”Amo porque amo!” - Texto de São Bernardo de Claraval
1090-1153 - Celebra-se a 20
de Agosto. Doutor da Igreja -
São Bernardo de Claraval era olhado como “o pai dos fiéis, a Coluna da Igreja,
o apoio da Santa Sé, o Anjo tutelar do povo de Deus”. Foi
chamado pelo Papa Pio XII: "O
Último dos Padres da Igreja, mas não o Menor".
“O amor basta-se a si mesmo, em si
e por sua causa encontra satisfação. É seu mérito, seu próprio prêmio. Além
de si mesmo, o amor não exige motivo nem fruto. Seu fruto é o próprio ato
de amar. Amo porque amo, amo para amar!
Grande coisa é o amor, contanto
que vá a seu Princípio, volte à sua Origem, mergulhe em sua Fonte, sempre
beba donde corre sem caçar.
De todos os movimentos da alma,
sentidos e afeições, o amor é o único com que pode a criatura, embora não
condignamente, responder ao Criador e, por sua vez, dar-lhe outro tanto.
Pois quando Deus ama não quer outra coisa senão ser amado, já que ama
para ser amado; porque sabe que serão felizes pelo amor aqueles que o
amarem.
O amor do Esposo, ou melhor, o
Esposo-amor somente procura a resposta do amor e a fidelidade. Seja
permitido à amada responder ao Amor! Por que a esposa - e esposa do Amor
– não deveria amar? Por que não seria amado o Amor?
É justo que, renunciando a todos os
outros sentimentos, única e totalmente se entregue ao amor, aquela que há
de corresponder a ele, pagando amor com amor. Pois mesmo que se esgote
toda no amor, que é isto diante da perene corrente do amor do outro?
Certamente não corre com igual abundância o
caudal do amante e do Amor, da alma e do Verbo, da esposa e do Esposo, do
Criador e da criatura; há entre eles mesma diferença que entre o sedento
e a fonte.
E então? Desaparecerá por isto e
se esvaziará de todo a promessa da desposada, o desejo que suspira, o
ardor da que a ama, a confiança da que ousa, já que não pode de igual
para igual correr com o gigante, rivalizar a doçura com o mel, a brandura
com o cordeiro, a alvura com o lírio, a claridade com o sol, a caridade
com aquele que é a caridade?
Não. Mesmo amando menos, por ser
menor, se a criatura amar com tudo o que é, haverá de dar tudo. Por esta
razão, amar assim é unir-se em matrimônio, porque não pode amar deste
modo e ser menos amada, de sorte que no consenso dos dois haja íntegro e
perfeito casamento. A não ser que alguém duvide ser amado primeiro e
muito mais pelo Verbo”.
São Bernardo de Clavaral, Abade e
Doutor, Sermo 83, 4-6 in Opera Omnia (Editiones Cistercienses 2, 300-302)
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