Oração a Santo
Antão
Ó Deus, que nos destes no
Abade Santo Antão um testemunho de perfeição evangélica, fazei-nos em
meio às agitações deste mundo, fixar o coração nos bens eternos. Por
Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso filho, na unidade do Espírito Santo.
Amém.
Vida de Santo
Antão:
Para conhecer a vida de
Santo Antão tem-se como texto fundamental a obra de Santo Atanásio. Fora
dela citam-se por vezes outras fontes, mas que não dão as mesmas
garantias de autenticidade. Com mais ou menos segurança se lhes atribuem
algumas cartas, ditadas por ele em todo caso, pois não sabia grego. Menor
segurança reveste a atribuição que de alguns apoftegmas se lhe faz
tradicionalmente. Fora de dúvida estão, no entanto, as notícias contidas
na carta que, por ocasião da morte de Santo Antão, escreveu ao amigo
deste, São Serapião, bispo de Thmuis (ob. entre 339 e 353), como
igualmente a menção do historiador Sozomeno (+ 439?) e o elogio de São
Gregório Nazianzeno (+ 389/390). Valem também as menções na literatura
pacomiana, ainda que por vezes adornadas com um traço bem legendário. As
datas da vida de Santo Antão são inseguras. A mais certa é a de sua
morte, no ano 356. Segundo a "Vida" (89,3), tinha nesta data
cento e cinco anos de idade. Ainda que semelhante idade, certamente não
comum, não seja de todo improvável na vida de um homem, pode, no entanto,
estar excedida em alguns anos. Sendo assim, Santo Antão teria nascido
entre 250 e 260. Como lugar de origem, costuma-se dar a aldeia de Coma
(Kiman-el-Arus), no Egito médio, perto da antiga Heracleópolis. Seus pais
eram camponeses abastados. Além de Antão, tinham uma filha. À morte dos
pais, o jovem, de uns 18 a 20 anos, vendeu a propriedade, por amor ao
Evangelho, distribuiu o dinheiro aos pobres, reservando apenas algo para
sua irmã, menor que ele. Posteriormente distribuiu também isso,
consagrando sua irmã ao estado de virgem cristã. Retirou-se ele à vida
solitária, perto de sua aldeia natal, segundo o costume da época. É a
etapa de sua formação monástica, de sua apaixonada dedicação à Escritura
e à oração; é também o período de seus primeiros encontros com o demônio.
Depois de um certo tempo, buscando uma confrontação mais direta com o
demônio, vai viver num cemitério abandonado, encerrando-se um mausoléu.
Ali sofre ataques violentíssimos dos demônios, mas sem se deixar
amedrontar, persevera em seu propósito. Assim chega aos 35 anos.
Empreende então a separação decisiva: vai para o deserto. A "Vida"
assinala esse passo como algo totalmente insólito nessa época (11,1).
Santo Antão cruza o Nilo e se interna na montanha, onde ocupa um fortim
abandonado. Ali passou quase vinte anos (14,1), não se deixando ver por
ninguém, entregue absolutamente só à prática da vida ascética.
Pressionado pelos que queriam imitar sua vida, Santo Antão abandona a
solidão e se converte em pai e mestre de monges. Conta cinqüenta e cinco
anos, e junto ao dom da paternidade espiritual, Deus lhe concede diversos
outros carismas. Em torno dele forma-se uma pequena colônia de ascetas
(44). Nesta etapa conta-se também a descida de Santo Antão e de seus
discípulos a Alexandria, por ocasião da perseguição de Maximino Daia
(311), para confortarem os mártires de Cristo ou ter a graça de sofrerem
eles próprios o martírio. Voltando à solidão, encontrou-a povoada demais
para seus desejos. Fugindo então à celebridade, Santo Antão chega ao que
a "Vida" chama "Montanha interior" (a
"Montanha" exterior, ou Pispir (Deir-el-Mnemonn) havia sido até
então sua residência, e nela permanece a colônia de seus discípulos), o
Monte Colzim, perto do Mar Vermelho. Apesar de tudo, de vez em quando
visita seus irmãos, e estes vão a ele. A "Vida" coloca neste
tempo a maioria dos prodígios que lhe atribui. A pedido dos bispos e dos
cristãos, empreende segunda vez o caminho de Alexandria, para prestar seu
apoio à verdadeira fé na luta contra o arianismo. Os últimos anos de sua
vida passou em companhia de dois discípulos. Vaticina sua morte, faz
legado de suas pobres roupas e roga a seus acompanhantes que não revelem
a ninguém o lugar de sua sepultura. Gratificado com uma última visão de
Deus e de seus santos, morreu em grande paz. Ainda que a "Vida"
diga explicitamente que Santo Antão não foi o primeiro anacoreta (3,3-5;
4,1-5), sustentando, por outro lado, que foi o primeiro a retirar-se ao
deserto do Egito (11,1), e ainda que, além disso , seja muito difícil
assinalar origens e iniciadores precisos num movimento humano tão
complexo como o monástico, contudo, a figura se sobressai em forma tão
extraordinária, que com razão é ele considerado pai da vida monástica e,
especialmente, como modelo perfeito da vida solitária. Sua fama já em
vida, acrescentada depois de sua morte sobretudo através das páginas da "Vida",
é inteiramente justa. Ao celebrar sua festa, de acordo com muito antigas
tradições, a 17 de janeiro, os cristãos reconhecemos o poder de Deus
entre os homens, a força de sua sabedoria ao deixar-nos um exemplo em
homem tão humilde, o dom de seu Espírito multiforme com a discrição e o
alento fraterno do grande ancião.
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