a cabeça para o chão e fica
com suas quatro patas juntas. De fato, as pessoas são como um asno que
não almeja nada, a não ser coisas da terra, que negligenciam as coisas do
Céu e vão à busca de bens perecíveis. Elas possuem quatro patas já que
possuem pouca fé e a sua esperança é vã; terceiro, elas não têm bom
trabalhos; e quarto, elas estão inteiramente propensas a pecar. É por
isso, que a boca deles sempre está aberta para a gulodice e a ambição.
Meus amigos, como pode aquela cova infindável ser reduzida ou o favo ser
preenchido por pessoas como estas?”
A Mãe de Deus respondeu: “Bendito sejas, meu Filho! Tua reclamação é
justificada. Teus amigos e eu temos apenas uma palavra de desculpa para
salvar a raça humana. Ela é assim: ‘Tenha misericórdia, Jesus Cristo,
Filho do Deus Vivo!’ Este é meu clamor e o de teus amigos.” O Filho
replicou: “Tuas palavras são doces para meus ouvidos, seu sabor deleita
minha boca, elas entram em meu coração com amor. Eu tenho um clérigo, um
defensor e um camponês O primeiro me agrada como uma esposa por quem um
honesto noivo anseia e espera com divino amor. Sua voz será como a voz de
uma fala clamorosa que ecoa nas florestas. O segundo estará pronto para
dar sua vida por mim e não irá temer a censura do mundo. Eu vou armá-lo
com as armas do meu Santo Espírito. O terceiro terá uma fé tão firme que
irá dizer: ‘Eu acredito tão firmemente quanto se eu visse o que eu
acredito. Eu espero por todas as coisas que Deus prometeu.’ Ele terá a
intenção de fazer o bem e crescer na virtude evitando o mal.
Na boca do primeiro homem Eu devo colocar três falas para ele proclamar.
Sua primeira proclamação será: ‘Deixe aquele que tem fé por em pratica
aquilo em que ele acredita!’ A segunda: ‘Deixe aquele que tem uma firme
esperança ser constante em toda boa ação’. A terceira: ‘‘Deixe aquele que
ama perfeitamente e com caridade ansiar fervorosamente por ver o objeto
de seu amor!’ O segundo homem trabalhará como um leão forte, tomando
precauções cautelosas contra a traição e perseverando com estabilidade. O
terceiro homem será tão esperto quanto uma serpente que se põe de pé
apoiada em sua cauda e levanta sua cabeça para os céus. Estes três
realizarão minha vontade. Outros os seguirão. Embora Eu fale de três, com
isso quero dizer muitos.” Depois Ele falou para a esposa dizendo: “Sejas
firme! Não te preocupes com o mundo ou suas censuras, pois Eu, que ouvi
todos os tipos de censura, sou teu Deus e Senhor.”
As palavras da gloriosa Virgem para sua filha sobre como Cristo foi
tirado da cruz; sobre sua própria amargura e doçura na Paixão de seu
Filho; sobre como a alma é simbolizada por uma virgem; o amor do mundo e
o amor de Deus por dois jovens; e sobre as qualidades que a alma tem que
ter como uma virgem.
Livro 2 - Capítulo 21
Maria falou: “Você deve refletir sobre cinco coisas, minha filha.
Primeira, como cada membro no corpo do meu Filho foi ficando rigido e
frio na sua morte e como o sangue que fluia de suas feridas com
sofrimento secava e aderia a cada membro. Segunda, como Seu coração foi
perfurado tão amargamente e sem misericórdia que um homem o transpassou
até que a lança atingiu uma costela, e ambas as partes do coração ficaram
na lança. Terceira, reflita sobre como Ele foi retirado da cruz! Os dois
homens que o desceram fizeram uso de três escadas: uma alcançou seus pés,
a segunda logo abaixo de suas axilas e braços , a terceira o meio de seu
corpo.
O primeiro homem O levantou e segurou pelo meio. O segundo, subindo na
outra escada, primeiro puxou um prego de uma mão, depois moveu a escada e
puxou o prego da outra mão. Os pregos se prolongavam pela trave-mestra. O
homem que estava suportando o peso do corpo, então, desceu tão devagar e
cuidadosamente quanto pode, enquanto o outro homem subiu na escada que ia
até os pés e puxou os pregos dos pés. Quando ele foi baixado no chão, um
deles segurou o corpo pela cabeça e o outro pelos pés. Eu, sua Mãe, O
segurei pela cintura. E, então, nós tres O carregamos até uma pedra que
eu tinha coberto com um lençol limpo e no qual nós enrolamos Seu corpo.
Eu não costurei o lençol, porque eu sabia que ele não decairia na
sepultura.
Depois disso, veio Maria Madalena e outras santas mulheres. Anjos,
também, tantos quanto os átomos do sol, estavam lá, demonstrando sua
fidelidade ao seu Criador. Não se pode contar quanta tristeza eu tinha
naquele momento. Eu estava como uma mulher dando a luz que treme todos os
membros de seu corpo após o nascimento. Embora ela mal possa respirar
devido a dor, ainda ela se regozija interiormente, o quanto pode, porque
ela sabe que a criança a qual deu a luz, nunca voltará à mesma
experiencia dolorosa que ele acabou de passar. Da mesma maneira, embora
nenhuma tristeza pudesse ser comparada à minha tristeza, sobre a morte do
meu Filho, eu ainda me regozijava na minha alma, porque eu sabia que meu
Filho nunca mais morreria mas viveria para sempre.
Assim, minha tristeza era misturada com uma medida de alegria. Eu
realmente posso dizer que existiam dois corações na sepultura que meu
Filho foi enterrado. Não é dito que: ‘Onde seu tesouro está, também está
seu coração? Da mesma forma, meu coração e minha mente estavam
constantemente indo à sepultura do meu Filho.” Depois, a Mãe de Deus
continuou dizendo: “Eu posso descrever este homem por intermedio de uma
metáfora, em que situação ele estava, em que tipo de situação e com o que
a atual situação dele é parecida. É como uma virgem que foi prometida a
um homem e tinha dois jovens diante dela. Um deles tendo sido abordado
pela virgem, disse a ela: ‘Eu te alerto para não confiares no homem para
quem foste prometida. Ele é rigido em suas ações, atrasa o pagamento, é
mesquinho em dar presentes. De preferencia, confie em mim e nas palavras
que eu te digo, e eu mostrar-te-ei outro homem que não é rigido, é sempre
gentil em tudo, que te dará o que precisas na mesma hora, e te dará
muitos presentes agradaveis e deleitaveis.’
A virgem, ouvindo isto e pensando consigo mesma, respondeu: ‘Tuas
palavras são boas de ouvir. Tu mesmo és gentil e atraente aos meus olhos.
Eu acho que vou seguir teu conselho.’ Quando ela tirou seu anel para dar
ao jovem, ela viu três dizeres escritos nele. O primeiro era: ‘Quando
fores ao topo da árvore, ficai atenta para que não segures um galho seco
para te suportar e acabes caindo!’ O segundo dizia: ‘Ficai atenta para
não seguires conselhos de um inimigo!’ O terceiro dizia: ‘Não coloques
teu coração entre os dentes de um leão!’ Quando a virgem viu estes
dizeres, ela puxou sua mão de volta e segurou o anel pensando consigo
mesma. ‘Estes três dizeres que eu vi, podem talvez significar que este
homem que me quer ter como sua esposa não merece confiança. Parece-me que
suas palavras são vazias; ele é cheio de ódio e irá me matar.’ Enquanto
ela estava pensando nisto, ela olhou novamente e percebeu outra inscrição
que possuía três dizeres.
O primeiro dizer era: ‘Dai para aquele que te dá!’ O segundo dizia: ‘Dai
sangue por sangue’ O terceiro: Não tires do dono o que pertence a ele!’
Quando a virgem viu e ouviu isto, ela novamente pensou consigo mesma: ‘Os
três primeiros dizeres me informam como eu posso escapar da morte, os
outros três como eu posso conseguir a vida. Portanto, o correto para mim
é seguir as palavras de vida.’ Então, prudentemente, a virgem chamou o
servo do homem para quem ela tinha sido prometida primeiro. Quando ele
veio, o homem que queria enganá-la afastou-se deles.
Assim acontece com a alma da pessoa que é prometida a Deus. Os dois
jovens diante da alma representam a amizade de Deus e a do mundo. Os
amigos do mundo ficaram mais próximos dela até agora. Eles falaram para
ela das riquezas e glórias mundanas e ela quase deu o anel de seu amor a
eles e consentiu com eles de todas as formas. Mas, pela ajuda da graça do
meu Filho ela viu uma inscrição, isto é, ela ouviu as palavras de Sua
misericórdia e compreendeu três coisas através delas. Primeiro, que ela
devia estar atenta para que, quanto mais ela subisse e mais confiasse nas
coisas perecíveis, pior seria a queda que a amedrontou.
Segundo, ela percebeu que não havia nada no mundo além de tristeza e
preocupação. Terceiro, que a recompensa do demônio seria o mal. Então ela
viu outra inscrição, quero dizer, ouviu mensagens consoladoras. A
primeira mensagem era que ela deveria dar suas posses a Deus de quem
recebeu tudo. A segunda foi que deveria dedicar o serviço de seu próprio
corpo ao homem que derramou seu sangue por ela. A terceira é que não
deveria desviar sua alma de Deus que a criou e a redimiu. Agora que ela
ouviu e considerou estas coisas, os servos de Deus se aproximam dela, e
ela agora está grata a eles, e os servos do mundo se afastaram dela.
Agora, sua alma é como uma virgem que se levantou renovada dos braços de
seu noivo e que deve ter três coisas. Primeira, ela deve ter finas
roupas, para que as criadas reais não riam dela devido a algum defeito
percebido em suas roupas. Segunda, ela deve cumprir a vontade de seu
esposo, para não causar-lhe nenhuma desonra por sua conta, e para que
nada vergonhoso seja mostrado em suas ações. Terceira, ela deve ser
completamente pura para que o esposo não descubra nela nenhuma mácula
pela qual possa desprezá-la ou repudiá-la.
Faça-a ter pessoas para guiá-la até a suite do esposo, para que ela não
perca seu caminho próximo das redondezas ou na entrada. Um guia deve ter
duas características: Primeira, a pessoa que ele guia deve poder vê-lo;
segunda, uma pessoa possa conseguir ouvir suas orientações e onde ele
anda. Uma pessoa seguindo uma outra, que guia o caminho, deve ter tres
caracteristicas. Primeiro, ela não deve ser lenta e preguiçosa em seguir.
Segundo, não deve se esconder da pessoa que guia o caminho. Terceiro, ela
deve ter muita atenção e olhar os passos do seu guia e o seguir
avidamente. Assim, para que a sua alma possa alcançar a suíte do esposo,
é necessário que seja guiada por um tipo de guia que possa conduzí-la com
sucesso a Deus, seu marido.”
O ensinamento doutrinal da gloriosa Virgem à sua filha sobre a sabedoria
espiritual e temporal; sobre qual delas alguém deve imitar; sobre como a
sabedoria espiritual conduz a pessoa ao conforto eterno, após um pouco de
esforço, enquanto a sabedoria temporal conduz à condenação eterna.
Livro 2 - Capítulo 22
Maria disse: “Está escrito que ‘se queres ser sábia, deves aprender
sabedoria com uma pessoa sábia’. Consequentemente, eu te dou o exemplo
figurativo de um homem que queria tornar-se sábio e viu dois professores
diante dele. Ele disse a eles: ‘Eu gostaria muito de adquirir sabedoria,
se somente eu soubesse onde ela pode me conduzir, e que utilidade e
propósito ela tem.’ Um dos professores respondeu: ‘Se queres seguir minha
sabedoria, ela te levará ao topo de uma alta montanha através de um
caminho que é difícil e pedregoso sob os pés, escarpado e difícil de
subir. Se te esforçares por esta sabedoria, ganharás algo que é escuro
por fora, mas reluzente por dentro. Se te agarrares a ela, irás garantir
teu desejo.
Como um círculo que vai rodando, ela te atrairá mais e mais doçura e
sempre mais docemente, até o tempo em que ficarás imbuído de alegria por
todos os lados.’ O segundo professor falou: ‘Se seguires a minha
sabedoria, ela te conduzirá a um vale exuberante e lindo com frutos por
todo o lado. O caminho é macio sob os pés e a descida pouco difícil. Se
perseverares nesta sabedoria, ganharás algo que é brilhante por fora, mas
quando quiseres usá-lo, ele voará longe de ti. Também terás algo que não
durará, mas se acabará repentinamente. Será como um livro que, uma vez
lido até o fim, deixa de existir junto com o ato de leitura, e ficarás
ocioso.’
Quando o homem ouviu isso, pensou consigo mesmo: ‘Ouvi duas coisas
maravilhosas. Se eu subir a montanha, meus pés se enfraquecem e minhas
costas ficam pesadas. Então, se eu obtiver a coisa que é escura por fora,
que bem isto fará a mim? Se eu me esforçar por algo que não tem fim,
quando terei alguma consolação? O outro professor me prometeu algo que é
radiante por fora, mas que não dura; um tipo de sabedoria que se acabará
com sua leitura. Que utilidade eu tenho de coisas com nenhuma
estabilidade?’ Enquanto ele estava pensando nisso, de repente,apareceu
outro homem entre os dois professores e disse: ‘Embora a montanha seja
alta e difícil de escalar, no entanto, há uma nuvem resplandecente acima
da montanha que te dará conforto.
Se o recipiente que te foi prometido é escuro por fora, de alguma forma
ele poderá ser quebrado, pegarás o ouro que está guardado nele e estarás
na feliz posse dele para sempre.’ Estes dois professores são dois tipos
de sabedoria, chamadas de sabedoria do espírito e sabedoria da carne. A
de tipo espiritual envolve a desistência da vontade própria, por Deus, e
a aspiração das coisas do Céu com todo desejo e ação.
Ela não pode ser verdadeiramente chamada sabedoria se tuas ações não
forem de acordo com as suas palavras. Esse tipo de sabedoria conduz a uma
vida abençoada. Porém, envolve um acesso pedregoso e subida ingrime, na
medida em que, resistir às tuas paixões parece um caminho duro e
pedregoso. Ela envolve uma subida ingrime para rejeitar os prazeres
habituais e não amar as glórias mundanas. Embora seja difícil, mesmo para
a pessoa que reflete o quão pouco tempo existe e como o mundo acabará, e
para quem fixa sua mente constantemente em Deus, acima da montanha
aparecerá uma nuvem, ou seja, a consolação do Santo Espírito.
Uma pessoa merecedora da consolação do Espírito Santo é a que não busca
nenhum outro consolador a não ser Deus. Como poderiam todos os eleitos se
incumbir dessas tarefas tão duras e difíceis, se o Espírito de Deus não
tiver cooperado com a boa vontade deles, como um bom instrumento? A boa
vontade deles atraiu este Espírito, e o amor divino que eles tiveram por
Deus o convidou, porque eles se esforçaram de coração e com vontade até
que se tornaram fortes nos serviços.
Eles ganharam a consolação do Espírito e também logo receberam o ouro do
divino deleite e amor que não apenas os tornou capazes de tolerar muitas
e grandes adversidades, mas também os fez regozijar por suportá-las
quando pensavam na recompensa. Tal regozijo parece obscuro para os
amantes deste mundo, porque eles amam a escuridão. Porém, para os amantes
de Deus é mais resplandecente que o sol e brilha mais que o ouro, porque
eles avançam na escuridão de seus vícios e sobem a montanha da paciência,
contemplando a nuvem da consolação que nunca se acaba, mas começa no
presente e gira como um círculo até que alcancem a perfeição. A sabedoria
mundana conduz a um vale de miséria que parece exuberante em sua
abundância, lindo em reputação, suave em luxúria. Este tipo de sabedoria
terminará rapidamente e não oferecerá benefício adicional além do que
costuma ver e ouvir.
Portanto, minha filha, procures a sabedoria do mais sábio, quero dizer,
do meu Filho! Ele é a própria sabedoria da qual vem todas as sabedorias.
Ele é o círculo que nunca acaba. Eu te suplico assim como uma mãe faz com
seu filho: ame a sabedoria que é como ouro por dentro, mas insignificante
por fora, que queima, por dentro, com amor, mas requer esforços por fora
e produz frutos através dos seus trabalhos. Se te preocupas pela
responsabilidade de tudo isso, o Espírito de Deus será teu consolador.
Vá e continues tentando como alguém que persiste até que o hábito é
adquirido. Não voltes atrás até que alcances o pico da montanha! Não há
nada tão difícil que não se torne fácil através da perseverança constante
e inteligente. Não há busca tão nobre no princípio que não caia na
escuridão por não ser levada a cabo. Então, avances para a sabedoria
espiritual! Ela te levará ao trabalho físico, ao desprezo do mundo, a um
pouco de dor, e à consolação eterna. Mas a sabedoria mundana é enganadora
e esconde um ferrão. Ela te conduzirá a acumular bens temporais e ao
prestígio no presente, mas, no fim, à maior infelicidade, a menos que
estejas atenta e tomes cuidadosas precauções.”
As palavras gloriosas da Virgem explicando sua humildade a sua filha;
sobre como a humildade está ligada a um manto e sobre as características
da verdadeira humildade e seus frutos maravilhosos.
Livro 2 - Capítulo 23
Muitas pessoas imaginam por que eu falo contigo. É certamente para
mostrar minha humildade. Se um membro do corpo está doente, o coração não
estará satisfeito ate que ela tenha recuperado sua saúde, e uma vez que
sua saúde tenha se recuperado o coração fica ainda mais satisfeito. Da
mesma forma, por muito que uma pessoa possa pecar, se ela se voltar para
mim com todo seu coração e um propósito verdadeiro de se emendar, Eu me
preparo imediatamente para recebê-la quando chegar. Eu não me detenho no
quanto ela tenha pecado, mas à intenção e o propósito que ela tem ao
retornar.
Todos me chamam de ‘Mãe da misericórdia’. Verdadeiramente, minha filha, a
misericórdia do meu Filho me fez misericordiosa e a revelação da sua
misericórdia me fez compadecida. Por esta razão, é miserável um homem ou
uma mulher que, sendo capaz, não recorre à misericórdia. Portanto, venha,
minha filha, e esconde-te sob meu manto! Meu manto é insignificante por
fora, mas é de muita utilidade por dentro, por três razões. Primeira, ele
te abriga dos ventos tempestuosos; segundo, ele te protege do frio que
corta; terceiro, ele te defende das chuvas do céu.
Este manto é minha humildade. Os amantes do mundo o desprezam e pensam
que imitá-lo é uma tola superstição. O que é mais desprezível do que ser
chamado de idiota e não se zangar ou responder à altura? O que é mais
desprezível do que desistir de tudo e ficar pobre de tudo? O que parece
ser mais triste para as almas mundanas do que esconder sua própria dor,
pensar e acreditar que é sem valor e pior do que qualquer outra pessoa?
Assim foi minha humildade, minha filha. Este foi meu contentamento, este
meu único desejo. Eu só pensei em como agradar meu Filho. Esta minha
humildade foi útil àqueles que me seguiram, de três maneiras.
Primeira, foi útil nas pestes e em tempo de tempestade, isto é, contra o
insulto e desprezo humano. Uma tempestade forte e violenta espanca uma
pessoa por todos os lados e a faz congelar. Da mesma forma, ridicularizar
esmaga facilmente uma pessoa impaciente que não reflete sobre as
realidades futuras; isso leva a alma para longe da caridade. Qualquer um,
estudando cuidadosamente minha humildade, deve considerar o tipo de
coisas que eu, a Rainha do Universo, tive que ouvir e, assim, ela deve
procurar o meu louvor e não o seu próprio.
Faça-o lembrar que palavras são nada mais do que vento, e ele logo ficará
calmo. Porque as pessoas mundanas são tão inaptas em suportar insultos
verbais, se não por que elas procuram sua própria honra e não a de Deus?
Não há humildade nelas, porque seus olhos ficam embaçados pelo pecado.
Portanto, embora a lei escrita diga que não se deve, sem justo motivo,
dar ouvidos a insultos ou não suportá-los, é ainda uma virtude e um
premio ouvir pacientemente e suportar insultos por amor de Deus.
Segunda, minha humildade é uma proteção contra o frio cortante, ou seja,
contra a amizade carnal. Assim, há um tipo de amizade na qual uma pessoa
é amada na intenção das comodidades atuais, como os que falam desta
maneira: ‘Alimente-me no presente momento e eu te alimentarei, porque não
me interessa quem alimenta após a morte! Respeite-me e eu te respeitarei,
porque não me interessa nem um pouco que tipo de respeito virá no futuro’
Esta amizade é fria, sem o calor divino, tão dura quanto neve congelada,
com relação a amor e sentimentos de compaixão por um ser humano amigo, em
necessidade; sua recompensa é estéril.
Uma vez que uma parceria é terminada e as mesas são retiradas, a
utilidade dessa amizade desaparece imediatamente e seu lucro é perdido.
Quem imita minha humildade, faz igualmente o bem a todos por amor a Deus,
tanto a inimigos como a amigos: para seus amigos, pois eles perseveram
firmemente honrando a Deus; e para seus inimigos, porque eles são
criaturas de Deus e podem se tornar bons no futuro.
Em terceiro lugar, a contemplação da minha humildade é uma proteção
contra as chuvas torrenciais e as impurezas que vêm das nuvens. De onde
as nuvens surgem, se não da umidade e dos vapores vindos da Terra? Quando
eles sobem aos céus devido ao calor, condensam-se nas regiões mais altas
e, desta forma, três coisas são produzidas: chuva, granizo e neve. A
nuvem simboliza o corpo humano que vem da impureza. Assim como as nuvens
o corpo humano faz três coisas. O corpo faz a audição, a visão e o tato.
Porque o corpo pode ver, ele deseja as coisas que vê. Ele deseja coisas
boas e belas formas; ele deseja posses abrangentes.
O que são todas essas coisas se não um tipo de chuva vinda das nuvens,
manchando a alma com uma paixão por acumular, perturbando-o com
aborrecimentos, distraindo-o com pensamentos inúteis e preocupando-o
sobre a perda dos bens acumulados? Porque o corpo pode ouvir, ele se
satisfaz ouvindo sobre sua própria glória e sobre as amizades mundanas.
Ele presta atenção a tudo o que é agradável ao corpo e é danoso à alma. O
que tudo isso lembra senão o rápido derretimento da neve, fazendo a alma
ficar fria diante de Deus e turva para a humildade?
Porque o corpo tem sentimento, ele busca seu próprio prazer e descanso
físico. O que tudo isso lembra se não o granizo que é congelado com águas
impuras e que deixa a alma estéril na vida espiritual, forte com respeito
às ocupações mundanas e branda com respeito ao conforto físico? Portanto,
se uma pessoa quer proteção contra esta nuvem, deixe-a buscar segurança
na minha humildade e imitá-la. Através disso, ela estará protegida da
paixão por ver, não desejará coisas ilícitas; ela estará protegida do
prazer de ouvir e não prestará atenção a nada que vá contra a verdade;
ela estará protegida da luxúria da carne e não sucumbirá aos impulsos
ilícitos.
Eu te asseguro: a contemplação da minha humildade é como um bom manto que
aquece os que o vestem; ou seja, aqueles que não somente o vestem na
teoria, mas também na prática. Um manto físico não dá nenhum calor a não
ser que seja vestido. Da mesma forma, minha humildade não faz nenhum bem
àqueles que apenas pensam nela, a não ser que cada um se esforce em
imitá-la, cada um da sua maneira. Então, minha filha, vista o manto da
humildade com toda a tua força, pois as mulheres mundanas vestem mantos
que são para o orgulho por fora, mas de pouca utilidade por dentro. Evite
tais vestuários em geral, já que, se o amor do mundo primeiro não se
torna desprezível para ti, se não estás continuamente pensando na
misericórdia de Deus para contigo e na tua ingratidão para com ele, se
não tens sempre em mente o que ele fez e o que tu fazes, e a justa
sentença que te espera em retribuição, não estarás apta a compreender
minha humildade.
Porque eu me humilhei tanto ou porque eu mereci tal favor, se não porque
considerei e soube ser nada e ter nada em mim mesma? É também por esta
razão que não busco a minha própria glória, mas somente a do meu Dono e
Criador. Então, filha, refugia-te no manto da minha humildade e
consideres a ti mesma uma pecadora maior que todos os outros! Pois, mesmo
que vejas outros que são maus, não sabes qual será o futuro deles amanhã;
nem mesmo podes saber suas intenções ou a consciência do que estão
fazendo, se eles fazem isso por fraqueza ou deliberação. É por isso, que
não deves te colocar na frente de ninguém e nem julgar ninguém em teu
coração.”
A exortação da Virgem à sua filha se queixando sobre quão poucos amigos
tem; sobre como Cristo fala à esposa e descreve suas palavras sagradas
como flores e explica como são as pessoas em que tais palavras dão
frutos.
Livro 2 - Capítulo 24
Maria estava dizendo: “Imagine um grande exército em algum lugar e uma
pessoa andando a seu lado pesadamente deprimida, carregando uma grande
carga em suas costas e em seus braços. Com os olhos cheios de lágrimas,
ela poderia olhar para o exercito para ver se havia alguém que tinha
compaixão dela e a aliviaria de sua carga. É assim que me sinto. Do
nascimento do meu Filho até sua morte, minha vida foi cheia de
tribulação. Carreguei um fardo pesado em minhas costas e, perseverei
firmemente no trabalho de Deus, e pacientemente, suportei tudo o que
aconteceu comigo. Eu aguentei carregando um fardo muito pesado em meus
braços, no sentido de que sofri mais tristeza de coração e tribulação do
que qualquer outra criatura.
Meus olhos estavam cheios de lágrimas quando eu contemplei os lugares no
corpo do meu Filho destinados aos pregos, assim como sua futura Paixão, e
quando vi todas as profecias que tinha escutado, profetizadas pelos
profetas, sendo cumpridas Nele. E agora eu olho ao redor para todas as
pessoas que estão no mundo para ver se há alguém que pode ter compaixão
de mim e saber de minha tristeza, mas encontro muito poucos que pensam em
minha tristeza e tribulações. É, por isso, minha filha, que embora eu
seja esquecida e abandonada por muitas pessoas, tu não deves me esquecer!
Olhe para os meus esforços e imite-os o tanto quanto puderes! Contemple
minha tristeza e lágrimas e lamenta-te porque os amigos de Deus são tão
poucos. Ficai firme! Olhai, meu Filho está vindo.”
Ele chegou em seguida e disse: “Eu que estou falando contigo, sou teu Deus
e Senhor. Minhas palavras são como as flores de uma primorosa árvore.
Embora todas as flores brotem de uma raiz da árvore, nem todas vão a
fruição. Minhas palavras são como flores que brotam da raiz da caridade
divina. Muitas pessoas as colhem, mas elas não dão fruto em todas elas e
nem atingem a maturidade em todas elas. Algumas pessoas as pegam por um
momento, mas depois as rejeitam, pois elas são ingratas ao meu Espírito.
Algumas colhem e as mantêm, pois são cheias de amor, e o fruto da devoção
e da santa conduta é produzido nelas.
Então, tu, minha esposa, que és minha por direito divino, deves ter três
casas. Na primeira, deve haver os necessários nutrientes para alimentar o
corpo; na segunda, as roupas que vestem o corpo por fora; na terceira, as
ferramentas necessárias para uso na casa. Na primeira deve haver três
coisas: primeiro, pão; depois, bebida; e terceiro, carnes. Na segunda
casa deve haver três coisas: primeiro, roupa de linho; depois, roupa de
lã; depois, uma feita de seda. Na terceira casa também deve haver três
coisas: primeiro, utensílios e vasos para serem cheios com líquidos;
segundo, instrumentos de subsistência, tais como cavalos, asnos e
assemelhados, pelo quais os corpos possam ser conduzidos; e terceiro,
instrumentos que são movidos por seres vivos.”
O conselho de Cristo à esposa sobre a provisão nas três casas; sobre como
o pão vale para a boa vontade, a bebida para santa reflexão; carnes para
a sabedoria divina; sobre como não há sabedoria divina na erudição, mas
somente no coração e em uma vida boa.
Livro 2 - Capítulo 25
Eu, que estou falando contigo, sou o Criador de todas as coisas e criado
por ninguém. Não havia nada antes de mim e não pode existir nada depois
de mim, já que Eu sempre fui e sempre sou. Eu sou o Senhor, a cujo poder
ninguém pode opor-se e de quem vem todo poder e soberania. Falo contigo
como um homem fala a sua esposa:’Minha esposa, devemos ter três casas. Em
uma delas deve ter pão, bebida e carnes. Mas tu podes perguntar: O que
este pão significa? Eu quero dizer o pão que fica no altar? Este é de
fato pão, antes das palavras “Este é o meu corpo”, porém, uma vez que as
palavras tenham sido ditas, não é pão mas o corpo que Eu recebi da Virgem
e que, foi, realmente, crucificado na cruz. Mas aqui eu não falo desse
pão. O pão que devemos armazenar em nossa casa é uma boa e sincera
vontade. O pão físico, se for puro e limpo, tem dois bons efeitos.
Primeiro, ele fortalece e dá forças para todas as veias, artérias e
músculos. Segundo, ele absorve qualquer impureza interna, fazendo essa
remoção enquanto sai e, assim, a pessoa é purificada. Desta forma, uma
vontade pura dá forças.
Se a pessoa não deseja nada além das coisas de Deus, não trabalha para
nada além da glória de Deus, quer com cada desejo deixar o mundo e estar
com Deus, esta intenção a fortalece na bondade, aumenta seu amor por
Deus, faz o mundo repulsivo para si, fortalece sua paciência e reforça
sua esperança de herdar a glória a tal ponto que ela alegremente abraça
tudo o que lhe acontece . Em segundo lugar, uma boa vontade remove cada
impureza. O que é a impureza nociva à alma, senão o orgulho, a ambição e
a luxúria? Entretanto, quando a impureza do orgulho ou de algum outro
vício entra na mente, descontando as razões pessoais, ela sairá da seguinte
maneira: ‘O orgulho é sem sentido, já que não é quem recebe que deve ser
glorificado pelos bens recebidos, mas o doador. A ambição é sem sentido,
já que todas as coisas na Terra serão deixadas para trás. A luxúria não é
nada além de obscenidade. Portando, não desejo estas coisas, mas quero
seguir a vontade do meu Deus, cuja recompensa nunca chega ao fim, cujos
bons presentes nunca ficam velhos. Então, toda tentação de orgulho ou
ambição a deixará e ela perseverará na sua boa intenção de fazer o bem.
A bebida que devemos ter em nossas casas é a santa reflexão sobre tudo a
ser feito. A bebida física tem dois bons efeitos. Primeiro, ela ajuda a
boa digestão. Quando uma pessoa se propõe a fazer algo de bom e, antes de
fazê-lo, reflete consigo mesma e, cuidadosamente, muda de opinião sobre
que glória será para Deus, que benefício para seu próximo, que vantagem
para sua alma, e não quer fazer isso enquanto não julga como sendo de
alguma utilidade divina em seu trabalho, então esse trabalho proposto
termina com sucesso ou, por assim dizer, é bem digerido. Então, se alguma
imprudência ocorre no trabalho que está fazendo, ela é facilmente
detectada. Se alguma coisa está errada, ela é rapidamente corrigida e seu
trabalho será correto, racional e edificante para outros.
Uma pessoa que não mostra a santa reflexão em seu trabalho e não procura
benefício para as almas ou a glória de Deus, mesmo que seu trabalho
termine bem por um tempo, apesar disso, ele chegará a nada no final. Em
segundo lugar, a bebida mata a sede. Que tipo de sede é pior do que o
pecado da ambição e do ódio? Se uma pessoa pensa, de antemão, que
utilidade vem dela, quão indignamente isso acabará, que recompensa terá
se ela faz oposição, então, essa sede será rapidamente saciada pela graça
de Deus; o amor ardente por Deus e bons desejos a saciarão; e a alegria
aparecerá, porque ela não fez o que veio em sua cabeça. Ela examinará a
ocasião e como ela pode evitar no futuro essas coisas, pelas quais ela
quase foi enganada, por não ter refletido; e será então mais cuidadosa no
futuro sobre como evitar essas coisas. Minha esposa, esta é a bebida que
deve ser armazenada na tua despensa.
Terceiro, também deve haver carnes lá (na casa). Isso tem dois efeitos.
Primeiro, elas são mais saborosas na boca e são melhores para o corpo do
que somente pão. Segundo, elas tornam a pele mais tenra e o sangue melhor
do que se tivesse somente pão e bebida. A carne espiritual tem um efeito
parecido. O que estas carnes simbolizam? Sabedoria divina, é claro. A
sabedoria tem um sabor muito bom para a pessoa que tem boa vontade e não
quer nada a não ser o que Deus quer, mostrando santa reflexão, sem fazer
nada até que ela saiba que é para a glória de Deus.
Agora podes perguntar: ‘O que é a sabedoria divina?’ Para muitos, é simples
e somente saber uma oração – O Pai Nosso, e nem mesmo corretamente.
Outros são muito eruditos e possuem um amplo conhecimento. É esta a
sabedoria divina? De forma alguma. A sabedoria divina não é precisamente
encontrada na erudição, mas no coração e em uma vida boa. Essa pessoa é a
sábia que reflete, cuidadosamente, a respeito do caminho para a morte,
sobre como ela vai morrer e no seu julgamento após a morte. Esta pessoa
tem as carnes da sabedoria, o sabor da boa vontade e santa meditação, que
a desapega da vaidade e do supérfluo do mundo, e se contenta com as
necessidades básicas, e a empenha no amor de Deus, de acordo com suas
habilidades.
Quando uma pessoa reflete sobre sua morte, ou sua nudez na morte, quando
a pessoa pensa na terrível corte do julgamento divino, onde nada se
esconde e nada é remido sem uma punição, quando ela também reflete sobre
a instabilidade e a vaidade do mundo, então não se regozijará e docemente
saboreará, em seu coração, a entrega da sua vontade a Deus junto com sua
abstinência dos pecados? Seu corpo não é fortalecido e seu sangue
melhorado, ou seja, não é afastada cada fraqueza da sua alma, tais como a
preguiça e a dissolução moral, e o sangue do amor divino renovado? Isto
ocorre porque ela pensa corretamente que deve ser amado um bem eterno ao
invés de um perecível.
Então, a sabedoria divina não é, precisamente, encontrada na erudição,
mas nas boas ações, já que muitos são sábios da maneira mundana e
conforme os seus próprios desejos, mas em geral tolos em relação à vontade
de Deus, os mandamentos e disciplinas de seus corpos. Tais pessoas não
são sábias, mas tolas e cegas, porque compreendem as coisas perecíveis
que são úteis para o momento, mas desprezam e esquecem as coisas da
eternidade. Outros são tolos em relação aos deleites mundanos e à
reputação, mas sábios em relação às coisas que são de Deus, e são
fervorosos no seu serviço.
Tais pessoas são realmente sábias porque saboreiam os preceitos e a
vontade de Deus. Eles foram realmente esclarecidos e mantêm seus olhos
abertos naquilo que sempre estão considerando como podem alcançar a
verdadeira vida e verdadeira luz. Outros, entretanto, caminham na
escuridão e, para eles, parece mais prazeroso estar na escuridão do que
perguntarem sobre o caminho pelo qual eles podem chegar à luz. Portanto,
minha esposa, deixe-nos armazenar essas três coisas em nossa casa,
chamadas boa vontade, santa meditação e sabedoria divinas. Estas são as
coisas que nos dão motivo para nos regozijarmos. Embora eu te dê meu
conselho, por ti eu tenho em vista todos os meus escolhidos no mundo, já
que a alma integra é minha esposa, porque Eu sou seu Criador e Redentor.”
O conselho da Virgem à sua filha sobre a vida;, as palavras de Cristo à
esposa sobre as roupas que deve ter guardadas na segunda casa; sobre como
estas roupas denotam a paz de Deus e a paz de um próximo que trabalha por
misericórdia e pura abstinência; e uma explicação excelente de todas
essas coisas.
Livro 2 - Capítulo 26
Maria disse: “Coloca o broche da Paixão do meu Filho firmemente em ti
assim como São Lourenço firmemente o colocou. Cada dia ele costumava
refletir como segue: ‘Meu Deus é meu Senhor, eu sou seu servo. O Senhor
Jesus Cristo foi despido e zombado. Como isso pode ser justo para mim,
seu servo, que esteja vestido com finura? Ele foi flagelado e pregado na
madeira. Então, não é certo que eu, seu servo, se eu realmente for seu
servo, não tenha nenhuma dor ou tribulação.’ Quando ele foi estendido
sobre as brasas e gordura liquida escorreu para o fogo, e seu corpo todo
pegou fogo, ele levantou os olhos para os céus e disse: ‘Bendito sois
vós, Jesus Cristo, meu Deus e Criador! Eu sei que não vivi bem os meus
dias. Sei que fiz pouco por sua glória. É por isso, que vendo que sua
misericórdia é grande, eu vos peço que me trateis com vossa
misericórdia.’ E nesta palavra sua alma foi separada de seu corpo. Viste,
minha filha? Ele amou tanto meu Filho e suportou tanto sofrimento para
sua glória que ainda disse que não era digno de alcançar o Céu. Como,
então, podem ser merecedoras aquelas pessoas que vivem por seus próprios
desejos? Então, tenha sempre em mente a paixão do meu Filho e de seus
santos. Eles não suportam tais sofrimentos sem nenhuma razão, mas para
dar aos outros um exemplo de como viver e para mostrar que um rigoroso
pagamento será exigido pelos pecados, por meu Filho, que não quer que nem
o menor pecado fique sem correção.”
Então, o Senhor Jesus veio e falou à esposa, dizendo: “Eu te disse antes
o que deve ser armazenado em nossas casas. Entre outras coisas, deve
haver roupas de três tipos: primeiro, feita de linho, que é produzida e
cresce da terra; segundo, feita de couro, que vem dos animais; terceiro,
feita de seda, que vêm do bicho-da-seda. A roupa de linho tem dois bons
efeitos. Primeiro, ela é macia e suave em contato com o corpo nu.
Segundo, ela não perde sua cor, mas quanto mais é lavada, mas limpa se
torna. O segundo tipo de roupa, ou seja, a de couro, tem dois efeitos.
Primeiro, ela cobre a vergonha da pessoa; segundo, proporciona calor
contra o frio. O terceiro tipo de roupa, ou seja, a de seda, também tem
dois efeitos. Primeiro, pode ser vista como muito bela e fina; segundo, é
muito cara para comprar. As roupas de linho, que são boas para as partes
nuas do corpo, simbolizam a paz e a concordância. Uma alma devota deve
vesti-la em respeito a Deus, para que assim ela possa estar em paz com
Deus, tanto por não querer nada além do que Deus quer ou numa direção
diferente da que ele quer, quanto pela não irritação dele pelos pecados,
já que não há paz entre Deus e a alma a não ser que ela pare de pecar e
controle sua concupiscência
Ela também deve estar em paz com seu próximo, ou seja, não causando
problemas a ele, ajudando-o se tem problemas, e sendo paciente se ele
peca contra ela. Qual é a tensão mais infeliz na alma do que sempre estar
desejando o pecado e nunca ficar cansada disso, sempre desejando e nunca
em repouso? O que ferroa a alma mais agudamente do que ficar com raiva do
seu próximo e invejar seus bens? É por isso, que a alma deve estar em paz
com Deus e com seu próximo, já que nada pode ser mais repousante do que
descansar do pecado e não ser ansioso em relação ao mundo, nada mais
suave que o alegrar-se com o bem do próximo e desejar a ele o que deseja
para si mesma.
Esta roupa de linho deve ser usada sobre as partes nuas do corpo, porque,
mais apropriada e importante do que as outras virtudes, a paz deve morar
próxima do coração, onde Deus deseja descansar. Esta é a virtude que Deus
insufla e mantém no coração. Como o linho, esta paz nasce e cresce da
terra, já que a paz e a paciência brotam da reflexão sobre a fraqueza da
própria pessoa. Um homem que é da terra deve considerar suas próprias
fraquezas, ou seja, se ofendido, rapidamente se enfurece, e se ferido,
rapidamente sente dor. Se ele reflete desta forma, não fará a outro o que
ele mesmo não pode suportar, pensando consigo: ‘Assim como sou fraco, meu
próximo também o é.
Assim como eu não quero suportar tais coisas, ele também não.’ E depois,
a paz não perde sua cor, ou seja, sua estabilidade, mas fica mais e mais
constante, já que, considerando a fraqueza de seu próximo, ele se torna
mais apto a suportar injurias. Se a paz do homem fica poluída pela
impaciência de qualquer forma, ela se torna mais limpa e brilhante diante
de Deus quanto mais frequentemente e rapidamente ela for lavada através
da penitencia. Ele também se torna mais feliz e prudente na tolerância,
quanto mais vezes ficar irritado e novamente se penitenciar, já que se
alegra na esperança da recompensa que espera vir, por conta da sua paz
interior, e se torna ainda mais cuidadoso quanto a não se deixar cair
pela impaciência
O segundo tipo de roupa, a de couro, denota ações de misericórdia. Estas
roupas de couro são feitas de peles de animais mortos. O que estes
animais simbolizam se não meus santos, que foram tão simples quanto os
animais? A alma deve ser coberta com suas peles, ou seja, ela deve imitar
e realizar as obras de misericórdia. Estas têm dois efeitos. Primeiro,
ela cobre a vergonha da alma pecadora e a limpa para que não apareça
manchada à minha vista. Segundo, elas protegem a alma contra o frio. O
que é o frio da alma se não a dureza a respeito do meu amor? Obras de
misericórdia são eficazes contra tal frieza, envolvendo a alma para que
ela não pereça pelo frio. Através destas obras, Deus visita a alma, e a
alma se aproxima sempre mais de Deus.
O terceiro tipo de roupa, a feita de seda dos bichos-da-seda, que parece
muito dispendiosa para comprar, denota o hábito puro da abstinência. Ela
é bela na visão de Deus, dos anjos e dos homens. Ela também é cara, já
que parece difícil para as pessoas conterem suas línguas das conversas
excessivas e sem valor. Parece difícil conter o apetite da carne para com
os excessos e prazeres supérfluos. Parece também difícil ir contra a
própria vontade. Mas, embora possa ser difícil, ela é de todo modo, útil
e bela.
É, por isso, minha esposa, pela qual quero dizer todos os fieis, que na
nossa segunda casa devemos armazenar a paz para com Deus e o próximo,
obras de misericórdia através da compaixão e ajuda aos miseráveis, e
abstinência da concupiscência.
Embora a última seja mais cara que as outras, também muito mais bela do
que as outras roupas, que nenhuma outra virtude parece bela sem ela. Esta
abstinência deve ser produzida pelos bichos-da-seda, ou seja, pela
consideração dos excessos de alguem contra Deus, pela humildade, e pelo
meu próprio exemplo de abstinência, pois Eu me tornei como um verme pela
humanidade. Uma pessoa deve examinar seu espírito, como e quão frequente
ela tem pecado contra mim e de que forma se emendou. Então ela vai
descobrir, por si própria, que nenhuma quantidade de trabalho e
abstinência de sua parte pode fazer emenda ao número de vezes que ela
pecou contra mim.
Ela também deve considerar sobre meus sofrimentos e dos meus santos,
assim como a razão pela qual Eu suportei tais sofrimentos. Então ela
verdadeiramente compreenderá que, se Eu exijo tão estrita retribuição dos
meus santos, que tem me obedecido, quanto mais Eu exigirei em juízo
àqueles que não me obedeceram. Uma alma boa deve, portanto, prontamente
se empenhar na prática da abstinência, recordando que seus pecados são
maus e cercam a alma como vermes. Assim, desses pequenos vermes, ela
coletará seda preciosa, ou seja, o puro hábito da abstinência em todos os
seus membros. Deus e todo os anfitriões do Céu alegram-se nisso. A eterna
alegria será concedida à pessoa que armazena isto, e, se a abstinência
não tivesse vindo em seu auxilio, ela teria sofrimento eterno”
Palavras de Cristo à esposa sobre as ferramentas na terceira casa; sobre
como tais instrumentos simbolizam bons pensamentos, sentidos
disciplinados e verdadeira confissão; também é dada uma explicação
excelente de todas as coisas em geral e sobre as fechaduras destas casas.
Livro 2 - Capítulo 27
O Filho de Deus falou à esposa dizendo: “Eu te falei antes que deve haver
instrumentos de três tipos na terceira casa. Primeiro, utensílios ou
vasos, nos quais os líquidos são despejados. Segundo, instrumentos com os
quais a terra do lado de fora é preparada, tais como enxadas, machados e
ferramentas para consertar as coisas quebradas. Terceiro, instrumentos
vivos, tais como asnos, cavalos e assemelhados, para transportar a vida e
a morte. Na primeira casa, onde há líquidos, deve existir dois tipos de
utensílios ou vasos: Primeiro, aqueles dentro dos quais substâncias doces
são despejadas, tais como a água, óleo, vinho e semelhantes; segundo,
aqueles nos quais as substâncias picantes ou densas devem ser despejadas,
tais como mostarda, farinha e semelhantes. Você entende o que estas
coisas significam? Os líquidos se referem aos pensamentos bons e maus da
alma.
Um pensamento bom é como óleo doce e como um delicioso vinho. Um mau
pensamento é como mostarda amarga que deixa a alma amarga e aviltada. Os
maus pensamentos são os líquidos densos que uma pessoa, às vezes,
precisa. Apesar de não serem muito bons para nutrir o corpo, eles ainda
são benéficos para a purgação e cura tanto do corpo quanto da mente.
Embora os maus pensamentos não alimentem e curem a alma como o óleo dos
bons pensamentos, eles ainda são bons para a purgação da alma, assim como
a mostarda é boa para a purificação do cérebro. Se os maus pensamentos
não aparecessem, de vez em quando, os seres humanos seriam anjos e não
humanos, e eles poderiam pensar que conseguiriam tudo por si próprios.
Portanto, para que um homem possa compreender suas fraquezas, que vêm
dele mesmo, e a força que vem de mim, é algumas vezes, necessário que
minha imensa misericórdia permita que seja tentado por maus pensamentos.
Contanto que a alma não consinta com eles, serão uma purificação para a
alma e uma proteção para suas virtudes. Embora eles possam ser tão
picantes ao ingerir quanto a mostarda, ainda são muito saudáveis para a
alma pois a conduzem à vida eterna e ao tipo de saúde que não se obtém
sem alguma amargura. Então, deixe que os vasos da alma, onde são
colocados os bons pensamentos, sejam cuidadosamente preparados e sempre
mantidos limpos, já que é útil que mesmo os maus pensamentos apareçam tanto
para uma provação como para obter maior mérito. De qualquer forma, a alma
deve esforçar-se para não consentir com eles ou deleitar-se neles. De
outra forma, a doçura e o desenvolvimento da alma serão perdidos e
somente a amargura ficará.
Na segunda casa também deve haver dois tipos de instrumentos: primeiro,
instrumentos para o lado de fora, tais como arado e enxada para preparar
o chão para a semeadura e para arrancar arbustos; segundo, instrumentos
úteis tanto dentro quanto fora de casa, assim como os machados e
assemelhados. Os instrumentos para cultivar o solo simbolizam os sentidos
humanos. Eles devem ser utilizados para o benefício do seu próximo assim
como o arado é utilizado no solo. Pessoas ruins são como o solo da terra,
pois estão sempre pensando da forma mundana. Elas são áridas na compunção
por seus pecados, porque pensam que nada é pecado. Elas são frias em seu
amor por Deus, porque não procuram nada além de sua própria vontade.
Elas são pesadas e preguiçosas quando é para fazer o bem, porque são
ansiosas pela reputação mundana. É por isso, que uma pessoa boa deve
cultivá-los através de seus sentidos exteriores, assim como um bom
agricultor cultiva a terra com um arado. Primeiro, ele deve cultivá-los
com sua boca, dizendo coisas úteis para a alma e instruindo-a sobre o
caminho da vida; depois, fazendo as boas ações que pode. Seu próximo pode
ser formado nesse caminho por suas palavras e motivado a fazer o bem.
Depois, ela deve cultivar seu próximo por meio do descanso de seu corpo
para que possa render fruto.
Ela faz isso através de seus olhos inocentes que não olham coisas
impuras, de forma que seu vizinho impuro possa aprender a modéstia em seu
corpo inteiro. Ela deve cultivá-los por meio dos seus ouvidos que não
prestam atenção às coisas inadequadas assim como por meio dos seus pés
que são rápidos para fazer o trabalho de Deus. Eu, Deus, darei a chuva da
minha graça para o solo assim cultivado pelo trabalho do lavrador, e este
deve alegrar-se com o fruto da antes árida terra improdutiva, mas agora
próspera, pois começa a produzir brotos.
Os instrumentos necessários para as preparações dentro de casa, tal como
o machado e ferramentas similares, significam a intenção de discernir e o
santo exame do trabalho de alguém. Não importa o bem que a pessoa faça,
não deve ser feito pela reputação e pela gloria humana, mas pelo amor a
Deus e pela recompensa eterna. É por isso, que uma pessoa deve examinar
suas ações, com que intenção e para qual recompensa ela as está fazendo.
Se ela pode descobrir algum tipo de orgulho em sua ação, faça-a
imediatamente cortá-la com o machado da discrição.
Desta forma, assim como ela cultiva seu próximo que está, como que fora
da casa, ou seja, fora da companhia dos meus amigos devido a suas más
ações, assim também ela pode produzir frutos para si própria,
interiormente, através do amor divino. Assim como o trabalho de um
agricultor em pouco tempo fracassará se ele não tiver instrumentos com os
quais consertar coisas que tenham sido quebradas, assim também, ele não alcançará
nenhum resultado, se uma pessoa não examinar seu trabalho com
discernimento, e como isso pode ser aliviado se for muito pesado, ou como
isso pode ser melhorado se não deu certo. Consequentemente uma pessoa
deve, não somente trabalhar efetivamente fora de casa, mas deve
considerar, atentamente, no seu interior, como e com que intenções ela
trabalha.
Devem existir instrumentos vivos na terceira casa para transportar os
vivos e os mortos, tais como cavalos, asnos e outros animais. Estes
instrumentos significam a verdadeira confissão. Isso transporta tanto
vivos quanto mortos. O que o vivo denota se não a alma que foi criada
pela minha divindade e vive para sempre? Esta alma se aproxima mais e
mais de Deus a cada dia através da verdadeira confissão. Assim como um
animal se torna um animal de carga mais forte e mais belo de se ver,
quanto mais vezes e melhor for alimentado, assim também a confissão -
quanto mais frequentemente é usada e mais cuidadosamente é feita para
menores ou maiores pecados - transporta a alma mais e mais para frente e
é tão agradável a Deus, conduzindo a alma ao coração de Deus. O que são
as coisas mortas transportadas pela confissão, se não as boas ações que
morrem pelo pecado mortal? As boas ações que morrem através dos pecados mortais,
estão mortas sob o olhar de Deus, porque nada de bom pode agradar a Deus
a não ser que o pecado seja primeiro reparado, ou por uma perfeita
intenção, ou por uma façanha.
Não é bom misturar cheiro bom com fedor no mesmo recipiente. Se alguem
mata suas boas ações pelos pecados mortais e faz uma verdadeira confissão
de seus crimes com a intenção de melhorar e evitar o pecado no futuro,
suas boas ações, que antes estavam mortas, voltam à vida novamente pela
confissão e pela virtude da humildade, e elas lhe trazem mérito para a
salvação eterna. Se ele morrer sem ter feito confissão, embora suas boas
ações não possam morrer ou serem destruídas, não pode merecer a vida
eterna devido ao pecado mortal; ainda ele pode merecer uma punição mais
leve ou contribuir para a salvação de outros, contanto que ele tenha
realizado as boas ações com uma intenção santa e para a glória de Deus.
Entretanto, se ele fez as ações pela glória mundana e seu próprio
benefício, então suas ações morrerão quando seu realizador morre, já que
ele recebeu sua recompensa do mundo para o qual trabalhou.
Então, minha esposa, pela qual quero dizer todos os meus amigos, devemos
armazenar em nossas casas aquelas coisas que dão crescimento ao deleite
espiritual que Deus quer ter com uma alma santa. Na primeira casa,
devemos armazenar, primeiro, o pão da vontade sincera que não quer nada
além do que Deus quer; segundo, a bebida da santa meditação, não fazendo
nada a não ser a pensada para a glória de Deus; terceiro, as carnes da
sabedoria divina por sempre pensar na vida que virá e em como a vida
presente deve ser ordenada.
Na segunda casa, vamos armazenar a paz de não pecar contra Deus e a paz
de não brigar com nosso próximo; segundo, ações de misericórdia através
das quais possamos ser de beneficio pratico ao nosso próximo; terceiro, a
perfeita abstinência pela qual refreamos aquelas coisas que tendem a
perturbar nossa paz. Na terceira casa, devemos armazenar sábios e bons
pensamentos para decorar nossa casa por dentro; segundo, ter temperança,
sentidos bem disciplinados para serem luz para nosso próximo do lado de
fora; terceiro, a verdadeira confissão que nos ajuda a reviver, quando
perdemos as forças.
Ainda que tenhamos as casas, as coisas armazenadas nelas não podem estar
a salvo sem portas, e portas não podem ser movimentadas sem dobradiças ou
trancadas sem fechaduras. É, por isso, que para os bens armazenados
estarem seguros, a casa precisa da porta da firme esperança para que não
sejam arrebentadas pela adversidade. Esta esperança deve ter duas
dobradiças para que a pessoa não se desespere em alcançar a glória ou
para escapar da punição, mas sempre em toda adversidade tenha a esperança
de coisas melhores, sendo confiante na misericórdia de Deus. A fechadura
deve ser a caridade divina que fortaleça a porta contra a entrada do
inimigo.
É bom ter uma porta sem fechadura ou uma esperança sem amor? Se alguém
tem esperança na recompensa eterna e na misericórdia de Deus, mas não ama
e teme a Deus, ele tem uma porta sem fechadura, pela qual seu inimigo
mortal pode entrar e matá-lo quando quiser. Mas a verdadeira esperança
ocorre quando uma pessoa que espera também faz as boas ações que pode.
Sem essas boas ações ela não pode alcançar o Céu, ou seja, se ela sabia e
podia fazê-las, mas não quis.
Se alguém percebe que ela cometeu uma transgressão ou não fez o que
podia, ela deve tomar a boa resolução de fazer o bem que puder. Para o
que ela não puder fazer, faça-a esperar firmemente que poderá chegar a
Deus, graças à sua boa intenção e ao amor para com Deus. Então, faça a
porta da esperança ser fortalecida pela caridade divina de tal forma que,
assim como uma fechadura possui muitos segredos para impedir que o
inimigo a abra, essa caridade para com Deus deve também mostrar a
preocupação de não ofender a Deus, o amoroso temor de ser separado dele,
o zelo ardente de ver Deus amado, e o desejo de vê-lo imitado. (Essa
caridade) deve mostrar também tristeza, para com uma pessoa que não pode
fazer o quanto ela gostaria de fazer ou sabe que é obrigada a fazer; e
mostrar a humildade, que faz uma pessoa pensar que é nada tudo o que ela
realiza, em comparação com seus pecados.
Faça a fechadura ser potente pelos segredos, para que o demônio não possa
facilmente abrir a fechadura da caridade e inserir seu próprio amor. A
chave para abrir e fechar a fechadura deve ser apenas o desejo por Deus,
junto com caridade divina e santas ações, para que a pessoa não deseje
ter nada além de Deus, mesmo se ela pode tocá-lo, e tudo isso por causa
de sua imensa caridade. Este desejo inclui Deus na alma e a alma em Deus,
porque suas vontades são uma.
Somente a esposa e o marido devem ter esta chave, ou seja, Deus e a alma,
de forma que, quando Deus quiser entrar e apreciar boas coisas, chamadas
virtudes da alma, ele pode ter livre acesso com a chave do constante
desejo; quando novamente a alma quer ir para dentro do coração de Deus,
ela possa fazê-lo livremente, já que ela não deseja nada a não ser Deus.
Esta chave é mantida pela vigilância da alma e pela custodia da sua humildade,
pela qual ela atribui a Deus, todos os bem que ela tem. E essa chave é
mantida também pelo poder e caridade de Deus, para que a alma não seja
vencida pelo demônio.
Veja, minha esposa, que amor Deus tem pelas almas! Então, fica firme e
faça a minha vontade.”
Palavras de Cristo à esposa sobre sua natureza imutável; sobre como suas
palavras são realizadas, mesmo se elas não são imediatamente seguidas por
feitos; e sobre como nossa vontade deve ser completamente confiada à
vontade de Deus.
Livro 2 - Capítulo 28
O Filho falou à esposa, dizendo: “Porque te entristeces pelo fato daquele
homem ter dito que minhas palavras eram falsas? Tu achas que fico pior
por causa de seu menosprezo ou melhor por causa de seu louvor? Eu sou,
certamente, imutável e não posso ser nem mais nem menos, e não tenho
necessidade de elogios. A pessoa que me louva ganha um benefício por seu
louvor a mim, não para mim, mas para si mesma. Eu sou a verdade, e a
falsidade nunca procede ou pode proceder de meus lábios, já que tudo que
o disse, através dos profetas, ou de outros amigos meus, em espírito ou
em corpo, é realizado como eu pretendo, no tempo.
Minhas palavras não foram falsas porque Eu disse uma coisa em certo
tempo, e outra em outro momento, primeiro algo mais explicito, depois
algo mais obscuro. A explicação é que, a fim de provar a segurança da
minha fé, e também o zelo de meus amigos, Eu revelei muito do que podia
ser compreendido de diferentes formas, tanto com bondade como duramente,
por pessoas boas e más, de acordo com os efeitos diferentes do meu
Espírito, dando, assim, a eles a possibilidade de executar vários atos
bons em suas diferentes circunstâncias.
Da mesma foram que em minha divindade, Eu assumi a natureza humana, como
um homem, também, algumas vezes, falei com a minha natureza humana, mas
submetida à minha natureza divina. Outra vezes, falei através da minha
natureza divina, como |Criador da minha natureza humana, como está claro
no meu evangelho. E desta forma, embora pessoas ignorantes ou caluniadoras
possam ver significados diferentes nelas, ainda elas são palavras
verdadeiras, de acordo com a verdade. Não foi também sem motivo para mim
revelar algumas coisas de uma maneira obscura, já que foi correto que o
meu plano fosse, de certa forma, escondido dos maus, e ao mesmo tempo,
que todas as pessoas boas pudessem, avidamente, esperar por minha graça,
e obter a recompensa por sua esperança. Por outro lado, se tivesse sido
indicado que meu plano aconteceria em um momento específico no tempo,
então todos desistiriam tanto de sua esperança quanto de sua caridade
devido à grande extensão de tempo.
Eu também prometi varias coisas que, entretanto, não ocorreram por causa
da ingratidão das pessoas que viviam naquele tempo. Se elas tivessem
deixado de lado sua maldade, Eu certamente, teria dado a elas o que
prometi. É por isso, que não deves ficar triste com a alegação de que as
minhas palavras são mentiras. Porque o que parece ser humanamente
impossível, é possível para mim. Meus amigos também estão surpresos que
as palavras não são seguidas por milagres. Mas isso, novamente, não é sem
sentido.
Moisés não foi enviado ao Faraó? Porém não foi imediatamente seguido de
sinais. Por quê? Por que, se os sinais e portentos seguissem
imediatamente, nem a dureza do Faraó nem o poder de Deus teriam sido
manifestados nem os milagres teriam sido claramente demonstrados. O Faraó
ainda teria sido condenado por sua própria maldade, mesmo se Moisés não
tivesse vindo, embora sua dureza não tivesse sido tão manifestada. Isto também
é o que está acontecendo agora. Portanto, sejas corajosa! O arado, embora
puxado por bois, é ainda dirigido pela vontade do arador. Da mesma forma,
embora possas ouvir e conhecer minhas palavras, elas não se ordenam ou
ocorrem de acordo com a tua vontade, mas de acordo com a minha. Eu
conheço a configuração da terra e como ela deve ser cultivada. Mas tu
deves confiar toda tua vontade a mim e dizer: “Seja feita a vossa
vontade!”
João Batista alerta a esposa através da parábola na qual Deus é simbolizado
por uma pega, a alma por seus filhotes, o corpo pelo seu ninho, os
prazeres mundanos pelos animais selvagens, o orgulho por aves de rapina e
a alegria mundana por uma armadilha.
Livro 2 - Capítulo 29
João Batista falou à esposa, dizendo: “O Senhor Jesus te chamou das
trevas à luz, da impureza à pureza perfeita, de um lugar estreito para um
amplo. Quem pode explicar estes presentes e como podes agradecê-los o
tanto quanto deves por eles? Apenas faça tudo o que puderes! Há um tipo
de ave chamado pega. Ela ama seus filhotes, porque os ovos dos quais os
filhotes vieram estavam antes em seu ventre. Esta ave faz um ninho para
si com coisas velhas e usadas, por três razões.
Primeira, como um lugar de repouso; segunda, como abrigo da chuva e da
pesada estiagem; terceira, a fim de alimentar seus filhotes quando eles
saem dos ovos. A ave choca sua cria sentando amavelmente em cima dos
ovos. Quando os filhotes nascem, a mãe os provoca a voar de três formas.
Primeira, pela distribuição da comida; segunda, por sua voz solícita;
terceira, pelo exemplo do seu próprio voo. Como eles amam sua mãe, os
filhotes, logo que se acostumam com a alimentação da mãe, primeiro se
deslocam pouco a pouco para alem do ninho com sua mãe mostrando o
caminho. Assim, vão mais adiante, conforme a força deles permite, até que
se tornem perfeitos na habilidade de voar.
Esta ave representa Deus, que existe eternamente e nunca muda. Do ventre
de sua divindade procedem todas as almas racionais. Um ninho de coisas
usadas é preparado para cada alma, já que a alma é unida a um corpo da
Terra, onde Deus a alimenta com comida de bons afetos, o defende contra
as aves de maus pensamentos, e lhe dá descanso da chuva de más ações.
Cada alma é unida ao corpo a fim de que ela possa controlar o corpo e, de
modo algum, ser controlada por ele e assim poder estimular o corpo a se
esforçar e a cuidar dela inteligentemente. Assim, como uma boa mãe, Deus
ensina a alma a avançar para coisas melhores e a ensina a sair do seu
confinamento para espaços mais amplos. Primeiro, ele a alimenta dando-lhe
inteligência e razão, de acordo com a capacidade de cada uma, e mostrando
para a mente o que ela deve escolher e o que ela deve evitar.
Assim como ums pega, primeiro leva seus filhotes para além do ninho,
assim também o ser humano, primeiro aprende a pensar nas coisas do Céu, e
também a pensar quão confinada e simples é o corpo do ninho, e como as
coisas eternas são brilhantes e deleitosas. Deus também leva a alma para
fora com sua voz quando chama: ‘Aquele que me segue terá vida; aquele que
me ama não morrerá.’ Esta voz os leva ao Céu. Qualquer um que não a ouve
é ou surdo ou ingrato ao amor de sua mãe.
Terceiro, Deus leva a alma para fora através de seu próprio voo, isto é,
através do exemplo da sua natureza humana. Esta gloriosa natureza humana
teve, com se fossem duas asas. Sua primeira asa foi aquela em que havia
somente pureza, sem nenhuma contaminação; sua segunda asa foi ter feito
bem todas as coisas. Com estas duas asas a natureza humana de Deus voou
sobre o mundo. Por este motivo, a alma deve segui-lo tanto quanto puder,
e se não puder fazê-lo por ações, deve, no mínimo, tentar fazê-lo na
intenção.
Quando o jovem filhote está voando, ele deve tomar cuidado com três
perigos. O primeiro são os animais selvagens. Ele não deve pousar próximo
a eles no chão, porque o filhote não é tão forte como eles o são.
Segundo, ele deve tomar cuidado com as aves de rapina, pois o filhote
ainda não voa tão rapidamente quanto aquelas aves, motivo porque é mais
seguro ficar em um esconderijo. Terceiro, ele deve tomar cuidado para não
ser atraído por uma armadilha com isca. Os animais selvagens que
mencionei são os prazeres e apetites mundanos. O jovem filhote deve tomar
cuidado com eles, pois parecem bons de se conhecer, agradáveis de
possuir, e belos de olhar. Mas quando ele pensa que conseguiu
alcançá-los, eles rapidamente vão embora. Quando ele pensa que lhes dão
prazer, eles o mordem sem misericórdia
Em segundo lugar, o filhote deve estar atento às aves de rapina. Estas representam
o orgulho e a ambição. Estas são as aves que sempre querem subir mais e
mais e estar à frente dos outros pássaros, e odeiam todos os outros atrás
deles. O filhote deve prestar atenção nelas e deve querer permanecer em
humilde esconderijo, para que não cresça orgulhoso da graça que recebeu
ou despreze aqueles que estão atrás dele e têm menos graça, e não pense
de si mesmo que é melhor que os outros. Terceiro, o filhote deve prestar
atenção em ser atraído por uma armadilha iscada. Esta representa a
alegria mundana. Pode parecer bom ter risos nos lábios e sensações
agradáveis no corpo, mas há um espinho nestas coisas. Risos imoderados
levam à alegria imoderada, e o prazer do corpo leva à inconstância da
mente, o que aumenta a tristeza, ou na morte ou antes, junto com aflição.
Então, minha filha, deves correr para deixar o ninho através do desejo do
Céu! Fique atenta sobre as bestas do desejo e os pássaros do orgulho!
Esteja alerta sobre o engodo da alegria vazia!
Então a Mãe falou à esposa dizendo: “Cuidado com a ave que está suja com
piche, porque qualquer um que a toque, fica manchado. Isto representa a
ambição mundana, instável como o ar, repulsiva em sua maneira de procurar
favores, e ter más companhias. Não cuide de ter honras, não te perturbes com
favores, não prestes atenção ao elogio ou à acusação. Destas coisas vêm a
inconstância da alma e a diminuição do amor a Deus. Sejas decidida! Deus,
que começou a te tirar do ninho, te alimentará até a morte. Após a morte,
entretanto, não terás mais fome. Ele também te protegerá da tristeza e te
defenderá na vida, e após a morte não terás nada a temer.”
A súplica da Mãe ao seu Filho por sua esposa e por outra santa pessoa;
sobre como a súplica da Mãe é recebida por Cristo, e sobre a certeza a
respeito da verdade ou falsidade em relação a santidade de uma pessoa
nesta vida.
Livro 2 - Capítulo 30
Maria falou a seu Filho dizendo: “Meu Filho, conceda à sua nova esposa o
presente de que seu preciosíssimo corpo possa se enraizar em seu coração,
de forma que, ela mesma possa seja transformada em ti e ser preenchida
com teu deleite!” Então ela disse: “Este santo homem, quando estava
vivendo no tempo, foi tão firme na fé como uma montanha ilesa na
adversidade, não distraído pelo prazer. Ele foi tão flexível à tua
vontade quanto o ar que se move para onde a força do teu Espírito quer
conduzi-lo. Ele foi tão ardente em teu amor quanto o fogo, aquecendo os
crescidos no frio e atingindo os maus. Agora sua alma está contigo na
glória, mas o vaso que usou está enterrado e descansa em um lugar mais
humilde do que é digno. Portanto, meu Filho, eleve seu corpo para uma
posição mais digna, faça essa honra, porque ele te honrou em seu próprio
pequeno caminho, eleve-o, porque ele te elevou ao alto tanto quanto pôde
por meio de seu trabalho!”
O Filho respondeu: “Abençoada és tu, que nada negligencias nos assuntos
de seus amigos. Veja, Mãe, não é certo dar o bom alimento aos lobos. Não
é correto enterrar na lama a safira que mantém todos os membros saudáveis
e fortalece o fraco. Não é bom acender uma vela para um cego. De fato,
este homem foi firme na fé e ardente na caridade, já que ele foi pronto
para fazer minha vontade com a maior moderação. Portanto, ele tem sabor
para mim como de alimento bom preparado pela paciência e pela tribulação,
doce e bom na bondade de sua vontade e afeições, ainda melhor em seus
viris esforços para melhorar, excelente e mais terno em seu louvável modo
de terminar seus trabalhos. Portanto, não é correto para tal alimento ser
exposto perante os lobos, cuja fala astuta é nociva para todos.
Ele parece a safira de um anel pelo brilho de sua vida e reputação,
provando ele mesmo ser um noivo de sua igreja, um amigo de seu Senhor, um
preservador da santa fé e um desprezador do mundo. Então, querida Mãe,
não é certo para tal amante da virtude e tão puro noivo ser tocado pelas
criaturas impuras, ou sendo um tão humilde amigo se relacionar com os
amantes do mundo. Em terceiro lugar, pelo seu cumprimento de meus
mandamentos e pelo ensino de uma vida boa, ele foi como uma lâmpada em
uma luminária. Através dos seus ensinamentos, fortaleceu aqueles que
estavam de pé para que não caíssem. Através de seu ensino ele levantou os
que estavam caídos. Assim também, ofereceu inspiração àqueles que podiam
vir a me procurar depois dele.
Os cegos pelo seu amor próprio são indignos de ver essa luz. Os que tem
os olhos doentes de orgulho são incapazes de perceber essa luz. Pessoas
com mãos infectadas não podem tocar esta luz. Esta luz é detestável para
os gananciosos e para os que amam sua própria vontade. É por isso que,
antes que alguem possa ser elevado a uma posição mais alta, a justiça
requer que os que não estão limpos sejam purificados e os que estão
cegos, iluminados.
De qualquer forma, com respeito a esse homem que as pessoas da Terra
estão chamando um santo, três coisas mostram que ele não era santo. A
primeira é que ele não imitou a vida dos santos antes de morrer; segunda,
que ele não estava alegremente pronto para sofrer o martírio por causa de
Deus; terceiro, que ele não teve uma caridade ardente e com discernimento
como os santos. Três coisas fazem uma pessoa parecer santa para o povo. A
primeira é a mentira de um homem enganador e insinuante; a segunda é a
fácil credibilidade dos tolos; a terceira é a cobiça e indiferença de
prelados e examinadores. Se ele está no inferno ou no purgatório não é
permitido que saibas até que chegue o tempo para isso.”
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Orações ás Santas
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